terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Restrição do Uso de Celulares na Sala de Aula na Rede Estadual de São Paulo: Impactos, Controvérsias e Desafios Pedagógicos

 

Restrição do Uso de Celulares na Sala de Aula na Rede Estadual de São Paulo: Impactos, Controvérsias e Desafios Pedagógicos

Prof. José Igídio dos Santos[1]

1.        Introdução

A proibição do uso de celulares na sala de aula na rede estadual de ensino de São Paulo reacendeu debates sobre os impactos da tecnologia na educação. Enquanto alguns defendem a medida como essencial para melhorar a concentração e o desempenho dos estudantes, outros argumentam que a restrição fere o direito de acesso à informação.

Esse cenário se torna ainda mais complexo quando consideramos que a própria Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) investe em plataformas digitais como parte do processo de ensino. Recursos como Khan Academy, Plataforma de Leitura, Redação e Inglês, além do Centro de Mídias SP, foram implementados para potencializar a aprendizagem. No entanto, a falta de dispositivos suficientes, como tablets e Chromebook, gera um dilema: como restringir o uso do celular sem comprometer o acesso a essas ferramentas educacionais?

 2. Construção Histórica da Lei e Sua Promulgação

A restrição ao uso de celulares na sala de aula não é um tema recente. Em 2007, São Paulo foi pioneiro ao sancionar a Lei nº 12.730, que proibia o uso de celulares para fins não pedagógicos. No entanto, sua aplicação foi limitada.

No cenário global, a França implementou, em 2018, uma proibição nacional do uso de celulares em escolas públicas, influenciando debates em outros países, incluindo o Brasil. Durante a pandemia de COVID-19, a digitalização da educação levou ao aumento do uso de dispositivos móveis no ensino brasileiro. Com o retorno às aulas presenciais, autoridades educacionais passaram a buscar um equilíbrio entre a tecnologia e a necessidade de foco e concentração dos estudantes, resultando em novas legislações e diretrizes.

Evolução da Regulamentação no Brasil

  • 2007: São Paulo sanciona a Lei nº 12.730, proibindo o uso de celulares durante as aulas na rede estadual de ensino.
  • 2017: A Lei nº 16.567 modifica a norma anterior, permitindo o uso de celulares para atividades pedagógicas.
  • 2023: A Secretaria da Educação de São Paulo reforça a restrição com a Resolução Seduc-27/2023, baseada em estudos que apontam impactos negativos dos celulares na aprendizagem e na atenção dos estudantes.
  • 2024: O governador Tarcísio de Freitas sanciona a Lei nº 18.058, proibindo o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos em escolas públicas e privadas do estado.
  • 2025: A Secretaria da Educação de São Paulo (Seduc-SP) estabelece diretrizes para a aplicação da Lei Estadual nº 18.058/2024 e da Lei Federal nº 15.100/2025, que entra em vigor neste ano letivo, visando aprimorar a concentração dos estudantes e proteger sua saúde mental.

Essa evolução reflete um movimento crescente de regulamentação do uso de dispositivos móveis no ambiente escolar, com o objetivo de minimizar distrações e melhorar o aprendizado.

 3. Pesquisas Sobre os Benefícios da Restrição

Diversos estudos apontam que a restrição do uso do celular na sala de aula pode trazer benefícios, tais como:

· Melhora na concentração: Pesquisas da Universidade de Londres indicam que escolas que restringem o uso do celular tiveram aumento de até 6% no desempenho acadêmico.

· Redução da indisciplina: Relatórios da OCDE mostram que ambientes escolares sem distrações digitais promovem melhor comportamento e maior interação entre estudantes e professores.

· Menos ansiedade e cyberbullying: Estudantes que passam menos tempo conectados durante a aula relatam menor pressão social e menor incidência de conflitos gerados pelas redes sociais.

 4. Prós e Contras da Medida

A restrição do uso do celular tem apoiadores e críticos, refletindo a complexidade da questão.

Prós:

· Maior foco no aprendizado.

· Melhoria na socialização entre os estudantes.

· Redução de plágio e uso indevido de inteligência artificial em avaliações.

· Prevenção da dependência digital.

Contras:

· Cerceamento da autonomia dos estudantes.

· Inconsistência pedagógica, já que o próprio governo incentiva plataformas digitais.

· Falta de alternativas tecnológicas, pois muitas escolas não possuem dispositivos suficientes para suprir a demanda dos estudantes.

 5. Relação entre a Legislação Federal e Estadual

A legislação federal não estabelece uma proibição específica para o uso de celulares nas escolas, mas orienta diretrizes para o uso pedagógico da tecnologia. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9.394/1996 prevê a autonomia dos estados e municípios na definição de normas para a gestão escolar, o que permite que São Paulo regulamente o uso dos celulares em sua rede estadual.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a importância do uso crítico e responsável da tecnologia na educação, o que justifica que a proibição não seja absoluta, mas permita exceções para uso pedagógico.

