domingo, 22 de março de 2009

O milagre de viver como brasileiro

O milagre de viver como brasileiro
José Igídio dos Santos*

Quando se fala em milagre pensamos em algo incrível e de difícil concretização a não ser com uma intervenção divina. E quando se aplica está perspectiva para os “milagres econômicos” uma expectativa é que este beneficie os pobres, mas o que se verifica é que a melhor fatia do bolo sempre fica com os abastados enriquecidos à custa dos pobres, facilmente silenciados por “esmolas” de planos econômicos de subsistência e não de dignidade.
Na história, o chamado milagre econômico brasileiro se baseava em uma ideologia que inculcava em nossas cabeças: é necessário fazer o bolo crescer para, depois, dividi-lo entre todos. Realmente o fermento da euforia ajudou o bolo a crescer, no entanto, a tão esperada divisão não aconteceu, pois o bolo crescido deveria “alimentar melhor as elites e oligarquias” acentuando o empobrecimento das massas; o povo empobrecido ficou "a ver navios".
No Brasil assistimos uma escandalosa concentração de renda em escala mundial em detrimento das condições de vida com dignidade para a maioria da população empobrecida que vive a mercê das “esmolas governamentais” com a fachada da distribuição de renda.
Vemos que aumentou a multidão dos despossuídos, estes não são vítimas do deserdamento e sim do sistema econômico que privilegia o ter ao ser. Observamos o Brasil ainda em 70º. lugar no IDH, a fome ainda é real para uma grande parte da população que têm benesses de programas governamentais e mesmo assim com uma série de irregularidades.
A situação a que chegamos é grave, vimos o aumento “dos sem” (emprego, saúde, casa, terra, dignidade). Nas grandes cidades a situação de opressão, fome e miséria tomam conta das ruas. Estes, a mercê desta situação partem para a criminalidade operacionando o dito popular "mente vazia, oficina do diabo". Outros, partem para a mendicância como via alternativa às suas necessidades. Muitas vezes estes “pobres coitados” são chamados de vagabundos. O fato é que o Brasil é um país de acentuada desigualdade social. Vimos de um lado a opulência desmedida da burguesia que começam a temer os pobres que sobrevivem apesar da pobreza. Nos noticiários cotidianos vemos o crescente índice de crimes que espanta e apavora a todos. Há um clima de desconfiança e temor geral. A população vive assustada, deprimida, depressiva, o dia-a-dia passa a ser de tortura devido ao risco de assaltos e a proliferação dos seqüestros relâmpagos.
A desconfiança assola o empreendedorismo onde o descrédito acentuou as relações econômicas de insegurança que não está mais ancorada em contratos, estes já não são cumpridos.
O momento da crise econômica mundial revela que a salvação não está na economia e comércio livres e tampouco no poder do Estado como superestrutura, mas no equilíbrio e relações harmônicas entre as duas instâncias sem, contudo, desvalorizar a vida humana e a natureza, nossa casa comum espaço sagrado e inviolável. A economia não pode ser a única reguladora da vida em sociedade, o empreendimento mercadológico e os fluxos de capitais acentuaram a crise econômica mundial demonstrando que é tempo de cultivar valores e bens que dinheiro não compre.
É tarefa de toda a sociedade dar condições de melhorar a qualidade da vida aos cidadãos e cidadãs e para tanto, é necessário a emergência de uma nova ordem econômica mundial. Superar as prédicas e colocar em prática a ética dos valores que foram perdidos, tais como a preocupação com o outro em torno da solidariedade e da partilha. A justiça precisa funcionar, pois o que caracteriza o verdadeiro milagre brasileiro é a paciência inesgotável de seu povo, que apático perdeu a insolência de indignar-se.

*Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Psicopedagogo. Docente na Rede Estadual de São Paulo e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco (FAECA), Monte Aprazível-SP.

A 1ª. Carta de São Paulo aos Coríntios, hoje

A 1ª. Carta de São Paulo aos Coríntios, hoje
(com adaptações).

