O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA
“A filosofia é um
despertar para ver e mudar o mundo” (Merleau-Ponty)
Uma jovem
estudante de filosofia no ensino médio ao ser inquietada com a pergunta para
quê filosofia? Disse aos colegas da sala que filosofia é a componente
curricular em que “o professor navega e os alunos bóiam”, ela não deixa de ter
razão; mas “o boiar” tem diversas causas: os jovens foram impedidos de serem
pensadores a não ser quando assumia esta tarefa a revelia, outros professores
constataram esta mesma problemática e compactuam da ideias de que é a filosofia
é o componente curricular que devolverá
ao jovem a ousadia de protestar de forma inteligente e exercer sua cidadania
ativa, mas este salto de qualidade tem como protagonista os próprios jovens
estudantes de filosofia. É tarefa da filosofia:
ü Estimular
o espírito crítico sem assumir atitude dogmática e/ou doutrinária;
ü Valorizar
no educando a busca de uma “atitude filosófica” face às questões de diversos
âmbitos em vista de proporcionar uma reflexão crítica e formadora de opinião
dialética;
ü Debater
tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição em
face de argumentos mais consistentes;
É obvio que o
ensino de filosofia só a partir do ensino médio não é a solução! Há muitas
experiências de filosofia para as crianças, à volta de uma componente
curricular que estava ausente da vida escolar (a filosofia) contribuirá para
que os jovens percebam que existe uma pluralidade de teorias filosóficas,
discussões sistemáticas e metódicas que lhes possibilitarão uma melhor visão de
mundo e da realidade, ajudando-os a exercitarem o senso crítico, ou seja: a
restituir-lhes o rigor no pensamento e o desenvolvimento cultural.
É uma incumbência
da educação contribuir na formação do ser humano em todas suas dimensões. Neste
campo a filosofia cooperará, pois cada um deverá ocupar o seu irrenunciável
espaço no mundo, realizando assim, seu projeto existencial e, desta maneira
resgatando a sua cidadania enquanto sujeito consciente, crítico e construtivo
no interior do corpo social.
A filosofia se
propõe a auxiliar os educandos na descoberta de sua vocação filosófica,
despertando nos mesmos as seguintes atitudes fundamentais: admiração, a dúvida
metódica, a insatisfação moral e ainda a indignação ética.
É também tarefa
da filosofia na educação auxiliar-nos na compreensão do ser humano, na
complexidade das organizações sociais; sobre o espírito de cidadania, sobre o
voluntariado; sobre a solidariedade; corresponsabilidade; etc... e a realidade
passível de mudanças.
Para
desenvolver tais habilidades nossos jovens precisam acordar e decidir pela
racionalidade filosófica assumindo novas posturas tais como:
Aprender,
gostar e amar a leitura: sabemos que a maioria dos jovens lê pouco e tem
dificuldade de compreenderem o que lê;
Cuidar da
atenção: muitos dos jovens estudantes não conseguem se desligar para
sintonizar, eles estão em mil lugares menos na escola preocupados com o estudo;
Trabalhar em
grupo: tem dificuldade de estabelecer e respeitar normas de convivência e de
relacionalidade e aqui a intervenção do dos educadores é muito importante neste
processo de apropriação do saber de forma coletiva;
Fazer conexões:
há uma grande dificuldade de relacionar o estudo com os fatos do cotidiano e
até dos fatos sociais;
Eu acredito que
esta problemática só será resolvida quando os jovens se enamorarem da leitura
dos textos, tiverem acesso a bibliotecas com subsídios didáticos e
paradidáticos, terem condições e espaço de leitura e, após a leitura, poderem
parar para elaborar por escrito o que se apropriou de modo reflexivo; e, ainda;
articular os conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções
culturais;
Contextualizar
conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em
outros planos: o pessoal-biográfico; no entorno sócio-político, histórico e
cultural; o horizonte da sociedade científico tecnológico.
Por mais que se
tente fazer com que eles assumam esta nova postura diante do estudo de
filosofia a maioria parece apática o que levou uma jovem estudante dizer que
“só iremos perceber a importância da filosofia quando descobrirmos que perdemos
o tempo, não a valorizando desde esta oportunidade que ora estamos tendo”.
Mas a sensatez
faz me dispor também de outras observações vindas de outros contextos, mas que
podem ajudar-nos.
