terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A Revanche de Deus: Cristãos, judeus e muçulmanos na reconquista do mundo

Kepel, Gilles. A Revanche de Deus: Cristãos, judeus e muçulmanos na reconquista do mundo; trad. J.E. Smith Caldas, São Paulo, Ed. Siciliano, 1991, 243p.
Por: José Igídio dos Santos
       Constata o A. que “a década de 70 foi o auge do processo de mutação nas relações entre religião e política desse último quarto século... a década de 60 parece ter havido uma distensão do elo que ligava a religião à ordem da cidade, de um modo que deixou os clérigos muito preocupados... (p.11)”. “O propósito do livro limita-se aos domínios de três religiões “abrâamicas”, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, embora o hinduísmo e o xintoísmo apresentem no seu desenvolvimento recente alguns traços comparáveis ao que se produz nas três “religiões do Livro” ... trata-se simplesmente de propor marcos de referência para tentar uma reflexão transversal sobre o fenômeno como um todo” (p.12-13).
       “A crise da década de 70 bloqueou os mecanismos de solidariedade gerados pelo Estado de Providência e pôs a nu angústias e misérias inéditas.... nem todos os movimentos religiosos de hoje, mesmo quando querem ultrapassar a modernidade por objetivo a curto prazo a tomada do poder e a transformação revolucionária da sociedade ... apresentam certo número de diferenças em si. (p.15-16)”.
       “O judaísmo rejeita uma definição em termos de simples filiação, na década de 70 emergiram ... no cenário político” ... no catolicismo (religião cristã) após conclave e escolha do Cardeal Karol Wojtyla para o pontificado ... enfatiza  o princípio de “testemunhar pela experiência comunitária a necessidade de reencontrar Deus e salvar os homens e indicar o caminho  da reconstrução da sociedade com base nos preceitos cristãos” (p.18),  o Islamismo com a volta de aiotolá Khomeini a Teerã, ... o ataque da Grande Mesquita de Meca ... são acontecimentos que manifestam aos olhos do mundo inteiro o potencial político encoberto nessa religião ... que “reivindica um rompimento cultural com a lógica da modernidade secular... é necessário “dissociar as técnicas dos valores da secularização, a fim de promover uma ética de vida dominada pela submissão da razão a Deus”(p. 17).
       Esses movimentos começam a se fazer notar a partir de meados da década de 70...  “a construção do socialismo no Oriente e o nascimento da sociedade de consumo no Ocidente deixam muito pouco espaço à expressão de ideologias que recorrem ao divino para explicar as lógicas de ordem social... os fiéis têm de se engajar em defender o mundo livre ou o socialismo, o que leva lentamente a subordinar a fé à realização dos ideais terrenos subordinar o além com  as coisas daqui” (p.20-21).
       Note-se que a hipótese deste trabalho mostra que: “.... o discurso e prática desses movimentos são portadores de um sentido; não são produto de um desregramento da razão nem de uma manipulação por forças obscuras, são o testemunho insubstituível de um mal social profundo que as nossas categorias tradicionais de pensamento não permitem decifrar. ... são ... filhos indesejados, bastardos da informática e da falta de emprego ou da exploração demográfica e da alfabetização, com as suas crises e queixas a nos incitar a procurar em nosso fim de século a sua paternidade, a sua genealogia inconfessada” (p.22-23).
       No capítulo 1: “O Gládio e o Corão”,  dos países muçulmanos  da bacia do Mediterrâneo e arredores, os movimentos de reislamização seguem a sequência cronológica dos  grupos marxizantes na constestação de valores básicos da ordem social” (p.25). Há a contestação marxista para a “ruptura” islamita, ... “pois as leis de mercado encontram seus limites na persistência de mecanismos de feudalidades e no desenvolvimento da corrupção em grande escala... (p.27). Pois “a Palestina se transforma em símbolo da resistência a Israel e ao Imperalismo ocidental’ ... para tanto emerge os “movimentos de reislamização contemporâneos” sustentada por Sayyid Qutb  após a guerra árabe-israelense em 73, “desorganizando o equilíbrio da economia internacional, alicerçou as aspirais da inflação e do desemprego que desestabilizaram os sistemas sócio-políticos, especialmente no ocidente, e levou a um esboroamento da sociedade e a um afrouxamento dos elos de solidariedade e proteção social” (p.36).
