Comunicação em tempos de redes sociais e inteligência
artificial: desafios das desordens informacionais
Resumo
Este artigo analisa os desafios da
comunicação em tempos de redes sociais digitais, com ênfase nas desordens
informacionais que afetam o ecossistema midiático contemporâneo. A partir de
referenciais teóricos sobre mídia, desinformação e cidadania digital, e da
articulação com práticas educacionais no contexto brasileiro, discute-se como a
expansão da inteligência artificial (IA) amplia tanto as possibilidades
criativas quanto os riscos de manipulação de conteúdos. Argumenta-se que a
educação midiática e informacional, associada a uma reflexão crítica sobre o
uso das tecnologias digitais e da IA no ambiente escolar, constitui caminho
fundamental para enfrentar os riscos comunicacionais e fortalecer a cidadania
digital.
Palavras-chave: Comunicação digital; Redes
sociais; Inteligência artificial; Desinformação; Educação midiática.
1. Introdução
A sociedade contemporânea é marcada pela
centralidade da comunicação digital. Se antes os meios de massa exerciam o
papel principal de mediação, hoje as redes sociais digitais configuram-se como
espaços de interação, circulação de informações e disputas simbólicas.
Como afirma Castells: “A sociedade em rede
é uma nova forma de organização social, caracterizada pela interconexão global
de redes que afetam todos os âmbitos da atividade humana”¹.
Esse cenário amplia o acesso à informação,
mas também favorece a proliferação de desordens informacionais, que confundem o
público e fragilizam a confiança nas instituições. Paralelamente, a emergência
da inteligência artificial (IA) generativa amplia tanto as possibilidades
criativas quanto os riscos de produção de conteúdos falsos ou manipulados.
No campo educacional, o fenômeno precisa
ser analisado não apenas em sua dimensão técnica, mas também social e
pedagógica. A formação crítica de professores e estudantes é central para lidar
com os impactos comunicacionais da IA e das redes sociais.
2. Comunicação em rede, velocidade e manipulação digital
A comunicação em rede caracteriza-se pela
descentralização e pela velocidade de circulação das mensagens. Essa rapidez,
associada à lógica da viralização, frequentemente se sobrepõe à verificação e à
checagem dos fatos.
Nesse contexto, os algoritmos e sistemas de
IA potencializam tanto a difusão de informações como sua manipulação.
Deepfakes, montagens automatizadas e bots programados para viralizar mensagens
exemplificam como a tecnologia pode ser instrumentalizada para fins de
desinformação.
3. Desordens informacionais: falso e prejudicial
Wardle e Derakhshan observam: “As
informações incorretas, desinformações e má-informações não são todas iguais,
mas compartilham a característica de poder causar confusão, polarização e perda
de confiança social”².
Com o avanço da IA, essas fronteiras
tornam-se ainda mais difusas, pois textos, imagens e vídeos realistas
dificultam a distinção entre o verdadeiro e o falso. Isso exige novos métodos
de leitura crítica e verificação, especialmente no ambiente educacional.
4. Educação midiática, IA e cidadania digital
O enfrentamento das desordens
informacionais exige uma abordagem educativa. Para Buckingham: “A educação
midiática não é apenas sobre proteger os jovens dos perigos da mídia, mas
também sobre capacitá-los para participar plenamente da vida pública”³.
Esse entendimento mostra que a educação
midiática é formativa e emancipatória. Mais do que blindar estudantes contra
fake news, trata-se de criar condições para que compreendam e produzam
informações de forma crítica.
No contexto brasileiro, Ribeiro acrescenta:
“Ser cidadão digital implica compreender direitos, deveres e responsabilidades
no espaço virtual, que é também espaço público e político”⁴.
Essa perspectiva é essencial, pois coloca a
discussão sobre redes sociais e IA no campo da cidadania digital, entendida
como prática ética e política. Na escola, isso significa trabalhar com os
estudantes não apenas a técnica de uso das ferramentas digitais, mas também a
reflexão crítica sobre seu impacto social.
5. Considerações finais
As redes sociais digitais transformaram a
comunicação contemporânea, trazendo benefícios para a democratização do acesso
à informação, mas também desafios relacionados às desordens informacionais. A
emergência da inteligência artificial amplia esse cenário, tanto no potencial
criativo quanto na sofisticação das manipulações.
Defende-se que a resposta a esses desafios
não está apenas em mecanismos de controle, mas sobretudo na formação crítica
dos cidadãos. A educação midiática e informacional, integrada ao uso pedagógico
da IA, constitui um caminho para fortalecer a autonomia crítica dos estudantes
e promover uma comunicação ética e responsável.
Assim, comunicar em tempos de redes sociais
e inteligência artificial é também assumir um compromisso com a verdade, a
cidadania e a democracia.
Notas de rodapé
1. CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. 21.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2017, p. 469.
2. WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein.
Desordem da Informação: rumo a um quadro interdisciplinar de pesquisa e
formulação de políticas. Estrasburgo: Conselho da Europa, 2017. Tradução
brasileira disponível em: Manual da Credibilidade, p. 9.
3. BUCKINGHAM, David. Manifesto pela
educação midiática. São Paulo: Sesc, 2022, p. 15.
4. RIBEIRO, José. Cidadania digital e
educação: desafios contemporâneos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, p. 42.