 6. O Dilema Tecnológico: Como Resolver Essa Equação?

O grande desafio pedagógico da medida é garantir que a restrição ao celular não prejudique o acesso à tecnologia para fins educacionais. Algumas soluções possíveis incluem:

· Fornecimento adequado de dispositivos: O governo deve ampliar a distribuição de tablets e Chromebooks para garantir equidade digital.

· Criação de espaços tecnológicos: Laboratórios de informática acessíveis poderiam ser uma alternativa para permitir o uso da tecnologia sem comprometer a disciplina em sala de aula.

· Capacitação docente: Os professores precisam ser treinados para integrar metodologias ativas com tecnologia, sem depender exclusivamente do celular dos estudantes.

· Flexibilização da regra: Algumas escolas poderiam adotar um modelo híbrido, permitindo o uso do celular em momentos específicos para atividades pedagógicas supervisionadas.


7. Desafios na Implementação da Medida

Apesar dos potenciais benefícios, a implementação da restrição enfrenta desafios práticos e pedagógicos, como:

· Falta de fiscalização: Professores e gestores encontram dificuldades para controlar o uso de celulares sem gerar conflitos com os estudantes.

· Adaptação dos estudantes: Muitos jovens estão habituados a utilizar o celular como ferramenta principal de estudo, o que torna a transição para outras tecnologias desafiadora.

· Integração curricular: É necessário que os currículos escolares sejam ajustados para incluir estratégias eficazes de ensino sem depender exclusivamente do celular.

 

8. Considerações Finais

O uso de celulares na educação deve ser analisado sob diferentes perspectivas. Enquanto a restrição pode garantir maior concentração dos estudantes e reduzir problemas como distração e cyberbullying, o uso pedagógico dos dispositivos móveis pode enriquecer a aprendizagem e aproximar a escola das novas tecnologias.

A restrição do uso de celulares na sala de aula na rede estadual de São Paulo levanta questões importantes sobre disciplina, aprendizagem e acesso à tecnologia. Embora a medida tenha fundamentos sólidos, sua implementação precisa considerar as realidades da escola pública e o papel crescente da tecnologia na educação. Sem investimentos em infraestrutura digital, a restrição pode ampliar desigualdades e comprometer a inovação pedagógica.

O verdadeiro desafio não é simplesmente proibir ou liberar os celulares, mas encontrar um equilíbrio que permita o uso consciente da tecnologia, garantindo que todos os estudantes tenham acesso ao aprendizado digital de forma estruturada e inclusiva.



[1] Filósofo, Assessor Pedagógico no Município de Fernandópolis, Psicopedagogo, Superior em Gestão Pública, Professor na Rede Pública Estadual e no Nível Superior.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A Importância da Linguagem na Educação: Um Chamado à Reflexão e à Ação

A Importância da Linguagem na Educação: Um Convite à Reflexão e Transformação

        A linguagem é um instrumento poderoso que não apenas reflete a realidade, mas também a constrói. No campo educacional, ela desempenha um papel determinante na formação de percepções, identidades e práticas. A substituição do termo “aluno” por “estudante” emerge como uma necessidade contemporânea que vai além de questões semânticas: trata-se de alinhar a terminologia ao paradigma educacional centrado no protagonismo do indivíduo. Este artigo discute as razões e benefícios dessa mudança, propondo ações que envolvam estudantes, famílias, educadores, equipes técnicas e gestores para fortalecer uma prática educacional mais inclusiva e humanizadora.


Fundamentos e Contextualização

A Linguagem e a Construção de Identidades

        Historicamente, a palavra "aluno" deriva do latim alumnus, que significa "criado" ou "nutrido". Essa origem tem sido interpretada, de forma controversa, como "aquele que não possui luz" (a-lumen), uma visão simbólica que pode reforçar a ideia de passividade. Essa interpretação está alinhada ao modelo tradicional de ensino, no qual o professor é o único detentor do saber, e o aluno assume um papel submisso e receptivo.

        Paulo Freire (1996), em Pedagogia da Autonomia, questiona esse modelo e defende a educação como um processo dialógico no qual o educador e o educando aprendem juntos, transformando-se mutuamente. O uso do termo "estudante" é coerente com essa perspectiva, pois reforça a ideia de que o indivíduo é sujeito ativo no processo de construção do conhecimento.

Impacto da Linguagem na Prática Educacional

        A escolha das palavras influencia diretamente as práticas e relações pedagógicas. "Aluno" pode remeter à subordinação, enquanto "estudante" promove uma visão de autonomia e protagonismo. A mudança na terminologia reflete o compromisso com uma educação que respeita o estudante como participante ativo e criador em sua jornada de aprendizado, contribuindo para sua autoestima e senso de pertencimento.