       O processo revolucionário de tomada do poder ( reislamização “pelo alto”) no Islamismo com o intuito de reislamização se dá entre a década 70 e meados de 80, e corroborada em 1979. “A reislamização “pelo alto” tem por finalidade reislamizar a sociedade como  um todo e reislamização “por baixo” consiste no esquadrinhamento espacial e temporal de fragmentos da sociedade” (p.49). É uma maneira de reconstruir uma  identidade num mundo que ficou indecifrável, desestruturado e alienado. “No fim da década de 80 os movimentos de reislamização “por baixo” estavam à testa de várias redes comunitárias poderosas que chegavam a controlar bairros inteiros... intermediárias entre os poderes públicos e os grupos sociais marginalizados” (p.52).  Em 1990 este movimento de reislamização arrasta a maioria num país muçulmano onde há eleições livres.  Concluo que no Islamismo “pelo alto”  é enfatizado a dimensão política, com enfretamento da repressão dos Estados, mas o Islamismo “por baixo”, investem seu ativismo na vida cotidiana... procurando garantir a paz social.
       No cap. II - “ Europa, terra de missão” Constata o A. que neste último quarto do séc. XX “parece que a sociedade jamais foi tão maciçamente secularizada e descristianizada, e no entanto nascem movimentos de recristianização por todos os cantos” . Ao passo que o Concílio Ecumênico Vaticano II quis esforça-se por formular a mensagem católica na linguagem da sociedade secular com a qual compartilha vários ideais... com o cuidado de situar-lhes a origem na doutrina cristã...”o pontificado de João Paulo II, ... é marcado por uma reafirmação da identidade e dos valores católicos” (p.65) Existe aí uma ruptura inaugural de uma mentalidade pós-moderna... cheia de incertezas motivadas por alguns acontecimentos no mundo ocidental ( crise do petróleo, revolução eletrônica, hermeticidade do meio familiar) e no oriente ( demolição do muro de Berlim, novos espaços ideológicos). “No interior da Igreja há correntes que veem nestes acontecimentos o fim do ciclo histórico da modernidade, ciclo este inaugurado pelo Iluminismo  do século XVIII e caracterizado pela emancipação de uma razão segura de si no que diz respeito a fé” (p.66) e surgem nas sociedade que viveram mais de cem anos num processo de secularização “os movimentos de recristianização” e contraposição à “ao concílio Vaticano II”  que propõe o  “aggiornamento da Igreja católica” condensado em 16 documentos conciliares ... “fruto de concessões feitas pacientemente entre as forças presentes no Concílio.... e domina um espaço de interpretação ” divergentes e nalguns setores chegam a ‘desconfiar da Teologia da Libertação’ reagindo ao possível  perigo “marxista” deste movimento de libertação que arrisca instrumentalizar a Igreja e esquerdizar a sua mensagem”... em seu conteúdo contém dois temas fundamentais:  “a recusa de uma ordem social injusta insuportável para os pobres, .... e a aspiração a uma nova ordem, a uma sociedade socialista que há de encarnar a justiça” .... Esta ideologia de ruptura de uma ordem reinante, .... encontraria sua realização no apostolado dos cristãos... pois a “instauração do socialismo faz as vezes do advento de Cristo”. Mas “nos dissabores da Teologia da Libertação vimos muitas vezes um conflito entre os “progressistas” e os “conservadores”
       No fim da década de 80  emerge o movimentos  de “Recristianização na Europa Ocidental” - Comunhão e Libertação e Juventude Estudantil. Este último segue a três princípios: cultura, caridade e missão -  pois “reconstruir uma sociedade sobre alicerces cristãos é militar pela presença visível da Igreja num mundo onde os homens se afastaram de Deus, é lançar as bases de uma socialidade exemplar guiada pelos preceitos do Evangelho que, no fim, implicará a adesão de todos” (p. 81), ... enfatizando estes movimentos uma “teologia intransigente”.
       Estes movimentos numa primeira fase “privilegia a recristianização “por baixo” a partir de uma obra social, mas ambiciona intervir diante do Estado para fazer recuar  influência do “laicismo” (p.91)...  ”responsável pela adulteração da consciência da identidade  católica, além da matriz do marxismo ateu. (p.82).       No projeto de recristianização do “catolicismo europeu contemporâneo” as origens da renovação carismática” são americanas ... o movimento está ligado ao processo de “recristianização “por baixo”... no qual “as comunidades prepararam uma forma de vida que rompe tolamente com as lógicas da laicidade e reconstrói pela base uma socialidade cristã” (p.100).  