Se eu aprender inglês, francês, espanhol, alemão e chinês e dezenas de outros idiomas, mas não souber comunicar como pessoa, de nada valem todas as minhas palavras.

Se eu concluir um curso superior, e frequentar cursos e mais cursos de atualização, mas viver distante dos problemas dos outros, a minha cultura não passa de uma inútil erudição.

Se eu morar no Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste..., mas desconhecer os sofrimentos da minha região, e seguir para as férias para ilhas cristalinas ... ou para o estrangeiro, e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão.

Se eu possuir a melhor casa da minha rua, a roupa mais cara e andar sempre na última moda, e não me lembrar que sou responsável por aqueles que moram na minha cidade, que andam descalços e esfarrapados, sou apenas um manequim colorido.

Se eu passar o fim de semana em festas, “boites” e farras, sem ver a fome, o desemprego, o analfabetismo e a doença, sem escutar o grito abafado do povo que se arrasta à margem da história, não sirvo para nada.

O cristão não foge dos desafios da sua época. Não fica de braços cruzados, de boca fechada, de cabeça vazia. Não tolera a injustiça nem as desigualdades gritantes do nosso mundo.

Luta pela verdade e pela justiça com as armas do AMOR. O cristão não desanima, nem desespera diante das derrotas e das dificuldades, porque sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isso é o AMOR.
(D.A)

Pressupostos teóricos para uma prática pedagógica encantadora do real.

Pressupostos teóricos para uma prática pedagógica encantadora do real.

Prof. José Igídio dos Santos[1]

É tarefa irrenunciável ao educador a atitude filosófica de contemplação e indignação ética. De fato estas duas exigências supõem conexão com os acontecimentos e situações de seu contexto hodierno. Despertar no educando dos tempos atuais um assentimento de atenção e abertura exige um reinventar do processo pedagógico que é o objeto de diálogo deste artigo. A educação precisa ser uma prática pedagógica de sentido existencial e o ambiente escolar deve despertar no educando a vontade de aprender a aprender em conexão com o mundo sem deixar de valorizar suas experiências sensório-motoras.
Tanto o aprender como o educar é alvo de muitas discensões entre muitos educadores, pois estas práticas não indicam caminhos claros de como “ser humano” nos tempos atuais. Faz-se necessário alguns pressupostos teóricos para instaurarmos uma prática pedagógica encantadora do real, que a nosso ver, se encontra na vitalização de um processo de engajamento do educando em seu “quê fazer escolar cotidiano”.
O ensino-aprendizagem precisa ser processual, pois não é um fim em si mesmo. Tornar a tarefa educativa agradável, prazerosa é uma exigência dos tempos atuais. Na escola é necessário desenvolver um espírito científico que emana da curiosidade em busca de respostas às situações- problemas do cotidiano.
Desde as primeiras experiências educacionais (família) os educandos precisam encontrar ambiente que favoreça sua formação. O “boom” educacional começa em casa e acompanha o educando à instituição de ensino. É fundamental que o educando encontre um ambiente familiar que lhe possibilite acesso cultural, condições de tranqüilidade para ler, fazer as obrigações escolares, que se caracterizam em elementos cultivadores e inspiradores da sapiência global. O ato de ler dá condições de o educando capacitar-se para decifrar os códigos de linguagem que a realidade hoje exige com atenção à complexidade do pluralismo cultural, étnico e social aos quais nosso mundo globalizado está submetido.
Propiciar ao educando as mais diversas experiências de aprendizagem constituirá uma grande tarefa aos educadores dos tempos atuais. Pois devemos superar os antigos métodos educacionais (transferência de conhecimentos) para uma compreensão de que ensinar é propiciar situações de aprendizagem que sejam vivenciais e que tenham sentido para as vidas dos educandos, superando a visão conteudista para uma proposta educacional mais humanista e culturalista. A cada momento da nossa existência nossa percepção de mundo vai se ampliando.
É o que acontece quando retomamos uma leitura que fizemos quando éramos infantes, perceberemos novas perspectivas a partir do referencial das experiências obtidas na adolescência, juventude ou idade adulta, o texto adquire “novas cores e sabores”. O mesmo acontece com os filmes que vemos e obras de artes que contemplamos... Isto acontece por que nossa capacidade de abstração amplia-se a partir da convivialidade sócio-cultural.
É tarefa do educador de hoje encontrar o fundamento teórico para sua prática pedagógica, passar da prédica para o processo construtivo de conhecimento, estabelecendo acordos pedagógicos que envolvam o educando no processo educacional. É fundamentando o trabalho pedagógico em conceitos teóricos sólidos que os educadores deverão propor justificativas e objetivos que ultrapassem as propostas alienantes de ensino-aprendizagem que intenta prescindir do processo reflexivo. Na prática, estabelecemos uma relação com o meio cultural e social aperfeiçoando nossa inserção educacional servindo-nos do método empírico e analítico como uma “ação projetada, refletida, consciente, transformadora do natural, do homem e do social". (PEREIRA, Otaviano. O que é teoria, Brasiliense, 2003). Como cita Paulo Freire em seu livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, o educador "precisa estar convencido [...] ser seu trabalho uma especificidade humana. [...] a condição humana fundante da educação é precisamente a inclusão de nosso ser histórico [...] produzida e desafiada. [...] como seres programados, mas para aprender e, portanto, para ensinar, para conhecer, intervir [...] em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos". (op. cit, 1996. pp.143, 145, grifo nosso).