Por que Repensar a Linguagem?

Inclusão e Universalidade

        O termo "estudante" é mais inclusivo, abrangendo todos os que estão em processo de aprendizado, independentemente da faixa etária, modalidade de ensino ou contexto educacional. Isso fortalece uma visão universalista da educação, rompendo barreiras simbólicas que podem limitar o potencial do indivíduo.

Transformação das Relações Educativas

        A terminologia também impacta a relação entre os diferentes atores da comunidade escolar. Quando gestores, professores e famílias reconhecem as crianças e jovens como "estudantes", fortalecem uma cultura escolar de colaboração e corresponsabilidade. Essa mudança contribui para superar visões hierárquicas e paternalistas, promovendo um ambiente mais democrático.

Alinhamento com Diretrizes Educacionais

        Documentos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destacam o protagonismo infantil e juvenil, promovendo a construção de competências e habilidades por meio de experiências ativas e significativas. Nesse sentido, o uso do termo "estudante" dialoga diretamente com a proposta de uma educação integral e participativa.


Propostas de Ação

        A implementação dessa mudança requer um esforço conjunto dos diferentes agentes da comunidade escolar. A seguir, apresentamos algumas ações propositivas:

  1. Campanhas de Sensibilização
    Organizar campanhas que expliquem o significado da mudança terminológica, utilizando vídeos, cartazes, palestras e debates para engajar estudantes, famílias, educadores e gestores.

  2. Formação Continuada para Educadores
    Promover cursos e oficinas que discutam a importância da linguagem na prática pedagógica e seu impacto nas relações escolares. Abordar temas como protagonismo estudantil e o papel da linguagem na construção de identidades.

  3. Revisão de Documentos Institucionais
    Atualizar regimentos escolares, projetos pedagógicos e outros documentos oficiais para substituir o termo "aluno" por "estudante", promovendo uma adequação linguística alinhada às práticas contemporâneas de ensino.

  4. Diálogo com Estudantes e Famílias
    Promover rodas de conversa para envolver estudantes e famílias no processo de reflexão sobre o significado da terminologia e sua relação com o aprendizado.

  5. Políticas Públicas de Orientação
    Os órgãos centrais de educação devem liderar a mudança, criando normativas que incentivem o uso do termo "estudante" nas redes de ensino, garantindo apoio técnico e formativo para as escolas.

  6. Acompanhamento e Avaliação
    Estabelecer mecanismos de monitoramento para avaliar como a mudança linguística está sendo aplicada e seus impactos no ambiente escolar, utilizando pesquisas e questionários para medir a percepção da comunidade.


Excerto Inspirador

            "Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos e implica reconhecer neles sujeitos históricos, críticos e criativos. Chamar uma criança ou jovem de 'estudante' é afirmar sua capacidade de aprender, criar e transformar o mundo em diálogo com o outro. Esse reconhecimento, por meio da linguagem, é um primeiro passo para construir uma educação mais justa e humanizadora." – Adaptado de Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia.


Considerações Finais

            A mudança do termo "aluno" para "estudante" não é apenas um ajuste linguístico, mas uma transformação que reflete valores fundamentais da educação contemporânea: inclusão, protagonismo e respeito à individualidade. Redes de ensino, gestores, equipes pedagógicas e famílias têm um papel crucial na consolidação dessa mudança, promovendo um ambiente escolar que valorize as potencialidades de cada indivíduo.

            Como defende Freire (1996), "a educação é um ato de amor e coragem", e essa coragem começa pela escolha consciente de palavras que constroem uma prática educativa mais democrática e inclusiva. Que a linguagem seja, então, uma aliada na construção de uma educação que inspire sujeitos a pensar, questionar e transformar o mundo em que vivem.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Educação e as Gerações X, Y e Z no Contexto Digital

 Educação e as Gerações X, Y e Z no Contexto Digital

Prof. Esp. José Igídio dos Santos

Introdução

    A era digital, impulsionada pelo avanço acelerado das tecnologias da informação e comunicação (TICs), transformou profundamente a sociedade contemporânea. Essas mudanças impactaram intensamente não só a maneira como interagimos e trabalhamos, mas também como adquirimos conhecimento. As gerações X, Y e Z, moldadas por contextos históricos e tecnológicos distintos, experimentam o digital de maneiras particulares, trazendo diferentes demandas e perspectivas para o campo educacional. Este artigo explora as características de cada geração e suas relações com a tecnologia no ambiente educacional, analisando como essas diferenças afetam o aprendizado e o desenvolvimento profissional.