       “Nos países da Europa ocidental, a recristianização estendeu-se primeiro como resposta à crise social de meados da década de 70, assumindo o papel das redes de mobilização e solidariedade que as utopias seculares da era industrial não conseguiram mais motivar. Na Europa oriental, após a derrocada do comunismo em 1989, a Igreja polonesa conseguiu reorganizar diante do Estado uma sociedade civil que havia sido esmagada e surgiram algumas formas de recristianização “por baixo” em terras tchecas, sobretudo na Eslováquia ....com o estabelecimento das eleições livres e instauração progressiva da economia de mercado, a aspiração democrática fez predominar sobre a sede de transcendência o desejo de manifestar uma pluralidade de opiniões individuais quanto a adesão às verdades reveladas ... (p.103).
       A difusão da “recristianização “por baixo” não encontra realmente o obstáculo da repressão ... mas os vários movimentos de recristianização “por baixo” mobilizam suas redes para que votem nos democratas cristãos, até mesmo os grupos que haviam recusado a manter compromissos políticos contra o regime comunista... (p. 119).
       De um lado, o episcopado é favorável a essa transição “pelo alto” e numa carta pastoral pede que os fiéis deem seu voto para a democracia cristã.... Do outro lado, alguns católicos, padres ou leigos, que haviam militado na oposição ao comunismo como os não-fiéis ....não escondem a recusa em se em empenhar numa estratégia de recristianização “pelo alto”..
       Portanto, recristianizar “pelo alto” ou  “por baixo”, se dá dentro de um processo de conquista de presença social da Igreja. Neste ínterim, os defensores do cristianismo esperavam ver “a sociedade cristã” tornar-se realidade, essa estratégia se coloca com a aspiração democrática de alguns católicos, pois “nenhum partido cristão tem vocação de iniciar  uma organização social regulada por uma verdade da qual ele próprio se considera detentor”.
       No cap. III: Para “Salvar a América” o A. constata que a partir da década de 70, milhões de americanos sentiram necessidade de aderir às formas de religiosidade oferecidas por Jim Robinson, Jerry Falwell, Oral Roberts, Pat Robertson, Jimmy Swaggart, Robert Schuller ... através das ondas, surge o “teleevangelismo como fenômeno de sociedade” (p.127)... dessa mutação cultural.. o investimento maciço em televisão feito pela pregação evangélica nos últimos 25 anos.... levou algumas camadas da sociedade americana a formular categorias do discurso evangélico ou do fundamentalismo a sua rejeição dos “valores seculares”, que consideravam dominantes e nefastos, assim como a sua aspiração de transformar em profundidade a ética social” (p.129).
       O movimento (Maioria Moral de Jerry Falwell), entre outros “entre meados da década de 70 e o fim da década de 80, no quadro mais vasto do que nos Estados Unidos se denomina “fundamentalismo”, “evangelismo” ou “nova direita cristã”. Estas expressões estão enraizada na passagem “da América rural à alta tecnologia” (p.131), “o fundamentalismo definiu-se em primeiro lugar pela crença na inerrância absoluta da Bíblia. O texto sagrado do Antigo e do Novo Testamento é tido como a expressão literal da verdade divina”.  E mais, “os fundamentalistas acreditam na divindade de Cristo e na salvação da alma pela ação efetiva da vida, morte e ressurreição física de Cristo”.
       Vejamos que há duas “Américas antagônicas”, .... norte industrializado, modernizado e em plena expansão, opõe-se o sul agrícola, com uma organização social obsoleta....”(p.132).
       Tornou-se objeto de interpretação milenarista dos fundamentalistas. “a crise econômica de 1929 e suas consequências” mostrando que a crença na modernidade e no progresso que a civilização industrializada do norte havia elaborado não se efetivou,  e faz necessário uma “terapia da redenção”. Foi  a partir da década de 60, o protestantismo liberal ( religião de opulência que justifica o gozo da prosperidade americana) passa da autossatisfação à preocupação com a “outra américa” .
        No processo de recristianização feita pelo protestantismo liberal é enfatizado a busca “pelo alto”, com grande visibilidade, mas mobiliza pouco a massa da população; em compensação, a recristianização “por baixo” dos pentecostais pode ter efeito de massa, mas é geralmente considerada um fenômeno que depende da piedade e da emoção, ao passo que sua dimensão sócio-política continua geralmente oculta”(p.138).
