quarta-feira, 7 de abril de 2010

Aspectos filosóficos de uma prática pedagógica humanizadora

Aspectos filosóficos de uma prática pedagógica humanizadora

Prof. José Igídio dos Santos

É tarefa irrenunciável ao educador a atitude filosófica de contemplação e observação. De fato estas duas exigências supõem conexão com os acontecimentos e situações de seu contexto hodierno. Despertar no educando dos tempos atuais um assentimento de atenção e abertura exige um reinventar do processo pedagógico; objeto de diálogo deste artigo. A educação precisa ser uma prática pedagógica de sentido existencial e o ambiente escolar deve despertar no educando a vontade de aprender a aprender em conexão com mundo e suas experiências sensório-motoras.
Tanto o aprender como o educar vem sendo ultimamente muito criticado por não indicar caminhos claros de como “ser humano” nos tempos atuais. Faz-se necessário alguns pressupostos teóricos para instauramos uma prática pedagógica encantadora do real, que a nosso ver, se encontra na vitalização de um processo de engajamento do educando em seu “que fazer escolar cotidiano”.
O ensino-aprendizagem precisa ser processual e não deve ser considerado um fim em si mesmo. Tornar a tarefa educativa agradável, prazerosa é uma exigência dos tempos atuais. Na escola é necessário desenvolver um espírito científico que emana da curiosidade em busca de respostas às situações-problemas do cotidiano.
Desde as primeiras experiências educacionais (família) os educandos precisam encontrar ambiente que favoreça sua formação. O "boom" educacional começa em casa e acompanha o educando à instituição de ensino. È fundamental que o educando encontre um ambiente familiar que lhe possibilite acesso cultural, condições de tranqüilidade para ler, fazer as obrigações escolares – são elementos cultivadores e inspiradores da sapiência global. O ato de ler dá condições de o educando capacitar-se para decifrar a pluralidade de códigos de linguagem da realidade hodierna de vista à complexidade cultural, étnico e social do qual esse mundo globalizado está submetido.
A cada momento da nossa existência nossa percepção de mundo vai se ampliando. Ao retomarmos uma leitura que fizemos quando éramos infantes, em uma fase subseqüente perceberemos novas perspectivas a partir do referencial das experiências obtidas na adolescência, juventude ou idade adulta, o texto terá “novas cores, sabores e perspectivas”. É assim também com os filmes que vemos e obras de artes que contemplamos... Nossa capacidade de abstração vai ampliando a partir de nossa convivência sócio-cultural. Propiciar ao educando as mais diversas experiências de aprendizagem constituirá uma grande tarefa aos educadores dos tempos atuais. Pois devemos superar os antigos métodos educacionais (transferência de conhecimentos) para uma compreensão de que ensinar é propiciar situações de aprendizagem que sejam vivenciais e que tenham sentido para as vidas dos educandos, superando a visão conteudista para uma proposta educacional mais humanista e culturalista.
É tarefa do educador de hoje encontrar o fundamento teórico para sua prática pedagógica, passar da prédica para o processo construtivo de conhecimento. Passando pelo processo de estabelecimento de acordos pedagógicos que envolva o educando no processo educacional. É fundamentando o trabalho pedagógico em conceitos teóricos sólidos que os educadores deverão propor justificativas e objetivos que ultrapasse as propostas alienantes de ensino-aprendizagem que intenta prescindir do processo reflexivo. Na prática, estabelecemos uma relação com o meio cultural e social aperfeiçoando nossa inserção educacional servindo-nos do método empírico e analítico como uma “ação projetada, refletida, consciente, transformadora do natural, do homem e do social". (PEREIRA, Otaviano. O que é teoria, Brasiliense, 2003). Como cita Paulo Freire em seu livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, o educador "precisa estar convencido [...] ser seu trabalho uma especificidade humana. [...] a condição humana fundante da educação é precisamente a inclusão de nosso ser histórico [...] produzida e desafiada. [...] como seres programados, mas para aprender e, portanto, para ensinar, para conhecer, intervir [...] em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos". (op. cit, 1996. pp.143, 145, grifo nosso).
A tarefa é árdua e necessária, esse caminho deverá ser assumido por todos os docentes e discentes que buscam uma proposta retroalimentada pela dedicação e compromisso dos envolvidos no processo. Portanto, caminhemos e construamos o novo em meio a tantas possibilidades criativas que a contemplação ativa proporcionará aos espíritos atentos.
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Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia, Psicopedagogo. É Docente na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco (FAECA) – Monte Aprazível-SP e no Ensino Médio da Rede Pública do Estado de São Paulo.