Gerações e Tecnologia

Geração X (1965-1980)

    Conhecida como "migrante digital", a geração X cresceu em um mundo onde a tecnologia ainda não dominava as atividades diárias. Para essa geração, a entrada no universo digital ocorreu principalmente na vida adulta e foi impulsionada por necessidades profissionais. Tapscott (2009) descreve o processo de adaptação dessa geração como autodidata e pragmático, uma vez que as novas competências digitais foram adquiridas de forma independente e muitas vezes com uma visão funcional, voltada para a produtividade e para o trabalho. Castells (2002) reforça que essa geração enxerga o digital como uma "nova camada" agregada ao cotidiano e não como algo intrínseco à sua identidade.

Adaptação e Resistência à Tecnologia

    A incorporação da tecnologia foi acompanhada por um processo de adaptação e, em muitos casos, de resistência. Enquanto as gerações mais jovens cresceram rodeadas por dispositivos digitais, a geração X precisou modificar suas rotinas para integrar esses novos elementos. Castells (2002) sugere que, para essa geração, o uso da tecnologia está ligado a uma visão instrumental e muitas vezes cética. Essa visão contrasta com o comportamento das gerações Y e Z, que veem a tecnologia como uma extensão natural de sua vida.

Gerações Y (1981-1996) e Z (1997 em diante)

    Ao contrário da geração X, as gerações Y e Z são consideradas "nativas digitais" (Prensky, 2001). Esses indivíduos cresceram em um ambiente onde a tecnologia, especialmente a internet e os dispositivos móveis, está sempre presente, o que influencia não apenas sua relação com o mundo, mas também a maneira como processam informações e interagem. A geração Y, também chamada de "millennials", se destaca pela facilidade em lidar com ferramentas digitais e pela disposição para multitarefa. No entanto, Prensky (2001) alerta que essa mesma habilidade pode levar a um processamento superficial da informação, dada a imersão em múltiplas mídias e o fluxo constante de estímulos.

Multitarefa e Superficialidade no Uso da Tecnologia

    Para as gerações Y e Z, o ambiente digital proporciona um acesso rápido e dinâmico a diversas fontes de informação. Contudo, essa facilidade pode dificultar um aprendizado mais profundo e crítico. Prensky (2001) argumenta que, embora essas gerações demonstrem uma capacidade extraordinária de realizar múltiplas tarefas, a sobrecarga de informações pode resultar em um conhecimento fragmentado, sem a profundidade crítica necessária para interpretar e transformar o conteúdo assimilado.

A Sociedade da Informação e a Educação

    Bauman (2000) explora o conceito de "modernidade líquida", que se caracteriza pela fluidez das relações, das identidades e dos compromissos, especialmente no contexto digital. Esse fenômeno afeta diretamente o ambiente educacional, influenciando a forma como as gerações Y e Z se relacionam com o aprendizado e com a construção de uma carreira. Na "sociedade da informação", os jovens enfrentam um mundo marcado pela instantaneidade, o que pode levar a uma perda de foco e de propósito em metas de longo prazo.

Desafios de Concentração e Multitarefa

    A exposição constante a estímulos digitais altera a maneira como os jovens processam o conhecimento e mantêm a atenção. Carr (2010) aponta que o uso intensivo da internet molda o cérebro para responder rapidamente a novos estímulos, mas prejudica a capacidade de manter o foco em uma única tarefa por longos períodos. Esse fenômeno, amplamente observado entre as gerações Y e Z, afeta a qualidade do aprendizado e dificulta a consolidação de habilidades que exigem persistência e concentração.

O Impacto das Redes Sociais e da Cultura da Imediatidade

    As redes sociais representam outro desafio importante para as novas gerações. Twenge (2017) analisa os efeitos do uso intensivo dessas plataformas, associando-os a problemas de saúde mental, como aumento da ansiedade e da depressão. Além disso, a cultura da "imediatidade", incentivada pelas redes, compromete a capacidade dos jovens de planejar e executar projetos de longo prazo, gerando um ciclo de busca constante por recompensas instantâneas, o que afeta o comprometimento com o aprendizado e o desenvolvimento profissional.

Oportunidades no Ambiente Digital

    Apesar dos desafios, a tecnologia também oferece inúmeras oportunidades para a educação. O ambiente digital permite uma personalização inédita do aprendizado, adequando os conteúdos ao ritmo e às preferências de cada estudante.

Personalização do Aprendizado

    A personalização, promovida por plataformas como Coursera e Khan Academy, é uma das principais vantagens do aprendizado digital. Essas plataformas permitem que os estudantes escolham os conteúdos mais adequados às suas necessidades, proporcionando um aprendizado sob demanda. Entretanto, Means et al. (2014) alertam para a importância de um suporte estruturado, uma vez que a liberdade excessiva pode levar à dispersão, dificultando a continuidade e a profundidade no aprendizado.

Propostas Colaborativas e Desenvolvimento de Habilidades

    Projetos colaborativos, como hackathons e startups, apresentam uma forma prática de aplicar o aprendizado e desenvolver habilidades alinhadas ao mercado de trabalho. Johnson et al. (2016) defendem que essas iniciativas incentivam a resolução de problemas, o trabalho em equipe e a criatividade, aproximando a academia das demandas reais da sociedade e promovendo um aprendizado com propósito.

