FILOSOFARTE
Uma contribuição à "arte de filosofar" em busca da sabedoria ao encontro de nossa "consciência" planetária.
segunda-feira, 3 de julho de 2023
A Ler: A arte de fazer perguntas
A Ler: A arte de fazer perguntas: Como é que empresas como Google, a Nike e a Netflix se “alimentam” da capacidade de fazer perguntas? Isso foi o que o jornalista Warren Berger...
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
domingo, 16 de setembro de 2018
O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA
O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA
“A filosofia é um
despertar para ver e mudar o mundo” (Merleau-Ponty)
Uma jovem
estudante de filosofia no ensino médio ao ser inquietada com a pergunta para
quê filosofia? Disse aos colegas da sala que filosofia é a componente
curricular em que “o professor navega e os alunos bóiam”, ela não deixa de ter
razão; mas “o boiar” tem diversas causas: os jovens foram impedidos de serem
pensadores a não ser quando assumia esta tarefa a revelia, outros professores
constataram esta mesma problemática e compactuam da ideias de que é a filosofia
é o componente curricular que devolverá
ao jovem a ousadia de protestar de forma inteligente e exercer sua cidadania
ativa, mas este salto de qualidade tem como protagonista os próprios jovens
estudantes de filosofia. É tarefa da filosofia:
ü Estimular
o espírito crítico sem assumir atitude dogmática e/ou doutrinária;
ü Valorizar
no educando a busca de uma “atitude filosófica” face às questões de diversos
âmbitos em vista de proporcionar uma reflexão crítica e formadora de opinião
dialética;
ü Debater
tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição em
face de argumentos mais consistentes;
É obvio que o
ensino de filosofia só a partir do ensino médio não é a solução! Há muitas
experiências de filosofia para as crianças, à volta de uma componente
curricular que estava ausente da vida escolar (a filosofia) contribuirá para
que os jovens percebam que existe uma pluralidade de teorias filosóficas,
discussões sistemáticas e metódicas que lhes possibilitarão uma melhor visão de
mundo e da realidade, ajudando-os a exercitarem o senso crítico, ou seja: a
restituir-lhes o rigor no pensamento e o desenvolvimento cultural.
É uma incumbência
da educação contribuir na formação do ser humano em todas suas dimensões. Neste
campo a filosofia cooperará, pois cada um deverá ocupar o seu irrenunciável
espaço no mundo, realizando assim, seu projeto existencial e, desta maneira
resgatando a sua cidadania enquanto sujeito consciente, crítico e construtivo
no interior do corpo social.
A filosofia se
propõe a auxiliar os educandos na descoberta de sua vocação filosófica,
despertando nos mesmos as seguintes atitudes fundamentais: admiração, a dúvida
metódica, a insatisfação moral e ainda a indignação ética.
É também tarefa
da filosofia na educação auxiliar-nos na compreensão do ser humano, na
complexidade das organizações sociais; sobre o espírito de cidadania, sobre o
voluntariado; sobre a solidariedade; corresponsabilidade; etc... e a realidade
passível de mudanças.
Para
desenvolver tais habilidades nossos jovens precisam acordar e decidir pela
racionalidade filosófica assumindo novas posturas tais como:
Aprender,
gostar e amar a leitura: sabemos que a maioria dos jovens lê pouco e tem
dificuldade de compreenderem o que lê;
Cuidar da
atenção: muitos dos jovens estudantes não conseguem se desligar para
sintonizar, eles estão em mil lugares menos na escola preocupados com o estudo;
Trabalhar em
grupo: tem dificuldade de estabelecer e respeitar normas de convivência e de
relacionalidade e aqui a intervenção do dos educadores é muito importante neste
processo de apropriação do saber de forma coletiva;
Fazer conexões:
há uma grande dificuldade de relacionar o estudo com os fatos do cotidiano e
até dos fatos sociais;
Eu acredito que
esta problemática só será resolvida quando os jovens se enamorarem da leitura
dos textos, tiverem acesso a bibliotecas com subsídios didáticos e
paradidáticos, terem condições e espaço de leitura e, após a leitura, poderem
parar para elaborar por escrito o que se apropriou de modo reflexivo; e, ainda;
articular os conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções
culturais;
Contextualizar
conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em
outros planos: o pessoal-biográfico; no entorno sócio-político, histórico e
cultural; o horizonte da sociedade científico tecnológico.
Por mais que se
tente fazer com que eles assumam esta nova postura diante do estudo de
filosofia a maioria parece apática o que levou uma jovem estudante dizer que
“só iremos perceber a importância da filosofia quando descobrirmos que perdemos
o tempo, não a valorizando desde esta oportunidade que ora estamos tendo”.
Mas a sensatez
faz me dispor também de outras observações vindas de outros contextos, mas que
podem ajudar-nos.
Diz-me outra
interlocutora: “o grande problema das observações feitas sobre os mais jovens,
é que tais observações não são feitas por pessoas “mais jovens”; por pessoas
que já foram adolescentes um dia, e que cresceram e ao crescerem viveram a
vida, correram, esperaram, experimentaram.
E, por tanto
viver, correr e principalmente experimentar aprenderam. Aprenderam a ter mais
paciência, a serem mais perseverantes, a serem ousados dentro do limite da
segurança e do possível. Aprenderam que é preciso silêncio para apreciar a
beleza da música, que é preciso calar para melhor ouvir, que é preciso
concentração para poder pensar. Aprenderam (ou pensam que aprenderam) a distinguir
o bom do mau, o perigoso do seguro e por essa razão acreditam que podem ajudar
os mais jovens a “saltar determinados obstáculos” que poderão trazer-lhes dor e
sofrimentos às suas vidas. Acreditam que do alto de sua sabedoria, oriundas das
experiências já vividas, poderão ajudá-los a trilhar pelos caminhos menos
tortuosos e, portanto, mais felizes. Os adultos têm certa razão.