       É a partir da segunda metade da década de 70 que se dá o fenômeno do renascimento político do evangelismo americano e nele incide uma reviravolta teológica.  Neste fato está imbutido fatores socioculturais que traduzem este novo tipo de inserção dos evangélicos na sociedade global.
       “O acesso à universidade” da geração jovem vai representar um papel importante na “passagem para a política” dos evangélicos neste último quarto de século:  “por ter acesso ao saber, abandona a marginalidade a qual a maior parte dos seus pais estava confinada e agrega-se ao universo  urbano da sociedade pós-industrial” (p.152-153).
       Nos Estados Unidos, a recristianização “por baixo” toma forma de uma terapia social em grande escala, do mesmo modo que uma reinvindicação cultural. ... a rejeição de uma modernidade cuja lógica é sentida como estrangeira e alienante, destruidora da identidade individual e familiar... Daí a insistência em impor normas éticas estritas.
       A originalidade do processo de recristianização americana para a política seguiu um caminho original: a dissociação que houve depois da guerra entre os evangélicos que trabalham “por baixo”, e os “fundamentalistas, que investem “pelo alto”  favorecendo opções políticas ... envestindo numa pastoral que visa a constituição de espaços de recristianização dos quais a escola é o mais significativo.
       No Cap IV : “A redenção de Israel”...  Gush Emunim (bloco de fiéis), movimento político-religioso nascido logo depois da guerra árabe-israelense (p.171), substitui o conceito Jurídico de Estado de Israel pelo conceito bíblico de Terra de Israel (eretz Yirael). O Gush representou o pólo mais explicitamente político; e , como tinha ambição de agir sobre o Estado, .... atraiu atenção da mídia, dos governos israelense e americano... fizeram do Gush um “fundamentalismo judeu”(p.172) .
       A década de 70 viu em todo o mundo um “retorno ao judaísmo” e o “arrependimento”, isto é, “retorno à observância integral da lei judaíca. Os arrependidos rompem com as seduções da sociedade secular e reorganizam a própria vida baseando-se unicamente nos mandamentos e proibiçòes elaboradas a partir de textos sagrados judaícos..... techuvah significa uma “redefinição da identidade judaica”. (p.173).
       A  “pós-modernidade é caracterizada por uma crise de valores que sanciona o impasse da secularização” (p.174)...  só a “redescoberta da Torá e a observ6ancia dois mandamentos permitem dar de novo  um sentido a sua vida... pois a época moderna é uma “era de anomia” (p.175) .. , nos Estados unidos, duas encarnações da identidade judia compartilhavam as preferências da maioria: o judaísmo “reformado” e o “judaísmo conservador” (p.180). Em Israel na década 60 presencia igualmente mutações estruturais que preparam o desabrochar dos movimentos religiosos da década seguinte....(p.185) .. os sionistas... eram portadores de um messianismo de redenção, emora não soubesse disso: O Estado de Israel era instrumento inconsciente da vontade divina” (p.188) .
       No mundo judeu, ... a década de 60 foi o período da gênese ideológica dos movimentos de reafirmação do religioso que viram a ter uma tradução organizacional na década seguinte.  Gush Emunim se opõe a qualquer veleidade de trocar alguma parcela inalienável dessa terra,,,, e se empenha numa política de implantação de colônias em lugares ocupados....Gush surge no espaço num momento em que a sociedade israelense conhece um malogro profundo...  “desordem criam um terreno favorável à expressão de alternativas aos projetos de um governo que parece haver perdido a capacidade de iniciativa e está submetido a fortes pressões internacionais para constrangê-lo a fazer concessões territoriais... para defesa, “os fundadores do Gush adotam uma atitude deliberadamente ofensiva” (p. 194).  Auxiliados pela impunidade e o êxito da operação, sem represália chega ao terrorismo.
       “No nível da Ideologia e filiação sociocultural... o processo de rejudaização ou “reislamização “pelo alto” levado ao extremo: a passagem para a violência contra um objetivo simbólico, a fim de precipitar a transformação do Estado. Do lado Judeu, trata-se de encontrar o caminho da Redenção e do advento do reino de Israel” (p.204).
       O “Judaísmo ortodoxo” ... adota primeiro uma estratégia de rejudaização “por baixo” que leva seus discípulos a romper com a sociedade local na vida diária e morar em guetos comunitários, tanto em Israel como na diáspora” (p. 206) ... .