Educação Digital com Propósito

    A integração da tecnologia no ensino deve ser estratégica, adotando metodologias ativas que promovam a participação ativa dos estudantes. A sala de aula invertida e o aprendizado baseado em projetos (Bergmann & Sams, 2012) são exemplos de práticas que colocam o aluno no centro do processo de aprendizado, incentivando o uso da tecnologia como uma ferramenta para resolver problemas e alcançar objetivos reais.

Propostas de Paulo Freire: Educação Crítica no Contexto Digital

    Inspirada pelas ideias de Paulo Freire, a educação no contexto digital deve ir além da simples transmissão de informações, promovendo uma análise crítica e transformadora do conhecimento. Freire (1970) propõe uma educação que capacite os alunos a questionarem e reconstruírem o mundo ao seu redor. No contexto digital, essa abordagem se torna essencial, pois a vasta disponibilidade de informações exige que os estudantes desenvolvam habilidades críticas para analisar e interpretar conteúdos de forma consciente e autônoma.

Mentoria Digital e Personalização do Aprendizado

    Programas de mentoria digital, associados ao uso de inteligência artificial, surgem como uma solução promissora para orientar os estudantes em suas trajetórias acadêmicas e profissionais. DuBois et al. (2011) destacam que a mentoria digital, quando bem estruturada, pode ajudar os jovens a manterem o foco, desenvolvendo habilidades específicas e promovendo uma experiência de aprendizado mais alinhada com seus objetivos.

Considerações finais -  Oportunidades e Desafios do Mundo Digital

  O contexto digital contemporâneo oferece uma riqueza de oportunidades para a educação, possibilitando personalização, acesso a recursos globais e o desenvolvimento de novas competências. No entanto, para que as gerações Y e Z tirem proveito total dessas ferramentas, é necessário um uso consciente e orientado da tecnologia. Educadores, famílias e programas de mentoria desempenham um papel essencial ao orientar os jovens para um uso produtivo das ferramentas digitais, equilibrando o desenvolvimento pessoal com o aprimoramento das habilidades profissionais. Assim, o desafio consiste em formar indivíduos que não apenas consumam tecnologia, mas que também a utilizem de forma crítica e transformadora, contribuindo para uma sociedade mais consciente e capacitada.


Referências

Bauman, Z. (2000). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Bergmann, J., & Sams, A. (2016). Sala de aula invertida: Uma metodologia ativa de aprendizagem. Porto Alegre: Penso.

Carr, N. (2011). A geração superficial: O que a internet está fazendo com os nossos cérebros. Rio de Janeiro: Agir.

Castells, M. (2003). A galáxia da internet: Reflexões sobre a internet, negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar.

DuBois, D. L., et al. (2012). "Programas de mentoria para jovens: Uma revisão meta-analítica." Revista de Adolescência e Juventude, 41(1), 45-60.

Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Johnson, L., et al. (2016). Relatório NMC Horizon: Edição de Educação Superior 2016. Austin, Texas: New Media Consortium.

Means, B., et al. (2015). Aprendizagem online: O que a pesquisa nos diz sobre como, quando e se funciona. São Paulo: Penso.

Prensky, M. (2012). Nativos digitais, imigrantes digitais. Porto Alegre: Penso.

Tapscott, D. (2010). Geração digital: A influência da internet sobre os jovens de hoje. Porto Alegre: Bookman.

Twenge, J. (2018). iGen: Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes – e despreparadas para a idade adulta – e o que isso significa para todos nós. São Paulo: Companhia das Letras.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Como a Teoria de Bandura Pode Ajudar no Nosso Comportamento e Crescimento Pessoal

Introdução

Já se perguntou por que às vezes a gente acaba fazendo coisas que sabemos que não são legais? Ou por que algumas atitudes são mais fáceis de justificar do que outras, mesmo que no fundo saibamos que não deveríamos tê-las feito? Essas perguntas estão diretamente relacionadas com o que o psicólogo Albert Bandura estudou em sua teoria da aprendizagem social. O pensamento de Bandura pode parecer complicado à primeira vista, mas ele é superimportante para entender o nosso comportamento e como a gente pode melhorar como pessoa. Hoje, vamos explorar essa teoria de forma simples, e como ela pode nos ajudar a refletir sobre nossas atitudes e a crescer moralmente.

Quem foi Albert Bandura?

 Albert Bandura foi um psicólogo canadense que revolucionou a forma como entendemos o comportamento humano. Em vez de focar só no que fazemos de forma automática ou instintiva, Bandura mostrou que aprendemos muito observando os outros. Ele percebeu que o ambiente à nossa volta e as pessoas com quem convivemos afetam diretamente nossas escolhas, nossas atitudes e até como pensamos sobre nós mesmos.