Ocorre, porém,
que tais pessoas, também conhecidas como adultas, muitas vezes se esqueceram
que a juventude é acima de tudo a idade do experimento, das descobertas, das
mudanças e das buscas.
Por mais nobres
que sejam nossas intenções, não podemos frear a energia que impulsiona os
jovens à “pesquisa”, ao experimento que os levam a descobertas.
Penso que de
certa forma seria muito bom poupá-los de transtornos que atitudes impensadas
podem trazer, entretanto, não posso deixar de pensar que ao mesmo tempo
estaríamos impedindo-os de viver efetivamente, ou pelo menos lhes tirando o
doce gosto que a vida tem quando ainda não fomos moldados (para não dizer
aprisionados) pelos ditames impostos por uma sociedade decadente e hipócrita,
onde só rimos no momento certo (ainda que não seja engraçado) e só choramos quando
for conveniente.
Deveríamos
lembrar mais vezes que “é errando que se aprende” e assim aprendermos a adotar
uma postura diversa da que ora temos, orientando sempre os jovens para a vida,
contudo, sem impedi-los de viver.
O “livre
arbítrio”, é dom de Deus e foi dado a todos como a capacidade de escolher, os
jovens também estão aí inclusos. Assim, não cabe aos mais velhos escolher por
eles, mas, através de atitudes (mais do que palavras) ajudá-los a escolher, a
decidir - fundado no respeito e na responsabilidade, sem nunca perder seu jeito
“jovialmente faceiro” de viver.
Mas se nós
(adultos) estamos contribuindo através do pensamento filosófico no meio
juvenil, vejo como um momento de oportunidade única para a juventude – que tem
muita dificuldade para pensar antes de agir”.
Se os jovens
justificam que “é errando que se aprende” digo que necessariamente não é
preciso errar para aprender
Se os jovens
fazem aquilo que lhes vem à mente, digo que o agir impulsivo freia a capacidade
de racionalidade.
É preciso ter
os pés no chão buscando sempre distanciar das aventuras que nos tiram da
realidade e não nos aterriza na realidade da vida.
Se a
racionalidade é o dom mais precioso do ser humano, que nos distingue do animal,
é agora a hora de agirmos racionalmente medindo sempre as conseqüências de
nossas ações.
Acredito que em
um ambiente filosófico, todos poderão ter voz e vez e os jovens encontrarão
respostas aos diversos problemas que precisam de uma mediação. Creio que os
professores de filosofia (não excluindo os demais, é claro) poderão ser os
interlocutores de diversos problemas no meio juvenil. É por isso que os jovens
precisam aprender a agora de falar e de calar, pedindo sempre a palavra e
respeitando a vez do outro, não podemos, em grupo, salas superlotadas, falar
todos ao mesmo tempo, mas se organizarmos todos poderão ter seu espaço de
expressão do pensamento colaborando assim com a construção de sujeitos capazes
de tomar decisões e não apenas de apertar botões.
A juventude é uma fase – talvez a inesquecível para muitos, mas também
amarguradas para tantos outros, a vida é sempre uma oportunidade e o que nos
espera é sempre uma surpresa, a próxima estação é a maturidade, mas suas raízes
são fortalecidas na juventude, pois o mundo adulto nos espera. Não dá para ter
certeza do futuro, o que existe é o presente – é agora a hora de optar e assumir
a caminhada com maior convicção, sem vergonha de olhar para o passado.
Como falara um poeta anônimo que “a vida nos é dada para grandes feitos”.
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
Freire. Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa, 30ª ed. São Paulo. Paz e Terra, 2004. 148p.
Resenha
Freire. Paulo.
Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa, 30ª ed. São
Paulo. Paz e Terra, 2004. 148p.
Por José
Igídio dos Santos
Faremos neste texto uma resenha que apresente as principais ideias
defendida que o Pedagogo Paulo Freire expressa em seu livro pedagogia da
Autonomia - saberes necessários à prática educativa.
No plano estrutural o autor
utiliza o método dialético para apresentar sua teoria pedagógica de como o
professor pode ajudar os educandos a construir a autonomia do seu saber em sala
de aula. A linguagem usada é acessível com atenção à hermenêutica
A introdução ressalta alguns aspectos práticos da pedagogia do professor
em relação ao desenvolvimento da autonomia dos educandos. Enfatiza a
necessidade de acolher e respeitar o conhecimento que os educandos trazem para
escola, por serem sujeito histórico e social, e trazem consigo
vários saberes de contextos vivenciais. O educador ao valorizar esse
conhecimento prévio impulsionará os educandos a desenvolvê-lo de forma
otimizada. Proceder desta forma possibilitará ao professor uma atitude global
que fará a diferença na vida do educando.
