sábado, 14 de junho de 2014

O Filósofo e o Educador: proximidades e diferença

O Filósofo e o Educador: proximidades e diferença
Prof. José Igídio dos Santos
Reportamo-nos aos 10 anos de experiência no ensino de Filosofia no ensino médio e no ensino superior. E vejo que nem sempre é fácil separar o “ser” filósofo do “ser” educador.  Embora muitas vezes se usa estes conceitos de forma complementar, os vejo de forma dialética. Haja visto que o educar incorpora o filosofar e o filosofar pressupõe o educar. Além disso, vemos características próprias do filósofo no processo educativo do plano de trabalho didático, sobretudo no que diz respeito a contribuição para o desenvolvimento da criticidade dos estudantes, que exige-lhes o emprego de processos dialógicos na articulação de conhecimentos, que na perspectiva holística permite-lhes o exercício da cidadania plena.
No processo de atuação no magistério as experiências vividas são os pontos fulcrais da práxis educativa, o filósofo ao ministrar as aulas procura socializar conhecimentos e mediar os múltiplos saberes aos procedimentos didáticos que permitem ao estudante a assimilação de conteúdos escolares.
Diante do dito um contra ponto está na manifestação de Alves:
Professores são habitantes de um mundo diferente, onde o “educador” pouco importa, pois o que interessa é um “crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que o ministra. Por isso mesmo professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos de plástico para café descartável. De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para função (ALVES, 2000, p.19).
Se utilizarmos a perspectiva gransmiciana, notamos que o educador precisa ser um “intelectual orgânico”, despertando no educando a instauração de um processo argumentativo comprometido com a transformação cultural através do pensar crítico que se instaura no ato de ensinar. Na relação filosofo-educador optar em ser filósofo é despertar no educando o compromisso com seu desenvolvimento cultural. Para tanto, se faz necessário assumir uma postura educativa mediante o engajamento profissional de forma que, segundo o princípio freireano, na atual sociedade não há espaço para uma “educação repetitiva, com um educador acomodado, treinador e transferidor”.
E segundo nossa professora Henning, 2014.
a atividade filosófica nada mais é do que  aquilo que é praticado pelo professor e seus alunos em torno da disciplina específica, se desenvolvendo num contexto constituído por um corpo de conhecimentos, habilidades e competências circunscritos pelas ações e determinações de um grupo de profissionais intencionalmente unidos para a formação humana e social (HENNING, 2014, p.5)

É possível adotarmos a perspectiva colaborativa entre os vários sujeitos do processo porque “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23), nesta relação dialógica está também a relação estreita entre o “ser filósofo e o ser educador”. Estas duas perspectivas devem estar presentes no processo educativo sem estranhamento numa relação dialógica.
Sendo da alçada e do interesse da filosofia a contínua autorreflexão, a análise dos seus pressupostos, dos seus limites e possibilidades, nada mais apropriado a esta disciplina o tomar-se a si mesma como problema ao comunicar o que é próprio ao seu trabalho (HENNING, 2014, p.5 ).

            Nesta tarefa estamos todos em processo, ainda há um longo caminho a percorrer, no entanto, é preciso caminhar:  pois “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” (ROSA, João Guimarães), nosso filosofar se dá por meio do ensino que está implicado na relação com o currículo e com as instituições educacionais que as incorpora.


Bibliografia consultada
ALVES, Rubem. Conversas com que gosta de ensinar. 1ª ed. [s,1]: Papirus, 2000.
FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa, 30ª ed. São Paulo. Paz e Terra, 1996. 148p.

HENNING, Leoni Maria Padilha. Metodologia do ensino de filosofia, 2014, 12. p

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