Por exemplo, quando você vê alguém que admira fazendo algo legal ou positivo, você provavelmente vai querer imitar aquela atitude. Da mesma forma, se um grupo de amigos faz algo errado, pode ser mais fácil justificar seguir a mesma linha. Bandura chamou isso de aprendizagem por observação, e isso pode nos ensinar coisas boas ou ruins, dependendo do que estamos observando e quem estamos imitando.

Os mecanismos de desregramento moral

Além de estudar como aprendemos observando os outros, Bandura também foi fundo em outra questão: como as pessoas justificam comportamentos errados. Às vezes, podemos saber que algo não é certo, mas mesmo assim encontramos formas de explicar para nós mesmos que, naquela situação, aquilo foi "aceitável". Esses são os mecanismos de desregramento moral.

Vamos explicar alguns deles e, o mais importante, como podemos evitá-los:

  1. Justificação Moral: Esse é o famoso "os fins justificam os meios". Significa que fazemos algo errado, mas justificamos dizendo que é por uma "causa maior". Um exemplo é mentir para um professor sobre uma atividade escolar e depois pensar: "ah, foi só uma mentirinha para não ser punido". Para superar isso, precisamos sempre nos perguntar: será que o que fiz vai realmente trazer algo de bom, ou só estou arranjando uma desculpa para um erro?
  2. Comparação Vantajosa: Esse mecanismo faz com que a gente compare nossas atitudes com algo pior para parecer que o que fizemos não é tão grave. Por exemplo, “eu só empurrei meu colega, tem gente que agride muito pior”. O problema aqui é que a comparação faz parecer que o erro é pequeno, quando na verdade continua sendo um erro. A ideia é pensar sobre nossos atos por eles mesmos, sem tentar minimizar as coisas comparando com algo pior.
  3. Eufemismo: Já ouviu falar em "suavizar" a realidade? Quando a gente usa palavras mais leves para algo que, na verdade, foi ruim, estamos usando o eufemismo. Chamamos uma atitude agressiva de "brincadeira" ou uma mentira de "desculpinha". Reconhecer a gravidade das nossas ações, usando a linguagem correta, é o primeiro passo para não cair nessa armadilha.
  4. Deslocamento de Responsabilidade: Esse é o famoso "foi culpa de outra pessoa". A gente joga a responsabilidade para alguém que está no comando, como um amigo ou até um adulto. Mas a verdade é que, no final, cada um é responsável por suas próprias escolhas. É importante perceber que, mesmo quando estamos em grupo ou recebemos uma ordem, sempre podemos decidir o que vamos fazer.
  5. Difusão de Responsabilidade: Quando estamos em grupo, podemos achar que a responsabilidade é "diluída" entre todo mundo, e assim não nos sentimos culpados pelo que fizemos. É quando você diz “todo mundo estava fazendo”. Para evitar isso, precisamos entender que mesmo em grupo, cada um tem responsabilidade individual pelas suas ações.
  6. Desumanização: Às vezes, para justificar atitudes ruins, a gente trata o outro como se ele fosse "menos humano", ou seja, como se a pessoa não tivesse sentimentos ou valor. É o que acontece quando usamos apelidos pejorativos ou fazemos bullying. Superar isso requer uma boa dose de empatia: entender que o outro sente e sofre tanto quanto nós.
  7. Atribuição de Culpa às Vítimas: Esse mecanismo faz com que culpemos quem sofreu a consequência do nosso ato. Por exemplo, "ele mereceu, porque me provocou". Mas, será que isso é mesmo uma justificativa? A responsabilidade pelos nossos atos é nossa, independentemente do que o outro fez ou deixou de fazer.
  8. Desconsideração das Consequências: Esse mecanismo acontece quando minimizamos o impacto das nossas ações. Fingimos que as consequências não foram tão ruins assim, ou nem pensamos nelas. É importante parar e refletir sobre como nossas atitudes afetam os outros e o mundo à nossa volta. Isso nos ajuda a agir de forma mais consciente.

Por que isso é importante para o nosso desenvolvimento?

Entender os mecanismos de desregramento moral é um passo importante para nosso crescimento pessoal. Quanto mais conscientes formos das formas que usamos para justificar comportamentos errados, mais preparados estaremos para evitá-los. Isso nos ajuda a desenvolver autocontrole, a melhorar nossa autoeficácia (ou seja, a crença na nossa capacidade de fazer o que é certo) e a construir relacionamentos mais saudáveis e respeitosos.

Além disso, a compreensão dos mecanismos de desregramento nos ajuda a resistir à pressão dos outros e a fazer escolhas melhores, baseadas em nossos próprios valores, e não no que os outros esperam ou fazem. Com isso, crescemos não só como indivíduos, mas também como parte da sociedade, já que nosso comportamento afeta quem está ao nosso redor.