No cap. 1, Paulo Freire apresenta a tese de que “não existe
docência sem discência”, assume uma perspectiva na qual a
educação torna-se uma via de mão dupla – sugerindo ao educador uma dinâmica
pessoal focada na aprendizagem – ser um aprendiz aberto ao processo de aprendizagem
a partir da realidade de seus educandos. Para operacionalizar esta dinâmica é
preciso que o docente tenha uma metodologia rigorosa da qual possa extrair a
autoconsciência de seu papel em sala de aula, implementando as aulas com a
perspicácia e agudeza de espírito ao ministrar a aula. Para tanto, faz-se necessário que o professor, no preparo da aula, consiga
pesquisar sobre os assuntos da qual ela versará ao ministrar a mesma e,
desta forma, os discentes
buscarão o desenvolvimento de pesquisas em áreas de interesse em vista de
alcançar maior autonomia de pensamento face a uma proposta educacional que se
opõe à educação bancária. Com o enfoque didático da pesquisação, há que
se respeitar o conhecimento prévio e vivencial do educando em sala de aula,
incitando-os a desenvolverem uma atitude crítica face aos saberes constituídos
ou provenientes do senso-comum como verdade absoluta; procurando assim,
filtrar as informações a partir de critérios analíticos para aceitá-los
ou não. Ao docente é fundamental a coerência didática entre o teórico e o
prático, pois para o discente ele é modelo. A multiplicidade de metodologias
pode ajudá-lo no desenvolvimento de atividades educativas capazes de atingir os
educandos. Cabe ao educador analisá-las criticamente e adotar em sua prática a
metodologia mais adequada para a turma, procurando discernimento para mudar a
proposta quando esta não corresponder às expectativas do processo educacional; sem,
contudo, deixar de abordar as questões fundantes para a construção de uma
educação inclusiva e democrática. Valorizando temas como multiculturalismo e
favorecer o reconhecimento da diversidade étnica na trajetória educacional
reconhecendo a alteridade.
No Cap. 2, Paulo Freire defende a ideia de que “ensinar
não é transferir conhecimento” e sim “criar possibilidades
ao aluno para sua própria construção” uma vez que em sua concepção o
professor não é “dono das verdades absolutas e inquestionáveis”,
sua tarefa é auxiliar o educando ao desenvolvimento de seu pensamento;
ressalta que o conhecimento é inacabado é daí a perspectiva de que os
educadores e educandos deverão adotar uma atitude de aprendizes em busca de
novos conhecimentos; nunca esquecer dos condicionamentos históricos, cultural e
temporal, sendo necessário que o pensamento possa desenvolver-se ao longo do
tempo com a consciência de que os educandos também estão presos à sua
realidade, impulsionando-os a refletirem sua própria existência; Paulo Freire
acentua que devemos respeitar o tempo de aprendizagem de cada educando
pois cada um tem o seu momento e hora certa para se encaminharem na vida; o
autor afirma ainda que, como educador devemos usar o bom senso em relação às atividade em sala de
aula adequando-as ao tempo de seus alunos; é importante a
consciência de classe e que os professores deverão se sensibilizar às
reivindicações de seus colegas por melhores condições de trabalho; além
disso, ter consciência da realidade em que está trabalhando para que possa
desenvolver seu trabalho de forma situada; os profissionais da educação que
optam por licenciaturas deve ser um espírito otimista, pois seu trabalho
visa melhorar o mundo, com a convicção de que, a mudança é possível,
tendo repercussão social e, sua forma de
vida, dá aos educandos consciência
de transformação pessoal e social; ao finalizar esse capítulo podemos
dizer que todo educador deve ter uma curiosidade aguçada, pois somente dessa
forma vai poder conhecer o perfil geral da turma capacitando-o para fazer
uma proposta para cada uma delas.
No Cap. 3, Paulo Freire nos diz que “ensinar é uma
especificidade humana” ao pedagogo é necessário boa preparação,
qualificação e habilidades que lhe proporcionará segurança intelectual
para no exercício de sua atividade docente. Para que o educando possa
superar sua ignorância é fundamental que o educador supere as suas próprias
ignorâncias. O dia-a-dia com os estudantes no contexto de aprendizagem é
imprescindível pois cabe ao professor intervir no mundo de forma democrática e trabalhar
em vista da liberdade de tomar decisões conscientes, assumindo
responsabilidades educativa. A escuta dos educandos é necessária e visa o
aprofundamento da arte da docência e neste ínterim, superar sua a ingenuidade
sem deixar de considerar que a educação é uma ideologia, na obra freiriano
percebe-se uma nítida influência marxista. Ao ensinar o educador deve tornar-se
disponível para todas as questões dos estudantes respondendo às suas
inquietações propiciando um diálogo fecundo, aguçando o bem-querer entre
docentes e discentes. A obra é um subsídio para ser lido por todos os
profissionais em educação licenciado ou não.
sexta-feira, 25 de maio de 2018
CONSCIÊNCIA POLÍTICA: O CRIVO PELO VOTO
CONSCIENCIA POLÍTICA: O CRIVO PELO VOTO
José
Igídio dos Santos [i]
“O preço a pagar pela tua não
participação na política é seres governado por quem é inferior”. Platão. (c.
428-347 a.C).
A compreensão sobre a política, remete à sua
etimologia que é haurida do grego antigo e faz referência às práticas e ações vinculadas
à pólis, ou à cidade-estado, em
sentido amplo, pode referir-se tanto
a Estado, quanto à sociedade; e em sentido estrito à comunidade e procedimento
de definições do que se refere à vida humana.
Contemporaneamente
Hannah Arendt, filósofa alemã (1906-1975), caracterizava a política como
"convivência entre diferentes", pois baseava-se "na pluralidade
dos homens", fundamentando o entendimento de que é necessário respeito à alteridade em relação a pluralidade e tal propósito implica aceitar
a coexistência de diferenças, pois a igualdade a ser alcançada através do exercício de interesses,
quase sempre conflitantes, é a liberdade e não a justiça, pois a liberdade
distingue "o convívio dos homens na pólis
de todas as outras formas de convívio humano bem conhecidas pelos gregos"
( ARENDT, p.12, 2002)
Na
percepção de Nicolau Maquiavel (1469-1527) historiador, filósofo e político
italiano, em sua obra "O Príncipe" que se tornou
um manual sobre a arte de governar, apresenta o caminho para a manutenção no
poder com máxima de que “os fins justificam os meios” , tal compreensão ressalta,
entre outros aspectos, que a política fundamenta-se em desenvolver estratégias
para o exercício do poder, ser aceito pelos súditos e ainda conquistar o amor
dos concidadãos pelos quais o príncipe deve ser amado e temido simultaneamente,
dessa forma conquistaria a arte da governabilidade.