[1] Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Psicopedagogo. É Docente na Rede Pública do Estado de São Paulo e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco (FAECA) – Monte Aprazível-SP.

A Educação Ecológica - um grito de esperança

A Educação Ecológica - um grito de esperança[1]
“Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e pode assim chegar a saber mais em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem, possam igualmente saber mais”
(Paulo Freire – Pedagogo e Educador)

Existem diferentes explicações para a origem do mundo e do ser humano. Tudo depende das raízes culturais que uma pessoa possui. De qualquer forma, não podemos fugir da história e, temos de nos lembrar que há muito tempo atrás o homem e a mulher viviam em harmonia com a Mãe-Terra. Hoje, porém, com maior freqüência, “aparecem” desequilíbrios ecológicos, poluição do ar, contaminação da terra e das águas, extinção de espécies animais, desmatamento, queimadas, etc...
A lembrança da harmonia primitiva resgata dentro de nós o sonho pelo qual todas as coisas foram feitas. “Embora todas as coisas partilhem deste sonho, nós, os seres humanos, dele partilhamos de modo singular. E aqui reside o encanto, a magia do mundo em que vivemos, seu mistério”[2]. O nosso maior fracasso seria que nos tornássemos o instrumento do esfacelamento deste sonho.
Tão raramente paramos para pensar sobre a nossa existência e o futuro do nosso planeta. Nos faltam a coragem necessária para perceber os limites que o desenvolvimento tecnológico enfrenta, (o mito do desenvolvimento econômico[3] caiu por terra), o espírito de defesa e preservação do planeta esta longe de ser uma prática humana, e até mesmo a educação ecológica. Algumas vezes até falamos em preservação da natureza, mas não tomamos medidas concretas, ao nosso alcance (educação ambiental), para que a situação não se agrave ainda mais. Com maior facilidade, através da nossa omissão, contribuímos para a morte do planeta e de nós mesmos.
Pensemos com seriedade na Educação? Ela está sendo instrumento para o fortalecimento da vida? Ou está levando para o conformismo diante de tantas situações de morte? Será que desperta em nós o espírito crítico para percebermos que o problema ecológico passa por uma falta ética na economia, na política, na cultura, na religião?
Não é possível vivermos como se fôssemos estranhos uns para os outros e fazendo de conta que não temos nada em comum. Justamente a luta ecológica é o que mais deveria nos aproximar, nos tornar irmãos e irmãs e capazes de realizar ações conjuntas.
Portanto, faz-se urgente a gestação de projetos alternativos nas áreas da agricultura, da indústria, da exploração do solo, da reciclagem do lixo, entre outras. Perguntemo-nos: que ações há neste sentido em nossa escola, em nossa cidade, em nosso país? Quantas pessoas seriam beneficiadas na gestação e concretização de novos projetos que possibilitassem uma convivência harmoniosa com a natureza?
· Se houvesse em cada cidade uma “usina de reciclagem do lixo que não é lixo”;
· Se houvesse em cada Escola projetos alternativos de conscientização dos educandos para o cuidado com o meio ambiente;
· Se nos conscientizássemos de fato sobre o perigo do tabagismo, considerando-o como caminho para a morte;
· Se buscássemos alimentos mais naturais,