Conclusão:

Bandura nos mostra que não somos passivos diante do que acontece ao nosso redor. Aprendemos observando, mas também podemos escolher como agir. Compreender os mecanismos de desregramento moral nos ajuda a reconhecer quando estamos usando desculpas para justificar comportamentos inadequados e, assim, podemos evitar essas armadilhas. Ao desenvolver nossa empatia, responsabilidade pessoal e autoconsciência, damos passos importantes para um comportamento mais ético e para o crescimento moral, que vão nos acompanhar para o resto da vida.

O que achou dessa reflexão? Se você quiser ir mais a fundo, comece a observar suas próprias atitudes e veja se algum desses mecanismos aparece no seu dia a dia. Aposto que, ao perceber, você vai se sentir mais confiante para melhorar e ser uma versão cada vez melhor de si mesmo!

segunda-feira, 3 de julho de 2023

A Ler: A arte de fazer perguntas

A Ler: A arte de fazer perguntas: Como é que empresas como Google, a Nike e a Netflix se “alimentam” da capacidade de fazer perguntas?  Isso foi o que o jornalista Warren Berger...

domingo, 16 de setembro de 2018

O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA


O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA

“A filosofia é um despertar para ver e mudar o mundo” (Merleau-Ponty)



Uma jovem estudante de filosofia no ensino médio ao ser inquietada com a pergunta para quê filosofia? Disse aos colegas da sala que filosofia é a componente curricular em que “o professor navega e os alunos bóiam”, ela não deixa de ter razão; mas “o boiar” tem diversas causas: os jovens foram impedidos de serem pensadores a não ser quando assumia esta tarefa a revelia, outros professores constataram esta mesma problemática e compactuam da ideias de que é a filosofia é o  componente curricular que devolverá ao jovem a ousadia de protestar de forma inteligente e exercer sua cidadania ativa, mas este salto de qualidade tem como protagonista os próprios jovens estudantes de filosofia. É tarefa da filosofia:
ü  Estimular o espírito crítico sem assumir atitude dogmática e/ou doutrinária;
ü  Valorizar no educando a busca de uma “atitude filosófica” face às questões de diversos âmbitos em vista de proporcionar uma reflexão crítica e formadora de opinião dialética;
ü  Debater tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição em face de argumentos mais consistentes;
É obvio que o ensino de filosofia só a partir do ensino médio não é a solução! Há muitas experiências de filosofia para as crianças, à volta de uma componente curricular que estava ausente da vida escolar (a filosofia) contribuirá para que os jovens percebam que existe uma pluralidade de teorias filosóficas, discussões sistemáticas e metódicas que lhes possibilitarão uma melhor visão de mundo e da realidade, ajudando-os a exercitarem o senso crítico, ou seja: a restituir-lhes o rigor no pensamento e o desenvolvimento cultural.
É uma incumbência da educação contribuir na formação do ser humano em todas suas dimensões. Neste campo a filosofia cooperará, pois cada um deverá ocupar o seu irrenunciável espaço no mundo, realizando assim, seu projeto existencial e, desta maneira resgatando a sua cidadania enquanto sujeito consciente, crítico e construtivo no interior do corpo social.
A filosofia se propõe a auxiliar os educandos na descoberta de sua vocação filosófica, despertando nos mesmos as seguintes atitudes fundamentais: admiração, a dúvida metódica, a insatisfação moral e ainda a indignação ética.
É também tarefa da filosofia na educação auxiliar-nos na compreensão do ser humano, na complexidade das organizações sociais; sobre o espírito de cidadania, sobre o voluntariado; sobre a solidariedade; corresponsabilidade; etc... e a realidade passível de mudanças.
Para desenvolver tais habilidades nossos jovens precisam acordar e decidir pela racionalidade filosófica assumindo novas posturas tais como:
Aprender, gostar e amar a leitura: sabemos que a maioria dos jovens lê pouco e tem dificuldade de compreenderem o que lê;
Cuidar da atenção: muitos dos jovens estudantes não conseguem se desligar para sintonizar, eles estão em mil lugares menos na escola preocupados com o estudo;
Trabalhar em grupo: tem dificuldade de estabelecer e respeitar normas de convivência e de relacionalidade e aqui a intervenção do dos educadores é muito importante neste processo de apropriação do saber de forma coletiva;
Fazer conexões: há uma grande dificuldade de relacionar o estudo com os fatos do cotidiano e até dos fatos sociais;
Eu acredito que esta problemática só será resolvida quando os jovens se enamorarem da leitura dos textos, tiverem acesso a bibliotecas com subsídios didáticos e paradidáticos, terem condições e espaço de leitura e, após a leitura, poderem parar para elaborar por escrito o que se apropriou de modo reflexivo; e, ainda; articular os conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais;
Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; no entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico tecnológico.
Por mais que se tente fazer com que eles assumam esta nova postura diante do estudo de filosofia a maioria parece apática o que levou uma jovem estudante dizer que “só iremos perceber a importância da filosofia quando descobrirmos que perdemos o tempo, não a valorizando desde esta oportunidade que ora estamos tendo”.
Mas a sensatez faz me dispor também de outras observações vindas de outros contextos, mas que podem ajudar-nos.
Diz-me outra interlocutora: “o grande problema das observações feitas sobre os mais jovens, é que tais observações não são feitas por pessoas “mais jovens”; por pessoas que já foram adolescentes um dia, e que cresceram e ao crescerem viveram a vida, correram, esperaram, experimentaram.
E, por tanto viver, correr e principalmente experimentar aprenderam. Aprenderam a ter mais paciência, a serem mais perseverantes, a serem ousados dentro do limite da segurança e do possível. Aprenderam que é preciso silêncio para apreciar a beleza da música, que é preciso calar para melhor ouvir, que é preciso concentração para poder pensar. Aprenderam (ou pensam que aprenderam) a distinguir o bom do mau, o perigoso do seguro e por essa razão acreditam que podem ajudar os mais jovens a “saltar determinados obstáculos” que poderão trazer-lhes dor e sofrimentos às suas vidas. Acreditam que do alto de sua sabedoria, oriundas das experiências já vividas, poderão ajudá-los a trilhar pelos caminhos menos tortuosos e, portanto, mais felizes. Os adultos têm certa razão.
Ocorre, porém, que tais pessoas, também conhecidas como adultas, muitas vezes se esqueceram que a juventude é acima de tudo a idade do experimento, das descobertas, das mudanças e das buscas.
Por mais nobres que sejam nossas intenções, não podemos frear a energia que impulsiona os jovens à “pesquisa”, ao experimento que os levam a descobertas.
Penso que de certa forma seria muito bom poupá-los de transtornos que atitudes impensadas podem trazer, entretanto, não posso deixar de pensar que ao mesmo tempo estaríamos impedindo-os de viver efetivamente, ou pelo menos lhes tirando o doce gosto que a vida tem quando ainda não fomos moldados (para não dizer aprisionados) pelos ditames impostos por uma sociedade decadente e hipócrita, onde só rimos no momento certo (ainda que não seja engraçado) e só choramos quando for conveniente.
Deveríamos lembrar mais vezes que “é errando que se aprende” e assim aprendermos a adotar uma postura diversa da que ora temos, orientando sempre os jovens para a vida, contudo, sem impedi-los de viver.
O “livre arbítrio”, é dom de Deus e foi dado a todos como a capacidade de escolher, os jovens também estão aí inclusos. Assim, não cabe aos mais velhos escolher por eles, mas, através de atitudes (mais do que palavras) ajudá-los a escolher, a decidir - fundado no respeito e na responsabilidade, sem nunca perder seu jeito “jovialmente faceiro” de viver.
Mas se nós (adultos) estamos contribuindo através do pensamento filosófico no meio juvenil, vejo como um momento de oportunidade única para a juventude – que tem muita dificuldade para pensar antes de agir”.
Se os jovens justificam que “é errando que se aprende” digo que necessariamente não é preciso errar para aprender
Se os jovens fazem aquilo que lhes vem à mente, digo que o agir impulsivo freia a capacidade de racionalidade.
É preciso ter os pés no chão buscando sempre distanciar das aventuras que nos tiram da realidade e não nos aterriza na realidade da vida.
Se a racionalidade é o dom mais precioso do ser humano, que nos distingue do animal, é agora a hora de agirmos racionalmente medindo sempre as conseqüências de nossas ações.
Acredito que em um ambiente filosófico, todos poderão ter voz e vez e os jovens encontrarão respostas aos diversos problemas que precisam de uma mediação. Creio que os professores de filosofia (não excluindo os demais, é claro) poderão ser os interlocutores de diversos problemas no meio juvenil. É por isso que os jovens precisam aprender a agora de falar e de calar, pedindo sempre a palavra e respeitando a vez do outro, não podemos, em grupo, salas superlotadas, falar todos ao mesmo tempo, mas se organizarmos todos poderão ter seu espaço de expressão do pensamento colaborando assim com a construção de sujeitos capazes de tomar decisões e não apenas de apertar botões.
A juventude é uma fase – talvez a inesquecível para muitos, mas também amarguradas para tantos outros, a vida é sempre uma oportunidade e o que nos espera é sempre uma surpresa, a próxima estação é a maturidade, mas suas raízes são fortalecidas na juventude, pois o mundo adulto nos espera. Não dá para ter certeza do futuro, o que existe é o presente – é agora a hora de optar e assumir a caminhada com maior convicção, sem vergonha de olhar para o passado. Como falara um poeta anônimo que “a vida nos é dada para  grandes feitos”.