Na
epígrafe deste ensaio, retomo a concepção de Platão (427 a.C. - 347 a.C.) filósofo do período
clássico da história da filosofia, discípulo de Sócrates,
exímio escritor de diálogos que deu voz a seu mestre Sócrates, que nada
escreveu, é construtor de um pensamento próprio, desde a “República”,
considerada a primeira Utopia da história. Era visionário de
uma proposta de sociedade fundamentada no modelo organicista, em que cada qual
deve exercer a função a que é destinado, a partir dos estamentos, mas com
possibilidade de ascensão social por meio da educação.
No
Brasil, a atual situação política, parece impor aos cidadãos a necessidade de
adotar propósitos para uma ação democrática que inclui não exclusivamente, mas
essencialmente a sua participação nas decisões dos rumos do País, do Estado membro
e a seu tempo também dos Municípios. Essa tomada de decisão se insere num
contexto de desilusão com a política. É notório ao acompanharmos os noticiários
midiáticos os fatos e atos políticos que são escandalosamente apresentados, nos
deixando indignados, pois a maioria dos políticos fizeram da missão de servir na
“administração pública” uma empresa pessoal, na qual seu interesse e interesse de
seus aliados se sobrepõem ao ideário da política concreta – servir a todos os
cidadãos.
A sociedade atual é como um barco à deriva,
lhe falta engajamento, o país está vivenciando um momento de apatia social, em que a população assume posturas tais como:
“não vi”, “não ouvi”, “não sei dizer” e devido aos muitos escândalos e
impunidade presentes nos três poderes, favorecendo sobretudo aos políticos
corruptos e os corruptores dos mais diversos nichos sociais, de empresários à
instituições públicas, vê-se posturas de apatia política, e tais posturas
têm se tornado prejudiciais ao desenvolvimento da cidadania plena, que
requer nossa participação na política, tanto afetiva como efetivamente,
pautando nossa prática cidadã em critérios éticos e morais, em vista de uma sociedade
justa e equânime.
Contemporaneizando
Platão, nossa omissão em participar da política traz um prejuízo social que é
pago com mal serviço prestado à população. E, sabemos muito bem que é por meio
do voto de assinamos uma procuração com amplos poderes para proporcionar a
todos uma vida cidadã implementada pelas ações dos políticos no Legislativo que
criarão as leis e do Executivo colocarão em prática as ações sociais e
políticas públicas que devem tornar a vida dos brasileiros mais agradável.
Nossa
escolha é para o mínimo de quatro anos com consequências mais duradouras que
este período, daí a necessidade de levar a sério o voto, para tanto, é imprescindível
que nos preocupemos em analisar a vida pregressa dos candidatos que se dispuseram a concorrer para assumir a função
pública, com o nosso voto delegamos à alguns a missão de nos representar e dessa forma devemos nos comprometer a não escolher
pessoas inexperientes, inescrupulosas, ignorantes e incompetentes para dirigir os rumos da sociedade e de nossas
vidas, pois sabemos que “o voto não tem
preço, tem consequências”.
Uma
preocupação que deve nos acometer sempre é que vivemos em uma sociedade do
espetáculo, do voyeurismo, na qual grande
parte da população adota uma postura de distanciamento da política, deixando de
lado a oportunidade de auxiliar na escolha dos rumos do nosso país. O processo
de alienação se instaura quando por exemplo, um número considerável de
brasileiros vê passivamente programas de reality
show, tal como BBB, analisando a vida dos participantes do programa e
votando os destinos dos mesmos. Esses mesmos adeptos do voyeurismo não
conseguem, em momento de campanha eleitoral, ver e ouvir quais são as propostas
dos candidatos que venham ao encontro dos anseios da população, para então
analisar se há correspondência entre a sua candidatura e os anseios do povo
independentemente da sigla partidária.
Obviamente
que não é só o horário eleitoral um balizador de nossas escolhas , alia-se a este
uma pesquisa sobre o candidato, suas atitudes sociais, seus planos e propostas
de gestão da coisa pública, e mesmo assim procedendo não há certeza de que faremos
a escolha correta, portanto, torna-se imprescindível que acompanhemos aqueles aos
quais elegemos durante o seu mandato,
cobrando a execução das proposições feitas durante o período de campanha, mas
infelizmente muitos eleitores, escolhem em quem
votar no dia da eleição por meio de
escolhas aleatoriamente e votam em qualquer “ santinho” abandonados próximos aos locais de votação.
A
conscientização acerca da importância e valor do voto é uma bandeira que a
sociedade precisa abraçar, demonstrando o seu caráter inviolável,
incorruptível, promotor da justiça social, superando o modelo clientelista que
faz de muitos “eleitores” vendedores de suas consciências. É chegado o momento
de fazer das eleições a elevação do nível de conscientização social e política
para que as elites oligárquicas que fizeram da política um “emprego certo’
possam ser desbancadas pela arma mais poderosa que nós temos. É o voto
consciente, refletido que nos auxiliará a melhor selecionar nossos
representantes na esfera política que, acompanhado pelos cidadãos serão fiscalizadores
dos resultados de seus feitos.
Bibliografia consultada
ARENDT, Hannah. O que é política? / Hannah Arendt; Ed; Ursula Ludz, trad. Reinaldo Guarany. - 3'
ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 240 p.
PLATÃO. A República. Col. Os pensadores, Trad.
Maria Helena da Rocha pereira. 9° edição. 2005
MAQUIAVEL. N. O
Príncipe . Col. Os pensadores, ed.
