O Horror Econômico
(Vivianne Forrester)
Viviane Forrester, aborda nesse livro os problemas do
trabalho e do desemprego , um sofrimento humano que nos persegue até os
dias de hoje . Vivemos em meio a um engodo magistral , um mundo
desaparecido , que teimamos em não reconhecer como tal e que certas
políticas artificiais pretendem perpetuar . Milhões de destinos são
destruídos , aniquilados pelo mais sagrado tabu : o trabalho . Para a
autora,o trabalho funda a civilização ocidental , que comanda o planeta .
Nossos conceitos de trabalho e , por conseguinte , de desemprego , em
torno dos quais a política atua ( ou pretende atuar ) , tornaram-se
ilusórios e nossas lutas em torno deles , tão alucinadas quanto as do
Quixote contra os moinhos . Segundo Forrester, participamos de uma nova
era , sem conseguir observa-la, sem admitir e nem sequer perceber que a
era anterior desapareceu . O sofrimento humano , um sofrimento real ,
gravado no tempo , naquilo que tece a verdadeira história sempre
ocultada . Sofrimento irreversível das massas sacrificadas; quer dizer ,
de consciências torturadas e negadas uma por uma . Quanto ao
desemprego, fala-se dele por toda parte , hoje , entretanto , o termo
acha-se privado de seu verdadeiro sentido . A respeito dele , são feitas
laboriosas promessas , quase sempre falaciosas , que deixam entrever
quantidades ínfimas de empregos . Milhões de pessoas lutam contra o
desemprego, sozinhas ou em famílias , para não deteriorar-se , nem
demais nem muito depressa . Sem contar inúmeros outros na periferia ,
vivendo com o temor e o risco de cair nesse mesmo estado . Não é o
desemprego em si que é nefasto , mas o sofrimento que ele gera e que
para muitos provém de sua inadequação aquilo que o define , aquilo que o
termo desemprego projeta , apesar de fora de uso , mas ainda
determinando seu estatuto . Um desempregado , hoje , não é mais objeto
de uma marginalização provisória e sim objeto de uma lógica planetária
que supõe a supressão daquilo que se chama trabalho , vale dizer ,
empregos . O social e o econômico pretendem ser sempre comandados pelos
intercâmbios efetuados a partir do trabalho , ao passo que este último
desaparece rapidamente. Os desempregados vítimas desse desaparecimento
são tratados e julgados pelos mesmos critérios usados no tempo em que os
empregos eram abundantes . Eles se criticam , como são criticados , por
viver em uma vida de miséria ou pela ameaça de que isso ocorra .Uma
ínfima minoria , munida de poderes , de propriedades e de privilégios ,
detém o direito à vida , enquanto o resto da humanidade , para merecer
viver , deve mostrar-se útil a sociedade , ou seja , lucrativo.
Esse direito a vida passa portanto , pelo dever de trabalhar , de ser empregado . Uns se interessam pelo trabalho , são levados por um otimismo reconfortante . Tantas vidas encurraladas , manietadas , torturadas , sofredoras, que se desfazem , tangentes a uma sociedade a que se retrai . Entre esses despossuídos e seus contemporâneos , ergue-se uma espécie de vidraça cada vez menos transparente . E como são cada vez menos vistos , como alguns os querem ainda mais apagados , riscados , escamoteados dessa sociedade , eles são chamados de excluídos . É dessa maneira que se prepara uma sociedade de escravos , aos quais só a escravidão conferiria um estatuto . Será útil viver quando não se é lucrativo ao lucro ? Não é pouca coisa que toda uma população , seja mansamente conduzida por uma sociedade lúcida e sofisticada , não é pouca coisa que aquelas mesmas pessoas que o trabalho escravizaria , sejam levadas a mendigar , a procurar por um trabalho , qualquer um a qualquer preço ( quer dizer o menor ) . Não é pouca coisa dizer que aqueles que detém o poder econômico , vale dizer , o poder , tenham aos seus pés aqueles mesmos agitadores que ontem contestavam , reivindicavam , combatiam . É preciso merecer viver para Ter esse direito ? Já não ignoramos , não podemos ignorar que ao horror nada é impossível , que não há limites para as decisões humanas . Da exploração a exclusão , da exclusão à eliminação , ou até mesmo a algumas inéditas explorações desastrosas , será que essa seqüência é impensável ? Sabemos , por experiência própria , que a barbárie , sempre latente , combina de maneira perfeita com a placidez daquelas maiorias que sabem tão bem amalgamar o pior com a monotonia ambiente . Como se vê , ante certos perigos , virtuais ou não , ainda é o sistema baseado no trabalho , que faz o papel de muralha , o que talvez justifica nosso apego regressivo a algumas de suas normas que não estão mais em vigor . Assim , e esse é o maior exemplo , os textos , os discursos que analisam esses problemas , do trabalho e do desemprego , só tratam na verdade , do lucro , que é sua base , que é sua matriz , mas que jamais mencionam . Ele opera à vista de todos , mas despercebidos . Propaga ?se por toda parte , mas jamais é citado , a não ser sob forma daquelas pudicas criações de riquezas .
Esse direito a vida passa portanto , pelo dever de trabalhar , de ser empregado . Uns se interessam pelo trabalho , são levados por um otimismo reconfortante . Tantas vidas encurraladas , manietadas , torturadas , sofredoras, que se desfazem , tangentes a uma sociedade a que se retrai . Entre esses despossuídos e seus contemporâneos , ergue-se uma espécie de vidraça cada vez menos transparente . E como são cada vez menos vistos , como alguns os querem ainda mais apagados , riscados , escamoteados dessa sociedade , eles são chamados de excluídos . É dessa maneira que se prepara uma sociedade de escravos , aos quais só a escravidão conferiria um estatuto . Será útil viver quando não se é lucrativo ao lucro ? Não é pouca coisa que toda uma população , seja mansamente conduzida por uma sociedade lúcida e sofisticada , não é pouca coisa que aquelas mesmas pessoas que o trabalho escravizaria , sejam levadas a mendigar , a procurar por um trabalho , qualquer um a qualquer preço ( quer dizer o menor ) . Não é pouca coisa dizer que aqueles que detém o poder econômico , vale dizer , o poder , tenham aos seus pés aqueles mesmos agitadores que ontem contestavam , reivindicavam , combatiam . É preciso merecer viver para Ter esse direito ? Já não ignoramos , não podemos ignorar que ao horror nada é impossível , que não há limites para as decisões humanas . Da exploração a exclusão , da exclusão à eliminação , ou até mesmo a algumas inéditas explorações desastrosas , será que essa seqüência é impensável ? Sabemos , por experiência própria , que a barbárie , sempre latente , combina de maneira perfeita com a placidez daquelas maiorias que sabem tão bem amalgamar o pior com a monotonia ambiente . Como se vê , ante certos perigos , virtuais ou não , ainda é o sistema baseado no trabalho , que faz o papel de muralha , o que talvez justifica nosso apego regressivo a algumas de suas normas que não estão mais em vigor . Assim , e esse é o maior exemplo , os textos , os discursos que analisam esses problemas , do trabalho e do desemprego , só tratam na verdade , do lucro , que é sua base , que é sua matriz , mas que jamais mencionam . Ele opera à vista de todos , mas despercebidos . Propaga ?se por toda parte , mas jamais é citado , a não ser sob forma daquelas pudicas criações de riquezas .