· Se não desperdiçássemos água e evitássemos queimadas;
· Se plantássemos árvores e cultivássemos flores;
E ainda, nos empenhássemos para que não houvesse concentração de terras em poucas mãos.
Percebemos que os movimentos sociais hoje, mais ainda do que ontem, têm uma grande tarefa a cumprir – dar vida ao nosso país: lutar contra as diversas propostas que impõem um modelo social de exclusão e de desrespeito ao meio ambiente.
Acredito que os movimentos sociais são hoje um apelo, um grito por vida e por libertação. Pois ainda falta muita seriedade política para que se resolva a problemática da terra, da habitação, da fome e da educação no Brasil. É preciso uma luta conjunta para uma reforma urbana (possibilitando aos cidadãos a dignidade da moradia) e aos vocacionados a terra sua volta ao campo – o êxodo urbano - realizando uma verdadeira reforma agrária o que para a maioria desempregada seria a única alternativa capaz de livra-la da delinqüência e da marginalidade as quais muitos jovens e adultos estão submetidos.
Para que a vida floresça de novo em nosso meio é necessário um trabalho de valorização do homem do campo e de seu trabalho quase sempre pago de forma iníqua. Isto com certeza pode aumentar a qualidade de vida de mais pessoas e fazer com que tenhamos uma melhor distribuição dos bens que são pertencentes à humanidade e não a algumas pessoas privilegiadas. A terra é dom de Deus – e pertence a seus filhos e filhas. Pois “tudo que fizermos aos filhos da terra estamos fazendo à Mãe terra”.
“É difícil alterar uma decisão de fundo. Lembremos o que aconteceu ao Titanic, em sua primeira viagem. Havia evidência suficiente que encontrariam icebergs pelo caminho. Manteve-se, contudo a rota programada, e ninguém quis alterar o rumo. Havia ilimitada confiança na capacidade de sobrevivência da nave e, aliás, já era bastante preocupar-se em manter a simples rotina normal da viagem ...”[4] Não temos muitas vezes a energia necessária para alterar nosso modo de agir. No caso do futuro do planeta, dispomos ainda de algum tempo para a mudança de rumo, para abandonar o modelo econômico neoliberal, explorador, e adotar um modelo econômico de cunho mais ecológico. Projetos como a lei de biosegurança e transgenia, por exemplo, precisam ser melhor discutidos com a sociedade retirando sempre o caráter pragmático e imediatista das decisões políticas.
Quando sonhamos com a Vida e a Esperança sonhamos com um mundo mais harmonizado, com amor e paz. A paz é fruto da justiça! O primeiro passo de nosso grande sonho, na realidade concreta em que vivemos, é salvar a vida, ameaçada de morte por todos os lados.

Questionamento

1 – Como cultivar a responsabilidade com o planeta e a harmonia nas relações humanas e com a natureza?
2 – Qual é a nossa tarefa como educando e educadores para gestar uma nova forma de convivência e participação social na construção de novas relações?

[1] José Igídio dos Santos, licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia pelo CEARP e Psicopedagogo – Professor universitário em Monte Aprazível – SP e da rede pública estadual em Fernandópolis - SP.
[2] Berry, Thomas. O Sonho da Terra, Ed. Vozes,1991, in passin.
[3] A economia é a arte de administrar os recursos escassos a fim de que eles atendam as ilimitadas necessidades humanas. (D.a)
[4] Berry, Thomas. O Sonho da Terra, Ed. Vozes,1991, p. 213