Nova Cultural, 1999.
[i] Licenciado em Filosofia (UNICLAR),
Especialista no ensino de Filosofia
(UFSCar-SP) , Especialista
em PIGEAD - Planerjamento e Implementação da EAD (UFF),
Bacharel em Teologia, Psicopedagogo, Tecnólogo Superior em Gestão Pública.
domingo, 31 de dezembro de 2017
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
A Revanche de Deus: Cristãos, judeus e muçulmanos na reconquista do mundo
Kepel, Gilles. A Revanche de Deus: Cristãos, judeus e muçulmanos
na reconquista do mundo; trad. J.E. Smith Caldas, São Paulo, Ed. Siciliano,
1991, 243p.
Por: José Igídio dos Santos
Constata o A. que “a década de 70 foi o
auge do processo de mutação nas relações entre religião e política desse último
quarto século... a década de 60 parece ter havido uma distensão do elo que
ligava a religião à ordem da cidade, de um modo que deixou os clérigos muito
preocupados... (p.11)”. “O propósito do livro limita-se aos domínios de três
religiões “abrâamicas”, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, embora o
hinduísmo e o xintoísmo apresentem no seu desenvolvimento recente alguns traços
comparáveis ao que se produz nas três “religiões do Livro” ... trata-se
simplesmente de propor marcos de referência para tentar uma reflexão
transversal sobre o fenômeno como um todo” (p.12-13).
“A crise da década de 70 bloqueou os
mecanismos de solidariedade gerados pelo Estado de Providência e pôs a nu
angústias e misérias inéditas.... nem todos os movimentos religiosos de hoje,
mesmo quando querem ultrapassar a modernidade por objetivo a curto prazo a
tomada do poder e a transformação revolucionária da sociedade ... apresentam
certo número de diferenças em si. (p.15-16)”.
“O judaísmo rejeita uma definição
em termos de simples filiação, na década de 70 emergiram ... no cenário
político” ... no catolicismo (religião cristã) após conclave e escolha
do Cardeal Karol Wojtyla para o pontificado ... enfatiza o princípio de “testemunhar pela experiência
comunitária a necessidade de reencontrar Deus e salvar os homens e indicar o
caminho da reconstrução da sociedade com
base nos preceitos cristãos” (p.18), o Islamismo com a volta de aiotolá
Khomeini a Teerã, ... o ataque da Grande Mesquita de Meca ... são
acontecimentos que manifestam aos olhos do mundo inteiro o potencial político
encoberto nessa religião ... que “reivindica um rompimento cultural com a
lógica da modernidade secular... é necessário “dissociar as técnicas dos
valores da secularização, a fim de promover uma ética de vida dominada pela
submissão da razão a Deus”(p. 17).
Esses movimentos começam a se fazer notar
a partir de meados da década de 70... “a
construção do socialismo no Oriente e o nascimento da sociedade de consumo no
Ocidente deixam muito pouco espaço à expressão de ideologias que recorrem ao
divino para explicar as lógicas de ordem social... os fiéis têm de se engajar
em defender o mundo livre ou o socialismo, o que leva lentamente a
subordinar a fé à realização dos ideais terrenos subordinar o além com as coisas daqui” (p.20-21).
Note-se que a hipótese deste trabalho
mostra que: “.... o discurso e prática desses movimentos são portadores de um
sentido; não são produto de um desregramento da razão nem de uma manipulação
por forças obscuras, são o testemunho insubstituível de um mal social profundo
que as nossas categorias tradicionais de pensamento não permitem decifrar. ...
são ... filhos indesejados, bastardos da informática e da falta de emprego ou
da exploração demográfica e da alfabetização, com as suas crises e queixas a nos
incitar a procurar em nosso fim de século a sua paternidade, a sua genealogia
inconfessada” (p.22-23).
No capítulo 1: “O Gládio e o Corão”, dos países muçulmanos da bacia do Mediterrâneo e arredores, os
movimentos de reislamização seguem a sequência cronológica dos grupos marxizantes na constestação de valores
básicos da ordem social” (p.25). Há a contestação marxista para a “ruptura”
islamita, ... “pois as leis de mercado encontram seus limites na persistência
de mecanismos de feudalidades e no desenvolvimento da corrupção em grande
escala... (p.27). Pois “a Palestina se transforma em símbolo da resistência a
Israel e ao Imperalismo ocidental’ ... para tanto emerge os “movimentos de
reislamização contemporâneos” sustentada por Sayyid Qutb após a guerra árabe-israelense em 73,
“desorganizando o equilíbrio da economia internacional, alicerçou as aspirais
da inflação e do desemprego que desestabilizaram os sistemas sócio-políticos,
especialmente no ocidente, e levou a um esboroamento da sociedade e a um
afrouxamento dos elos de solidariedade e proteção social” (p.36).
O processo revolucionário de tomada do
poder ( reislamização “pelo alto”) no Islamismo com o intuito de reislamização
se dá entre a década 70 e meados de 80, e corroborada em 1979. “A reislamização
“pelo alto” tem por finalidade reislamizar a sociedade como um todo e reislamização “por baixo” consiste
no esquadrinhamento espacial e temporal de fragmentos da sociedade” (p.49). É
uma maneira de reconstruir uma
identidade num mundo que ficou indecifrável, desestruturado e alienado.
“No fim da década de 80 os movimentos de reislamização “por baixo” estavam à
testa de várias redes comunitárias poderosas que chegavam a controlar bairros
inteiros... intermediárias entre os poderes públicos e os grupos sociais
marginalizados” (p.52). Em 1990 este
movimento de reislamização arrasta a maioria num país muçulmano onde há
eleições livres. Concluo que no
Islamismo “pelo alto” é enfatizado a
dimensão política, com enfretamento da repressão dos Estados, mas o Islamismo
“por baixo”, investem seu ativismo na vida cotidiana... procurando garantir a
paz social.
