domingo, 29 de março de 2009

Filosofia: compromisso sócio-politico-cultural e educacional

Filosofia: compromisso sócio-politico-cultural e educacional

José Igídio dos Santos [1]

À pergunta: Por quê e para quê estudar filosofia?! Buscam-se muitas respostas, no entanto, em vista dos objetivos da sociedade atual a filosofia, em uma proposta mais crítica não compactua com os pressupostos mercadológicos. O pensar filosófico possibilita o enfrentamento dos problemas reais do cotidiano provocando no agente inquietude e insatisfação face aos desvios éticos, políticos e culturais do contexto hodierno. Então, atuar no mundo da sabedoria desmantelado por proposituras e posturas oligárquicas impõe expulsar o imediatismo e instaurar a civilidade bem como a capacidade de convivência do saber filosófico que questiona os saberes instituídos como um desafio permanente.
O compromisso do filósofo é com o desenvolvimento do pensamento reflexivo nos diversos contextos da vida, dando aos "filósofos cotidianos" condições para compreender os múltiplos aspectos da realidade da vida humana, social, política, econômica, cultural, icônica, tecnológica e antropológica, dentre outros nichos...
No processo educacional brasileiro a disciplina de Filosofia e a Sociologia no Ensino Médio foram instituídas pela Resolução: 04 de 16 de Agosto de 2006 do CNE, tornando seus conteúdos obrigatórios em 2007. Mas com a crise curricular que se instaurou na educação de São Paulo em 2008, filosofia deixou ser parte do processo educacional das 3ª.s séries do EM e Sociologia não estava no currículo. Esta distorção foi resolvida neste início de 2009 pela inclusão da Sociologia com uma aula em todas séries do Ensino Médio. Todo caso mantiveram as aulas de Filosofia embora reduzindo carga horária nas 2ª.s e 3ª.s séries do EM. Infelizmente a cada troca de Secretário(a) na Educação muda-se o processo educacional, o que nos faz opinar que há apenas voletidade e não um projeto político educacional.
As disciplinas humanistas são essenciais para qualquer projeto educacional que vise excelência e dentre elas a filosofia é por natureza a excelência do pensamento analítico, crítico e prescritivo.
É preciso mudar os métodos educacionais e superar o tradicional "Giz. Lousa e Saliva” em busca de propostas pedagógicas mais criativas que possam fazer do educando agente de sua formação e não apenas receptor passivo do aprendizado. A emergência de uma metodologia centrada nas habilidades e competências só será possível dentro de uma proposta pedagógica democrática e participativa, em vista de uma perspectiva transformadora da vida do educando e do meio no qual vive. A recém implantada metodologia apostilada do Governo de São Paulo que poderia ser solução, tornou-se um problema para muitos educadores, isto aconteceu por causa da celeridade e a falta de participação efetiva dos profissionais envolvidos no dia-a-dia escolar. A intenção é boa, o processo está sendo muito questionável. O processo educacional precisa envolver todos os implicados em vista de uma proposta democrática.
Não tem dúvida de que as escolas públicas precisam buscar maior nível de excelência na educação e as universidades públicas precisam sintonizar os objetivos do ensino, para que alunos da escola pública encontrem ressonância de seus estudos com os conteúdos aplicados nos sistemas de avaliação, aplicadas atualmente pelos orgãos governamentais. Esse trabalho de adequação poderia ser melhor acompanhado pelo MEC em Parceria com as Secretarias da Educação de cada Estado estabelecendo uma forma permitir aos educandos galgar seus objetivos no processo educacional, além disso, é preciso gerir políticas públicas que possibilitem condições aos profissionais recém-formados para que sejam engajados no mercado de trabalho tendo acesso ao primeiro emprego com as garantias da profissão escolhida no tempo formação.
Os filósofos foram reconhecidos na Grécia antiga e hoje os filósofos profissionais precisam ser reconhecidos em sua relevância para a sociedade. Vivemos sob o reflexo de crises institucionais em uma sociedade que passa por crises nas dimensões dos princípios e valores que incidem na vida do ser humano em suas crises de identidade e de perspectivas; deixamos de assumir aquilo que nos é primordial "a racionalidade" ; quase sempre agimos como se não fôssemos seres pensantes e sim reagentes.
Infelizmente, existe uma acomodação intelectual e deixamos de pensar de forma múltipla o contexto vital de nossa existência e é justamente neste âmbito que se faz necessária a emergência do filosofar. As realidades da vida humana e cósmica pedem socorro e é preciso que sejamos engajados o suficiente para escutar e responder aos clamores dos irmãos e da Terra, nossa mãe comum.
O aprendizado em filosofia é processual e no primeiro instante é fundamental e é necessário o domínio de alguns conceitos essenciais que serão norte para a tarefa reflexiva da qual somos guardiões. Por isso é que a discussão filosófica exige sobretudo respeito ao semelhante e às suas idéias, e o silêncio reflexivo é que possibilita a conectividade com a realidade hodierna para obter condições de olhar de forma multidimensional. Neste ínterim, é fundamental saber respeitar os saberes provindos de outros nichos e desta forma poderemos avançar na compreensão sobre o Homem, o Mundo e o Absoluto.
É fundamental que o educando no processo de formação, independente do curso que venha a escolher, possa aplicar os princípios de ética e da cidadania tornando-se sujeito de direito e de deveres; e como ninguém ama aquilo que não conhece é importante o enamoramento filosófico que desperte o gosto pela sabedoria e o desejo de autonomia do nosso pensar. O que podemos destacar com maior grau de importância no estudo filosófico, além da tradição da filosofia, do processo pessoal da admiração, do espanto e da indignação ética, é que através desses princípios buscamos a produção de argumentações que nos auxiliem como sujeitos cognoscentes no desenvolvimento de nosso próprio pensar, dando-nos condições de intervir na realidade social para que de posse do que está acontecendo, em vista das situações pessoais, nos tornemos agentes transformadores da história.
O filosofar é uma tarefa da qual homens e mulheres não podem prescindir na busca por um pouco de otimismo e esperança, sempre questionando a realidade em uma permanente busca pela sabedoria. Quem sabe o conselho socrático possa ganhar "eco" em nossa existência superando o medo do "conhece-te a ti mesmo", só assim as pessoas corajosas terão abertura para encontrar o equilíbrio na ousada capacidade para pensar de formas múltiplas em perspectivas abertas para o conhecimento do amplo mistério do homem no universo.
Sendo a filosofia mãe de todas as ciências é fundamental o diálogo com a cotidianidade do ser humano a fim de que as ciências busquem parceria com o pensar filosófico superando a postura de impor a ditadura do epistemologismo científico.
É preciso um parto: a ciência esta prenhe de sabedoria. Então, venha a nós a filosofia. A mãe aguarda pela volta do rebento dando lugar à sua sapiência em busca de uma nova relação Eros-filia-sofia-episteme (amor-amizade-sabedoria-conhecimento), questionadora do real. Este processo poderá ampliar a capacidade do sujeito cognoscente no desenvolvimento do espírito analítico, superando a forma pacata de aceitação do real, buscando a autonomia do pensar e a consciência crítica capaz de reconhecer que muitas situações vivenciais poderiam ser diferentes se não houvesse conivência ou omissão humana e que podemos agir de forma diversa da costumeira de agora em diante.
Um pouco de filosofia todo dia é a dose certa da excelência cognoscitiva.
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[1] Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Psicopedagogo, Professor Universitário na FAECA de Monte Aprazível e no Ensino Médio na Rede Estadual.