quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Comunicação em tempos de redes sociais e inteligência artificial: desafios das desordens informacionais

 

Comunicação em tempos de redes sociais e inteligência artificial: desafios das desordens informacionais

Prof. Esp. José Igídio dos Santos

Resumo

    Este artigo analisa os desafios da comunicação em tempos de redes sociais digitais, com ênfase nas desordens informacionais que afetam o ecossistema midiático contemporâneo. A partir de referenciais teóricos sobre mídia, desinformação e cidadania digital, e da articulação com práticas educacionais no contexto brasileiro, discute-se como a expansão da inteligência artificial (IA) amplia tanto as possibilidades criativas quanto os riscos de manipulação de conteúdos. Argumenta-se que a educação midiática e informacional, associada a uma reflexão crítica sobre o uso das tecnologias digitais e da IA no ambiente escolar, constitui caminho fundamental para enfrentar os riscos comunicacionais e fortalecer a cidadania digital.

Palavras-chave: Comunicação digital; Redes sociais; Inteligência artificial; Desinformação; Educação midiática.

1. Introdução

    A sociedade contemporânea é marcada pela centralidade da comunicação digital. Se antes os meios de massa exerciam o papel principal de mediação, hoje as redes sociais digitais configuram-se como espaços de interação, circulação de informações e disputas simbólicas.

    Como afirma Castells: “A sociedade em rede é uma nova forma de organização social, caracterizada pela interconexão global de redes que afetam todos os âmbitos da atividade humana”¹.

    Esse cenário amplia o acesso à informação, mas também favorece a proliferação de desordens informacionais, que confundem o público e fragilizam a confiança nas instituições. Paralelamente, a emergência da inteligência artificial (IA) generativa amplia tanto as possibilidades criativas quanto os riscos de produção de conteúdos falsos ou manipulados.

    No campo educacional, o fenômeno precisa ser analisado não apenas em sua dimensão técnica, mas também social e pedagógica. A formação crítica de professores e estudantes é central para lidar com os impactos comunicacionais da IA e das redes sociais.

2. Comunicação em rede, velocidade e manipulação digital

    A comunicação em rede caracteriza-se pela descentralização e pela velocidade de circulação das mensagens. Essa rapidez, associada à lógica da viralização, frequentemente se sobrepõe à verificação e à checagem dos fatos.

    Nesse contexto, os algoritmos e sistemas de IA potencializam tanto a difusão de informações como sua manipulação. Deepfakes, montagens automatizadas e bots programados para viralizar mensagens exemplificam como a tecnologia pode ser instrumentalizada para fins de desinformação.

3. Desordens informacionais: falso e prejudicial

    Wardle e Derakhshan observam: “As informações incorretas, desinformações e má-informações não são todas iguais, mas compartilham a característica de poder causar confusão, polarização e perda de confiança social”².

Essas categorias são:
- Informação incorreta: conteúdos falsos difundidos sem intenção de prejudicar;
- Desinformação: conteúdos falsos produzidos deliberadamente para enganar;
- Má informação: conteúdos verdadeiros utilizados de forma prejudicial.

    Com o avanço da IA, essas fronteiras tornam-se ainda mais difusas, pois textos, imagens e vídeos realistas dificultam a distinção entre o verdadeiro e o falso. Isso exige novos métodos de leitura crítica e verificação, especialmente no ambiente educacional.

4. Educação midiática, IA e cidadania digital

    O enfrentamento das desordens informacionais exige uma abordagem educativa. Para Buckingham: “A educação midiática não é apenas sobre proteger os jovens dos perigos da mídia, mas também sobre capacitá-los para participar plenamente da vida pública”³.

    Esse entendimento mostra que a educação midiática é formativa e emancipatória. Mais do que blindar estudantes contra fake news, trata-se de criar condições para que compreendam e produzam informações de forma crítica.

    No contexto brasileiro, Ribeiro acrescenta: “Ser cidadão digital implica compreender direitos, deveres e responsabilidades no espaço virtual, que é também espaço público e político”⁴.

    Essa perspectiva é essencial, pois coloca a discussão sobre redes sociais e IA no campo da cidadania digital, entendida como prática ética e política. Na escola, isso significa trabalhar com os estudantes não apenas a técnica de uso das ferramentas digitais, mas também a reflexão crítica sobre seu impacto social.

5. Considerações finais

    As redes sociais digitais transformaram a comunicação contemporânea, trazendo benefícios para a democratização do acesso à informação, mas também desafios relacionados às desordens informacionais. A emergência da inteligência artificial amplia esse cenário, tanto no potencial criativo quanto na sofisticação das manipulações.

    Defende-se que a resposta a esses desafios não está apenas em mecanismos de controle, mas sobretudo na formação crítica dos cidadãos. A educação midiática e informacional, integrada ao uso pedagógico da IA, constitui um caminho para fortalecer a autonomia crítica dos estudantes e promover uma comunicação ética e responsável.

    Assim, comunicar em tempos de redes sociais e inteligência artificial é também assumir um compromisso com a verdade, a cidadania e a democracia.

Notas de rodapé

1. CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2017, p. 469.

2. WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein. Desordem da Informação: rumo a um quadro interdisciplinar de pesquisa e formulação de políticas. Estrasburgo: Conselho da Europa, 2017. Tradução brasileira disponível em: Manual da Credibilidade, p. 9.

3. BUCKINGHAM, David. Manifesto pela educação midiática. São Paulo: Sesc, 2022, p. 15.

4. RIBEIRO, José. Cidadania digital e educação: desafios contemporâneos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, p. 42.