No cap. II - “ Europa, terra de missão”
Constata o A. que neste último quarto do séc. XX “parece que a sociedade jamais
foi tão maciçamente secularizada e descristianizada, e no entanto nascem
movimentos de recristianização por todos os cantos” . Ao passo que o Concílio
Ecumênico Vaticano II quis esforça-se por formular a mensagem católica na
linguagem da sociedade secular com a qual compartilha vários ideais... com o
cuidado de situar-lhes a origem na doutrina cristã...”o pontificado de João
Paulo II, ... é marcado por uma reafirmação da identidade e dos valores
católicos” (p.65) Existe aí uma ruptura inaugural de uma mentalidade
pós-moderna... cheia de incertezas motivadas por alguns acontecimentos no mundo
ocidental ( crise do petróleo, revolução eletrônica, hermeticidade do meio
familiar) e no oriente ( demolição do muro de Berlim, novos espaços
ideológicos). “No interior da Igreja há correntes que veem nestes
acontecimentos o fim do ciclo histórico da modernidade, ciclo este inaugurado
pelo Iluminismo do século XVIII e
caracterizado pela emancipação de uma razão segura de si no que diz respeito a
fé” (p.66) e surgem nas sociedade que viveram mais de cem anos num processo de
secularização “os movimentos de recristianização” e contraposição à “ao
concílio Vaticano II” que propõe o “aggiornamento da Igreja católica” condensado
em 16 documentos conciliares ... “fruto de concessões feitas pacientemente
entre as forças presentes no Concílio.... e domina um espaço de interpretação ”
divergentes e nalguns setores chegam a ‘desconfiar da Teologia da Libertação’
reagindo ao possível perigo “marxista”
deste movimento de libertação que arrisca instrumentalizar a Igreja e
esquerdizar a sua mensagem”... em seu conteúdo contém dois temas
fundamentais: “a recusa de uma ordem
social injusta insuportável para os pobres, .... e a aspiração a uma nova
ordem, a uma sociedade socialista que há de encarnar a justiça” .... Esta
ideologia de ruptura de uma ordem reinante, .... encontraria sua realização no
apostolado dos cristãos... pois a “instauração do socialismo faz as vezes do
advento de Cristo”. Mas “nos dissabores da Teologia da Libertação vimos muitas
vezes um conflito entre os “progressistas” e os “conservadores”
No fim da década de 80 emerge o movimentos de “Recristianização na Europa Ocidental” -
Comunhão e Libertação e Juventude Estudantil. Este último segue a três
princípios: cultura, caridade e missão -
pois “reconstruir uma sociedade sobre alicerces cristãos é militar pela
presença visível da Igreja num mundo onde os homens se afastaram de Deus, é
lançar as bases de uma socialidade exemplar guiada pelos preceitos do Evangelho
que, no fim, implicará a adesão de todos” (p. 81), ... enfatizando estes
movimentos uma “teologia intransigente”.
Estes movimentos numa primeira fase
“privilegia a recristianização “por baixo” a partir de uma obra social, mas
ambiciona intervir diante do Estado para fazer recuar influência do “laicismo” (p.91)... ”responsável pela adulteração da consciência
da identidade católica, além da matriz
do marxismo ateu. (p.82). No projeto
de recristianização do “catolicismo europeu contemporâneo” as origens da
renovação carismática” são americanas ... o movimento está ligado ao processo
de “recristianização “por baixo”... no qual “as comunidades prepararam uma
forma de vida que rompe tolamente com as lógicas da laicidade e reconstrói pela
base uma socialidade cristã” (p.100).
“Nos países da Europa ocidental, a
recristianização estendeu-se primeiro como resposta à crise social de meados da
década de 70, assumindo o papel das redes de mobilização e solidariedade que as
utopias seculares da era industrial não conseguiram mais motivar. Na Europa
oriental, após a derrocada do comunismo em 1989, a Igreja polonesa conseguiu
reorganizar diante do Estado uma sociedade civil que havia sido esmagada e
surgiram algumas formas de recristianização “por baixo” em terras tchecas,
sobretudo na Eslováquia ....com o estabelecimento das eleições livres e
instauração progressiva da economia de mercado, a aspiração democrática fez
predominar sobre a sede de transcendência o desejo de manifestar uma
pluralidade de opiniões individuais quanto a adesão às verdades reveladas ...
(p.103).
A difusão da “recristianização “por
baixo” não encontra realmente o obstáculo da repressão ... mas os vários
movimentos de recristianização “por baixo” mobilizam suas redes para que votem
nos democratas cristãos, até mesmo os grupos que haviam recusado a manter
compromissos políticos contra o regime comunista... (p. 119).
De um lado, o episcopado é favorável a
essa transição “pelo alto” e numa carta pastoral pede que os fiéis deem seu
voto para a democracia cristã.... Do outro lado, alguns católicos, padres ou
leigos, que haviam militado na oposição ao comunismo como os não-fiéis ....não
escondem a recusa em se em empenhar numa estratégia de recristianização “pelo
alto”..
Portanto, recristianizar “pelo alto”
ou “por baixo”, se dá dentro de um
processo de conquista de presença social da Igreja. Neste ínterim, os
defensores do cristianismo esperavam ver “a sociedade cristã” tornar-se
realidade, essa estratégia se coloca com a aspiração democrática de alguns
católicos, pois “nenhum partido cristão tem vocação de iniciar uma organização social regulada por uma
verdade da qual ele próprio se considera detentor”.