       A partir de meados da década de 80, o mundo haredi fez uma entrada triunfal no cenário político israelense (p.214) ... pois  o mundo haredi era um universo compexo minado por divisões internas. A rivalidade dos rabinos entre si  os impediam   de formar frente unida diante de diversas expressões secularizadas do judaísmo contemporâneo .. estes propõe que os mandamentos sagrados sejam observados pelos judeus, mostrando a diferença daqueles em relação aos membros da sociedade  que não observam os mandamentos.
       Em Jerusalém, o Judaísmo “negro” aumenta incessantemente sua influência, tantos nos bairros antigos como nas novas cidades-dormitórios da periferia urbana.
       Portanto, “no mundo Judeu, o acesso político dos movimentos de afirmação religiosa “por baixo” ficou mais aberto a partir de 1980....mas para além do Estado Judeu, esse modelo de acesso à política apresentado pelos movimentos de rejudaização “por baixo” adquiriu amplitude considerável na diáspora nos Estados Unidos, mais recentemente, na França.... No mundo judeu, os bons resultados conseguidos pelo comunitarismo contemporâneo devem muito ao fato de este haver recorrido a uma tradição que culminou na vida autônoma do gueto, ampliada hoje pelos mais ortodoxos adeptos da rejudaização” (p.227).

Conclusão
       O aparecimento desses movimentos deu-se num contexto de enfraquecimento das certezas nascidas dos progressos atingidos pelas ciências e pelas técnicas desde a década de 50. Ao mesmo tempo, o grande messianismo ateu do século XX, isto é, o comunismo, que exercera influência na maior parte das utopias sociais, entrava em agonia e viria a sucumbir no outono de 1989 com a destruição do muro de Berlim, seu símbolo por excelência.
       Os movimentos cristãos, judeus e mulçumanos que observamos se inscrevem nesta perspectiva dupla: no começo, dedicam-se a dar nome à confusão e à desordem do mundo .... depois elaboram projetos de transformação de ordem social, para deixá-la de acordo com as injunções ou os valores da Bíblia, do Corão ou dos Evangelhos.
       Interessa nos aqui “o ecumenismo para na desqualificação da laicidade; além disso, os projetos de sociedade divergem, depois tornam-se profundamente antagônicos, carregando em potencial lutas sem misericórdia nas quais nenhuma doutrina de verdades pode dispensar os compromissos, salvo perdendo o controle dos adeptos” (p.230-1).
       Opinião final, os movimentos que vimos possuíam projetos concretos de reconstrução do mundo. buscavam embasamento para o projeto de sociedade nos textos sagrados. Contando com uma militância ativa, a juventude, os educadores, leigos, cristãos, judeus e muçulmanos, se valendo de uma proposta de retomada do poder “pelo alto” através de cúpulas ou ainda “por baixo” com o apoio das comunidades.
       É comum aos movimentos a crítica contundente à época moderna, racionalismo, compondo os caminhos de cada movimento traça não esconde a crítica dentro de sí mesmo e a outros movimentos..
       Esta obra, além de ser de agradável leitura é didática, proporciona a compreensão da volta à disciplina de cada um dos movimentos, o projeto e reestruturação de cada um deles a partir daquilo que é mais importante: a tradição, o Livro sagrado, volta às fontes.
       O momento não é de grande empreendimento na reconquista do mundo, mas o conflitividade do relacionamento com o diferente poderá acirrar-se numa guerra entre “crentes” que fazem da afirmação da identidade religiosa o critério de Verdades tão exclusivas quanto particulares... e sem dúvida alguma faz o caminho para totalitarismos hegemônicos que não é aspiração da humanidade na atualidade, nem caminho ecumênico.


José Igídio dos Santos - Av: Luiz Bácaro, 391 - 15.600-000 - Fernandópolis – SP - E-mail: j.igidio@gmail.com
  Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Psicopedagogo. Docente na Rede Estadual de São Paulo (SEESP)  e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco (FAECA), Monte Aprazível-SP, Especialista em PIGEAD – Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância – pela Universidade Federal Fluminense – UFF-.RJ e Tecnólogo Superior em Gestão Pública pela IFSC – SC – polo Jales-SP

O Autor  é pesquisador do CNRS (Centre National de Recherches Scientifiques) e professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris. 

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