Diz-me outra
interlocutora: “o grande problema das observações feitas sobre os mais jovens,
é que tais observações não são feitas por pessoas “mais jovens”; por pessoas
que já foram adolescentes um dia, e que cresceram e ao crescerem viveram a
vida, correram, esperaram, experimentaram.
E, por tanto
viver, correr e principalmente experimentar aprenderam. Aprenderam a ter mais
paciência, a serem mais perseverantes, a serem ousados dentro do limite da
segurança e do possível. Aprenderam que é preciso silêncio para apreciar a
beleza da música, que é preciso calar para melhor ouvir, que é preciso
concentração para poder pensar. Aprenderam (ou pensam que aprenderam) a distinguir
o bom do mau, o perigoso do seguro e por essa razão acreditam que podem ajudar
os mais jovens a “saltar determinados obstáculos” que poderão trazer-lhes dor e
sofrimentos às suas vidas. Acreditam que do alto de sua sabedoria, oriundas das
experiências já vividas, poderão ajudá-los a trilhar pelos caminhos menos
tortuosos e, portanto, mais felizes. Os adultos têm certa razão.
Ocorre, porém,
que tais pessoas, também conhecidas como adultas, muitas vezes se esqueceram
que a juventude é acima de tudo a idade do experimento, das descobertas, das
mudanças e das buscas.
Por mais nobres
que sejam nossas intenções, não podemos frear a energia que impulsiona os
jovens à “pesquisa”, ao experimento que os levam a descobertas.
Penso que de
certa forma seria muito bom poupá-los de transtornos que atitudes impensadas
podem trazer, entretanto, não posso deixar de pensar que ao mesmo tempo
estaríamos impedindo-os de viver efetivamente, ou pelo menos lhes tirando o
doce gosto que a vida tem quando ainda não fomos moldados (para não dizer
aprisionados) pelos ditames impostos por uma sociedade decadente e hipócrita,
onde só rimos no momento certo (ainda que não seja engraçado) e só choramos quando
for conveniente.
Deveríamos
lembrar mais vezes que “é errando que se aprende” e assim aprendermos a adotar
uma postura diversa da que ora temos, orientando sempre os jovens para a vida,
contudo, sem impedi-los de viver.
O “livre
arbítrio”, é dom de Deus e foi dado a todos como a capacidade de escolher, os
jovens também estão aí inclusos. Assim, não cabe aos mais velhos escolher por
eles, mas, através de atitudes (mais do que palavras) ajudá-los a escolher, a
decidir - fundado no respeito e na responsabilidade, sem nunca perder seu jeito
“jovialmente faceiro” de viver.
Mas se nós
(adultos) estamos contribuindo através do pensamento filosófico no meio
juvenil, vejo como um momento de oportunidade única para a juventude – que tem
muita dificuldade para pensar antes de agir”.
Se os jovens
justificam que “é errando que se aprende” digo que necessariamente não é
preciso errar para aprender
Se os jovens
fazem aquilo que lhes vem à mente, digo que o agir impulsivo freia a capacidade
de racionalidade.
É preciso ter
os pés no chão buscando sempre distanciar das aventuras que nos tiram da
realidade e não nos aterriza na realidade da vida.
Se a
racionalidade é o dom mais precioso do ser humano, que nos distingue do animal,
é agora a hora de agirmos racionalmente medindo sempre as conseqüências de
nossas ações.
Acredito que em
um ambiente filosófico, todos poderão ter voz e vez e os jovens encontrarão
respostas aos diversos problemas que precisam de uma mediação. Creio que os
professores de filosofia (não excluindo os demais, é claro) poderão ser os
interlocutores de diversos problemas no meio juvenil. É por isso que os jovens
precisam aprender a agora de falar e de calar, pedindo sempre a palavra e
respeitando a vez do outro, não podemos, em grupo, salas superlotadas, falar
todos ao mesmo tempo, mas se organizarmos todos poderão ter seu espaço de
expressão do pensamento colaborando assim com a construção de sujeitos capazes
de tomar decisões e não apenas de apertar botões.
A juventude é uma fase – talvez a inesquecível para muitos, mas também
amarguradas para tantos outros, a vida é sempre uma oportunidade e o que nos
espera é sempre uma surpresa, a próxima estação é a maturidade, mas suas raízes
são fortalecidas na juventude, pois o mundo adulto nos espera. Não dá para ter
certeza do futuro, o que existe é o presente – é agora a hora de optar e assumir
a caminhada com maior convicção, sem vergonha de olhar para o passado.
Como falara um poeta anônimo que “a vida nos é dada para grandes feitos”.