No cap. III: Para “Salvar a América” o A.
constata que a partir da década de 70, milhões de americanos sentiram necessidade
de aderir às formas de religiosidade oferecidas por Jim Robinson, Jerry
Falwell, Oral Roberts, Pat Robertson, Jimmy Swaggart, Robert Schuller ...
através das ondas, surge o “teleevangelismo como fenômeno de sociedade”
(p.127)... dessa mutação cultural.. o investimento maciço em televisão feito
pela pregação evangélica nos últimos 25 anos.... levou algumas camadas da
sociedade americana a formular categorias do discurso evangélico ou do
fundamentalismo a sua rejeição dos “valores seculares”, que consideravam
dominantes e nefastos, assim como a sua aspiração de transformar em
profundidade a ética social” (p.129).
O movimento (Maioria Moral de Jerry
Falwell), entre outros “entre meados da década de 70 e o fim da década de 80,
no quadro mais vasto do que nos Estados Unidos se denomina “fundamentalismo”,
“evangelismo” ou “nova direita cristã”. Estas expressões estão enraizada na
passagem “da América rural à alta tecnologia” (p.131), “o fundamentalismo
definiu-se em primeiro lugar pela crença na inerrância absoluta da Bíblia. O
texto sagrado do Antigo e do Novo Testamento é tido como a expressão literal da
verdade divina”. E mais, “os
fundamentalistas acreditam na divindade de Cristo e na salvação da alma pela
ação efetiva da vida, morte e ressurreição física de Cristo”.
Vejamos que há duas “Américas
antagônicas”, .... norte industrializado, modernizado e em plena expansão,
opõe-se o sul agrícola, com uma organização social obsoleta....”(p.132).
Tornou-se
objeto de interpretação milenarista dos fundamentalistas. “a crise econômica de
1929 e suas consequências” mostrando que a crença na modernidade e no progresso
que a civilização industrializada do norte havia elaborado não se
efetivou, e faz necessário uma “terapia
da redenção”. Foi a partir da década de 60,
o protestantismo liberal ( religião de opulência que justifica o gozo da
prosperidade americana) passa da autossatisfação à preocupação com a “outra
américa” .
No
processo de recristianização feita pelo protestantismo liberal é enfatizado a
busca “pelo alto”, com grande visibilidade, mas mobiliza pouco a massa da
população; em compensação, a recristianização “por baixo” dos pentecostais pode
ter efeito de massa, mas é geralmente considerada um fenômeno que depende da
piedade e da emoção, ao passo que sua dimensão sócio-política continua
geralmente oculta”(p.138).
É a partir da segunda metade da década de
70 que se dá o fenômeno do renascimento político do evangelismo americano e
nele incide uma reviravolta teológica.
Neste fato está imbutido fatores socioculturais que traduzem este novo
tipo de inserção dos evangélicos na sociedade global.
“O acesso à universidade” da geração
jovem vai representar um papel importante na “passagem para a política” dos
evangélicos neste último quarto de século:
“por ter acesso ao saber, abandona a marginalidade a qual a maior parte
dos seus pais estava confinada e agrega-se ao universo urbano da sociedade pós-industrial”
(p.152-153).
Nos Estados Unidos, a recristianização
“por baixo” toma forma de uma terapia social em grande escala, do mesmo modo
que uma reinvindicação cultural. ... a rejeição de uma modernidade cuja lógica
é sentida como estrangeira e alienante, destruidora da identidade individual e
familiar... Daí a insistência em impor normas éticas estritas.
A originalidade do processo de
recristianização americana para a política seguiu um caminho original: a
dissociação que houve depois da guerra entre os evangélicos que trabalham “por
baixo”, e os “fundamentalistas, que investem “pelo alto” favorecendo opções políticas ... envestindo
numa pastoral que visa a constituição de espaços de recristianização dos quais
a escola é o mais significativo.
No Cap IV : “A redenção de
Israel”... Gush Emunim (bloco de fiéis),
movimento político-religioso nascido logo depois da guerra árabe-israelense
(p.171), substitui o conceito Jurídico de Estado de Israel pelo conceito
bíblico de Terra de Israel (eretz Yirael). O Gush representou o pólo mais
explicitamente político; e , como tinha ambição de agir sobre o Estado, ....
atraiu atenção da mídia, dos governos israelense e americano... fizeram do Gush
um “fundamentalismo judeu”(p.172) .
A década de 70 viu em todo o mundo um
“retorno ao judaísmo” e o “arrependimento”, isto é, “retorno à observância
integral da lei judaíca. Os arrependidos rompem com as seduções da sociedade
secular e reorganizam a própria vida baseando-se unicamente nos mandamentos e
proibiçòes elaboradas a partir de textos sagrados judaícos..... techuvah
significa uma “redefinição da identidade judaica”. (p.173).
A
“pós-modernidade é caracterizada por uma crise de valores que sanciona o
impasse da secularização” (p.174)... só
a “redescoberta da Torá e a observ6ancia dois mandamentos permitem dar de
novo um sentido a sua vida... pois a
época moderna é uma “era de anomia” (p.175) .. , nos Estados unidos, duas
encarnações da identidade judia compartilhavam as preferências da maioria: o
judaísmo “reformado” e o “judaísmo conservador” (p.180). Em Israel na década 60
presencia igualmente mutações estruturais que preparam o desabrochar dos
movimentos religiosos da década seguinte....(p.185) .. os sionistas... eram
portadores de um messianismo de redenção, emora não soubesse disso: O Estado de
Israel era instrumento inconsciente da vontade divina” (p.188) .
