domingo, 22 de março de 2009

Pressupostos teóricos para uma prática pedagógica encantadora do real.

Pressupostos teóricos para uma prática pedagógica encantadora do real.

Prof. José Igídio dos Santos[1]

É tarefa irrenunciável ao educador a atitude filosófica de contemplação e indignação ética. De fato estas duas exigências supõem conexão com os acontecimentos e situações de seu contexto hodierno. Despertar no educando dos tempos atuais um assentimento de atenção e abertura exige um reinventar do processo pedagógico que é o objeto de diálogo deste artigo. A educação precisa ser uma prática pedagógica de sentido existencial e o ambiente escolar deve despertar no educando a vontade de aprender a aprender em conexão com o mundo sem deixar de valorizar suas experiências sensório-motoras.
Tanto o aprender como o educar é alvo de muitas discensões entre muitos educadores, pois estas práticas não indicam caminhos claros de como “ser humano” nos tempos atuais. Faz-se necessário alguns pressupostos teóricos para instaurarmos uma prática pedagógica encantadora do real, que a nosso ver, se encontra na vitalização de um processo de engajamento do educando em seu “quê fazer escolar cotidiano”.
O ensino-aprendizagem precisa ser processual, pois não é um fim em si mesmo. Tornar a tarefa educativa agradável, prazerosa é uma exigência dos tempos atuais. Na escola é necessário desenvolver um espírito científico que emana da curiosidade em busca de respostas às situações- problemas do cotidiano.
Desde as primeiras experiências educacionais (família) os educandos precisam encontrar ambiente que favoreça sua formação. O “boom” educacional começa em casa e acompanha o educando à instituição de ensino. É fundamental que o educando encontre um ambiente familiar que lhe possibilite acesso cultural, condições de tranqüilidade para ler, fazer as obrigações escolares, que se caracterizam em elementos cultivadores e inspiradores da sapiência global. O ato de ler dá condições de o educando capacitar-se para decifrar os códigos de linguagem que a realidade hoje exige com atenção à complexidade do pluralismo cultural, étnico e social aos quais nosso mundo globalizado está submetido.
Propiciar ao educando as mais diversas experiências de aprendizagem constituirá uma grande tarefa aos educadores dos tempos atuais. Pois devemos superar os antigos métodos educacionais (transferência de conhecimentos) para uma compreensão de que ensinar é propiciar situações de aprendizagem que sejam vivenciais e que tenham sentido para as vidas dos educandos, superando a visão conteudista para uma proposta educacional mais humanista e culturalista. A cada momento da nossa existência nossa percepção de mundo vai se ampliando.
É o que acontece quando retomamos uma leitura que fizemos quando éramos infantes, perceberemos novas perspectivas a partir do referencial das experiências obtidas na adolescência, juventude ou idade adulta, o texto adquire “novas cores e sabores”. O mesmo acontece com os filmes que vemos e obras de artes que contemplamos... Isto acontece por que nossa capacidade de abstração amplia-se a partir da convivialidade sócio-cultural.
É tarefa do educador de hoje encontrar o fundamento teórico para sua prática pedagógica, passar da prédica para o processo construtivo de conhecimento, estabelecendo acordos pedagógicos que envolvam o educando no processo educacional. É fundamentando o trabalho pedagógico em conceitos teóricos sólidos que os educadores deverão propor justificativas e objetivos que ultrapassem as propostas alienantes de ensino-aprendizagem que intenta prescindir do processo reflexivo. Na prática, estabelecemos uma relação com o meio cultural e social aperfeiçoando nossa inserção educacional servindo-nos do método empírico e analítico como uma “ação projetada, refletida, consciente, transformadora do natural, do homem e do social". (PEREIRA, Otaviano. O que é teoria, Brasiliense, 2003). Como cita Paulo Freire em seu livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, o educador "precisa estar convencido [...] ser seu trabalho uma especificidade humana. [...] a condição humana fundante da educação é precisamente a inclusão de nosso ser histórico [...] produzida e desafiada. [...] como seres programados, mas para aprender e, portanto, para ensinar, para conhecer, intervir [...] em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos". (op. cit, 1996. pp.143, 145, grifo nosso).

[1] Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Psicopedagogo. É Docente na Rede Pública do Estado de São Paulo e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco (FAECA) – Monte Aprazível-SP.

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