sexta-feira, 25 de maio de 2018

CONSCIÊNCIA POLÍTICA: O CRIVO PELO VOTO


CONSCIENCIA POLÍTICA:   O CRIVO PELO  VOTO
 José  Igídio dos Santos [i]
       “O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior”. Platão. (c. 428-347 a.C).

 A compreensão sobre a política, remete à sua etimologia que é haurida do grego antigo e faz referência às práticas e ações vinculadas à pólis, ou à cidade-estado, em sentido amplo, pode referir-se tanto a Estado, quanto à sociedade; e em sentido estrito à comunidade e procedimento de definições do que se refere à vida humana.
Contemporaneamente Hannah Arendt, filósofa alemã (1906-1975), caracterizava a política como "convivência entre diferentes", pois baseava-se "na pluralidade dos homens", fundamentando o entendimento de que  é necessário respeito à alteridade em relação a pluralidade e tal propósito implica aceitar a coexistência de diferenças, pois   a igualdade a ser  alcançada através do exercício de interesses, quase sempre conflitantes, é a liberdade e não a justiça, pois a liberdade distingue "o convívio dos homens na pólis de todas as outras formas de convívio humano bem conhecidas pelos gregos" ( ARENDT, p.12, 2002)
Na percepção de Nicolau Maquiavel (1469-1527) historiador, filósofo e político italiano, em sua obra "O Príncipe"  que  se tornou um manual sobre a arte de governar, apresenta o caminho para a manutenção no poder com máxima de que “os fins justificam os meios” , tal compreensão ressalta, entre outros aspectos, que a política fundamenta-se em desenvolver estratégias para o exercício do poder, ser aceito pelos súditos e ainda conquistar o amor dos concidadãos pelos quais o príncipe deve ser amado e temido simultaneamente, dessa forma conquistaria  a arte da governabilidade.
Na epígrafe deste ensaio, retomo a concepção de Platão (427 a.C. - 347 a.C.) filósofo do período clássico da história da filosofia, discípulo de Sócrates, exímio escritor de diálogos que deu voz a seu mestre Sócrates, que nada escreveu, é construtor de um pensamento próprio, desde a “República”, considerada a primeira Utopia da história. Era visionário de uma proposta de sociedade fundamentada no modelo organicista, em que cada qual deve exercer a função a que é destinado, a partir dos estamentos, mas com possibilidade de ascensão social por meio da educação.
No Brasil, a atual situação política, parece impor aos cidadãos a necessidade de adotar propósitos para uma ação democrática que inclui não exclusivamente, mas essencialmente a sua participação nas decisões dos rumos do País, do Estado membro e a seu tempo também dos Municípios. Essa tomada de decisão se insere num contexto de desilusão com a política. É notório ao acompanharmos os noticiários midiáticos os fatos e atos políticos que são escandalosamente apresentados, nos deixando indignados, pois a maioria dos políticos fizeram da missão de servir na “administração pública” uma empresa pessoal, na qual seu interesse e interesse de seus aliados se sobrepõem ao ideário da política concreta – servir a todos os cidadãos. 
 A sociedade atual é como um barco à deriva, lhe falta engajamento, o país está vivenciando um momento de apatia social,   em que a população assume posturas tais como: “não vi”, “não ouvi”, “não sei dizer” e devido aos muitos escândalos e impunidade presentes nos três poderes, favorecendo sobretudo aos políticos corruptos e os corruptores dos mais diversos nichos sociais, de empresários à instituições públicas, vê-se posturas de apatia política, e  tais posturas  têm se tornado prejudiciais ao desenvolvimento da cidadania plena, que requer nossa participação na política, tanto afetiva como efetivamente, pautando nossa prática cidadã em critérios éticos e morais, em vista de uma sociedade justa e equânime.
Contemporaneizando Platão, nossa omissão em participar da política traz um prejuízo social que é pago com mal serviço prestado à população. E, sabemos muito bem que é por meio do voto de assinamos uma procuração com amplos poderes para proporcionar a todos uma vida cidadã implementada pelas ações dos políticos no Legislativo que criarão as leis e do Executivo colocarão em prática as ações sociais e políticas públicas que devem tornar a vida dos brasileiros mais agradável.
Nossa escolha é para o mínimo de quatro anos com consequências mais duradouras que este período, daí a necessidade de levar a sério o voto, para tanto, é imprescindível que nos preocupemos em analisar a vida pregressa dos candidatos que  se dispuseram a concorrer para assumir a função pública, com o nosso voto delegamos à alguns a missão de nos representar  e dessa forma devemos nos comprometer a não escolher pessoas inexperientes, inescrupulosas, ignorantes e incompetentes  para dirigir os rumos da sociedade e de nossas vidas, pois  sabemos que “o voto não tem preço, tem consequências”.
Uma preocupação que deve nos acometer sempre é que vivemos em uma sociedade do espetáculo, do voyeurismo, na qual grande parte da população adota uma postura de distanciamento da política, deixando de lado a oportunidade de auxiliar na escolha dos rumos do nosso país. O processo de alienação se instaura quando por exemplo, um número considerável de brasileiros vê passivamente programas de reality show, tal como BBB, analisando a vida dos participantes do programa e votando os destinos dos mesmos. Esses mesmos adeptos do voyeurismo não conseguem, em momento de campanha eleitoral, ver e ouvir quais são as propostas dos candidatos que venham ao encontro dos anseios da população, para então analisar se há correspondência entre a sua candidatura e os anseios do povo independentemente da sigla partidária.
Obviamente que não é só o horário eleitoral um balizador de nossas escolhas , alia-se a este uma pesquisa sobre o candidato, suas atitudes sociais, seus planos e propostas de gestão da coisa pública, e mesmo assim procedendo não há certeza de que faremos a escolha correta, portanto, torna-se imprescindível que acompanhemos aqueles aos quais elegemos  durante o seu mandato, cobrando a execução das proposições feitas durante o período de campanha, mas infelizmente muitos eleitores, escolhem em quem  votar no dia da eleição por meio de  escolhas aleatoriamente e votam em qualquer “ santinho”  abandonados próximos aos locais de votação.
A conscientização acerca da importância e valor do voto é uma bandeira que a sociedade precisa abraçar, demonstrando o seu caráter inviolável, incorruptível, promotor da justiça social, superando o modelo clientelista que faz de muitos “eleitores” vendedores de suas consciências. É chegado o momento de fazer das eleições a elevação do nível de conscientização social e política para que as elites oligárquicas que fizeram da política um “emprego certo’ possam ser desbancadas pela arma mais poderosa que nós temos. É o voto consciente, refletido que nos auxiliará a melhor selecionar nossos representantes na esfera política que, acompanhado pelos cidadãos serão fiscalizadores dos resultados de seus feitos.

Bibliografia consultada
ARENDT, Hannah.  O que é política? / Hannah Arendt;  Ed; Ursula Ludz, trad. Reinaldo Guarany. - 3' ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 240 p.
PLATÃO. A República.  Col. Os pensadores, Trad.  Maria Helena da Rocha pereira. 9° edição. 2005
MAQUIAVEL. N.  O Príncipe .  Col. Os pensadores,  ed. Nova Cultural, 1999.



[i] Licenciado em Filosofia (UNICLAR), Especialista no ensino de Filosofia  (UFSCar-SP) ,  Especialista em  PIGEAD -  Planerjamento e Implementação da EAD (UFF), Bacharel em Teologia, Psicopedagogo, Tecnólogo Superior em Gestão Pública.

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