domingo, 27 de abril de 2014

INSTRUMENTALIZAÇÃO DA FILOSOFIA COMO DISCIPLINA ESCOLAR


Prof. José Igídio dos Santos

Como pensadores estaremos sempre implicados com o questionamento do porquê e para quê estudar filosofia? Intentamos muitas respostas, no entanto, em vista dos objetivos da sociedade atual a Filosofia, em uma proposta crítica não compactua com os pressupostos mercadológicos. O pensar filosófico possibilita o enfrentamento de problemas reais do cotidiano provocando no agente inquietude e insatisfação face aos desvios éticos, políticos e culturais do contexto hodierno. Atuar no mundo da sabedoria desmantelado por proposituras e posturas oligárquicas impõe expulsar o imediatismo e instaurar a civilidade, bem como, a capacidade de convivência do saber filosófico que questiona os saberes instituídos como um desafio permanente.
Portanto, foge do propósito filosófico a instrumentalização da filosofia para adequar ideologias, sejam elas de quaisquer ordem, embora esta dinâmica possa ser utilizada, ela depõe contra o ideal mais sublime do filosofar, que visa instaurar um nova perspectiva de ensinar e apender.
O compromisso do professor de filosofia é com o desenvolvimento do pensamento reflexivo nos diversos contextos da vida do educando, possibilitando aos "filósofos cotidianos" condições para compreender os múltiplos aspectos da realidade da vida humana, social, política, econômica, cultural, religiosa, icônica, tecnológica e antropológica, dentre outros nichos... Entretanto, cabe aqui relembrar que a Filosofia tem um status de autonomia recente, principalmente no Estado de São Paulo, já que como componente curricular foi alijada por décadas em todo país e só a partir de 2007 é inclusa no currículo como parte da base comum aos estudantes do Ensino Médio caracterizada no rol das ciências humanas e denominada humanista sendo incorporada como dinamizadora de projetos educacionais que almejam excelência do pensamento analítico, crítico e prescritivo.
A emergência de uma metodologia centrada nas habilidades e competências só será possível dentro de uma proposta pedagógica democrática e participativa, em vista de uma perspectiva transformadora da vida do educando e do meio no qual vive.  Com a implantação do currículo e adoção de metodologia apostilada o Governo de São Paulo instaura um paradoxo educativo: desenvolver um processo educacional democrático sem imposição e dogmatismo ante as imposições sistêmicas, assumindo o que é primordial aos educadores, "a racionalidade", como seres pensantes e não reagentes.

O filosofar é uma tarefa da qual homens e mulheres não podem prescindir; é preciso um parto: a ciência está prenhe de sabedoria e este processo poderá ampliar a capacidade do sujeito cognoscente no desenvolvimento do espírito analítico, superando a forma pacata de aceitação do real, buscando a autonomia do pensar e a consciência crítica capaz de reconhecer que muitas situações vivenciais poderiam ser diferentes se não houvesse conivência ou omissão humana e que podemos agir de forma diversa da costumeira de agora em diante. Um pouco de filosofia todo dia é a dose certa da excelência cognoscitiva.