No mundo judeu, ... a década de 60 foi o
período da gênese ideológica dos movimentos de reafirmação do religioso que
viram a ter uma tradução organizacional na década seguinte. Gush Emunim se opõe a qualquer veleidade de
trocar alguma parcela inalienável dessa terra,,,, e se empenha numa política de
implantação de colônias em lugares ocupados....Gush surge no espaço num momento
em que a sociedade israelense conhece um malogro profundo... “desordem criam um terreno favorável à
expressão de alternativas aos projetos de um governo que parece haver perdido a
capacidade de iniciativa e está submetido a fortes pressões internacionais para
constrangê-lo a fazer concessões territoriais... para defesa, “os fundadores do
Gush adotam uma atitude deliberadamente ofensiva” (p. 194). Auxiliados pela impunidade e o êxito da
operação, sem represália chega ao terrorismo.
“No nível da Ideologia e filiação
sociocultural... o processo de rejudaização ou “reislamização “pelo alto”
levado ao extremo: a passagem para a violência contra um objetivo simbólico, a
fim de precipitar a transformação do Estado. Do lado Judeu, trata-se de
encontrar o caminho da Redenção e do advento do reino de Israel” (p.204).
O “Judaísmo ortodoxo” ... adota primeiro
uma estratégia de rejudaização “por baixo” que leva seus discípulos a romper
com a sociedade local na vida diária e morar em guetos comunitários, tanto em Israel
como na diáspora” (p. 206) ... .
A partir de meados da década de 80, o
mundo haredi fez uma entrada triunfal no cenário político israelense (p.214)
... pois o mundo haredi era um universo
compexo minado por divisões internas. A rivalidade dos rabinos entre si os impediam
de formar frente unida diante de diversas expressões secularizadas do judaísmo
contemporâneo .. estes propõe que os mandamentos sagrados sejam observados
pelos judeus, mostrando a diferença daqueles em relação aos membros da sociedade que não observam os mandamentos.
Em Jerusalém, o Judaísmo “negro” aumenta
incessantemente sua influência, tantos nos bairros antigos como nas novas
cidades-dormitórios da periferia urbana.
Portanto, “no mundo Judeu, o acesso
político dos movimentos de afirmação religiosa “por baixo” ficou mais aberto a
partir de 1980....mas para além do Estado Judeu, esse modelo de acesso à
política apresentado pelos movimentos de rejudaização “por baixo” adquiriu
amplitude considerável na diáspora nos Estados Unidos, mais recentemente, na
França.... No mundo judeu, os bons resultados conseguidos pelo comunitarismo
contemporâneo devem muito ao fato de este haver recorrido a uma tradição que
culminou na vida autônoma do gueto, ampliada hoje pelos mais ortodoxos adeptos
da rejudaização” (p.227).
Conclusão
O aparecimento desses movimentos deu-se
num contexto de enfraquecimento das certezas nascidas dos progressos atingidos
pelas ciências e pelas técnicas desde a década de 50. Ao mesmo tempo, o grande
messianismo ateu do século XX, isto é, o comunismo, que exercera influência na
maior parte das utopias sociais, entrava em agonia e viria a sucumbir no outono
de 1989 com a destruição do muro de Berlim, seu símbolo por excelência.
Os movimentos cristãos, judeus e mulçumanos
que observamos se inscrevem nesta perspectiva dupla: no começo, dedicam-se a
dar nome à confusão e à desordem do mundo .... depois elaboram projetos de
transformação de ordem social, para deixá-la de acordo com as injunções ou os
valores da Bíblia, do Corão ou dos Evangelhos.
Interessa nos aqui “o ecumenismo para na
desqualificação da laicidade; além disso, os projetos de sociedade divergem,
depois tornam-se profundamente antagônicos, carregando em potencial lutas sem
misericórdia nas quais nenhuma doutrina de verdades pode dispensar os
compromissos, salvo perdendo o controle dos adeptos” (p.230-1).
Opinião final, os movimentos que vimos
possuíam projetos concretos de reconstrução do mundo. buscavam embasamento para
o projeto de sociedade nos textos sagrados. Contando com uma militância ativa,
a juventude, os educadores, leigos, cristãos, judeus e muçulmanos, se valendo
de uma proposta de retomada do poder “pelo alto” através de cúpulas ou ainda
“por baixo” com o apoio das comunidades.
É comum aos movimentos a crítica
contundente à época moderna, racionalismo, compondo os caminhos de cada
movimento traça não esconde a crítica dentro de sí mesmo e a outros
movimentos..
Esta obra, além de ser de agradável
leitura é didática, proporciona a compreensão da volta à disciplina de cada um
dos movimentos, o projeto e reestruturação de cada um deles a partir daquilo
que é mais importante: a tradição, o Livro sagrado, volta às fontes.
O momento não é de grande empreendimento
na reconquista do mundo, mas o conflitividade do relacionamento com o diferente
poderá acirrar-se numa guerra entre “crentes” que fazem da afirmação da
identidade religiosa o critério de Verdades tão exclusivas quanto
particulares... e sem dúvida alguma faz o caminho para totalitarismos hegemônicos
que não é aspiração da humanidade na atualidade, nem caminho ecumênico.
José
Igídio dos Santos - Av: Luiz Bácaro, 391 - 15.600-000 - Fernandópolis – SP - E-mail:
j.igidio@gmail.com
Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia, Psicopedagogo. Docente na Rede Estadual de São Paulo (SEESP) e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes
Dom Bosco (FAECA), Monte Aprazível-SP, Especialista em PIGEAD – Planejamento, Implementação e Gestão
da Educação a Distância – pela Universidade Federal Fluminense – UFF-.RJ e
Tecnólogo Superior em Gestão Pública pela IFSC – SC – polo Jales-SP
O Autor é pesquisador do CNRS (Centre National de
Recherches Scientifiques) e professor do Instituto de Estudos Políticos de
Paris.
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