domingo, 16 de setembro de 2018

O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA


O ENSINO DE FILOSOFIA AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO UMA PROPOSTA CONSCIENTIZADORA

“A filosofia é um despertar para ver e mudar o mundo” (Merleau-Ponty)



Uma jovem estudante de filosofia no ensino médio ao ser inquietada com a pergunta para quê filosofia? Disse aos colegas da sala que filosofia é a componente curricular em que “o professor navega e os alunos bóiam”, ela não deixa de ter razão; mas “o boiar” tem diversas causas: os jovens foram impedidos de serem pensadores a não ser quando assumia esta tarefa a revelia, outros professores constataram esta mesma problemática e compactuam da ideias de que é a filosofia é o  componente curricular que devolverá ao jovem a ousadia de protestar de forma inteligente e exercer sua cidadania ativa, mas este salto de qualidade tem como protagonista os próprios jovens estudantes de filosofia. É tarefa da filosofia:
ü  Estimular o espírito crítico sem assumir atitude dogmática e/ou doutrinária;
ü  Valorizar no educando a busca de uma “atitude filosófica” face às questões de diversos âmbitos em vista de proporcionar uma reflexão crítica e formadora de opinião dialética;
ü  Debater tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição em face de argumentos mais consistentes;
É obvio que o ensino de filosofia só a partir do ensino médio não é a solução! Há muitas experiências de filosofia para as crianças, à volta de uma componente curricular que estava ausente da vida escolar (a filosofia) contribuirá para que os jovens percebam que existe uma pluralidade de teorias filosóficas, discussões sistemáticas e metódicas que lhes possibilitarão uma melhor visão de mundo e da realidade, ajudando-os a exercitarem o senso crítico, ou seja: a restituir-lhes o rigor no pensamento e o desenvolvimento cultural.
É uma incumbência da educação contribuir na formação do ser humano em todas suas dimensões. Neste campo a filosofia cooperará, pois cada um deverá ocupar o seu irrenunciável espaço no mundo, realizando assim, seu projeto existencial e, desta maneira resgatando a sua cidadania enquanto sujeito consciente, crítico e construtivo no interior do corpo social.
A filosofia se propõe a auxiliar os educandos na descoberta de sua vocação filosófica, despertando nos mesmos as seguintes atitudes fundamentais: admiração, a dúvida metódica, a insatisfação moral e ainda a indignação ética.
É também tarefa da filosofia na educação auxiliar-nos na compreensão do ser humano, na complexidade das organizações sociais; sobre o espírito de cidadania, sobre o voluntariado; sobre a solidariedade; corresponsabilidade; etc... e a realidade passível de mudanças.
Para desenvolver tais habilidades nossos jovens precisam acordar e decidir pela racionalidade filosófica assumindo novas posturas tais como:
Aprender, gostar e amar a leitura: sabemos que a maioria dos jovens lê pouco e tem dificuldade de compreenderem o que lê;
Cuidar da atenção: muitos dos jovens estudantes não conseguem se desligar para sintonizar, eles estão em mil lugares menos na escola preocupados com o estudo;
Trabalhar em grupo: tem dificuldade de estabelecer e respeitar normas de convivência e de relacionalidade e aqui a intervenção do dos educadores é muito importante neste processo de apropriação do saber de forma coletiva;
Fazer conexões: há uma grande dificuldade de relacionar o estudo com os fatos do cotidiano e até dos fatos sociais;
Eu acredito que esta problemática só será resolvida quando os jovens se enamorarem da leitura dos textos, tiverem acesso a bibliotecas com subsídios didáticos e paradidáticos, terem condições e espaço de leitura e, após a leitura, poderem parar para elaborar por escrito o que se apropriou de modo reflexivo; e, ainda; articular os conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais;
Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; no entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico tecnológico.
Por mais que se tente fazer com que eles assumam esta nova postura diante do estudo de filosofia a maioria parece apática o que levou uma jovem estudante dizer que “só iremos perceber a importância da filosofia quando descobrirmos que perdemos o tempo, não a valorizando desde esta oportunidade que ora estamos tendo”.
Mas a sensatez faz me dispor também de outras observações vindas de outros contextos, mas que podem ajudar-nos.
Diz-me outra interlocutora: “o grande problema das observações feitas sobre os mais jovens, é que tais observações não são feitas por pessoas “mais jovens”; por pessoas que já foram adolescentes um dia, e que cresceram e ao crescerem viveram a vida, correram, esperaram, experimentaram.
E, por tanto viver, correr e principalmente experimentar aprenderam. Aprenderam a ter mais paciência, a serem mais perseverantes, a serem ousados dentro do limite da segurança e do possível. Aprenderam que é preciso silêncio para apreciar a beleza da música, que é preciso calar para melhor ouvir, que é preciso concentração para poder pensar. Aprenderam (ou pensam que aprenderam) a distinguir o bom do mau, o perigoso do seguro e por essa razão acreditam que podem ajudar os mais jovens a “saltar determinados obstáculos” que poderão trazer-lhes dor e sofrimentos às suas vidas. Acreditam que do alto de sua sabedoria, oriundas das experiências já vividas, poderão ajudá-los a trilhar pelos caminhos menos tortuosos e, portanto, mais felizes. Os adultos têm certa razão.
Ocorre, porém, que tais pessoas, também conhecidas como adultas, muitas vezes se esqueceram que a juventude é acima de tudo a idade do experimento, das descobertas, das mudanças e das buscas.
Por mais nobres que sejam nossas intenções, não podemos frear a energia que impulsiona os jovens à “pesquisa”, ao experimento que os levam a descobertas.
Penso que de certa forma seria muito bom poupá-los de transtornos que atitudes impensadas podem trazer, entretanto, não posso deixar de pensar que ao mesmo tempo estaríamos impedindo-os de viver efetivamente, ou pelo menos lhes tirando o doce gosto que a vida tem quando ainda não fomos moldados (para não dizer aprisionados) pelos ditames impostos por uma sociedade decadente e hipócrita, onde só rimos no momento certo (ainda que não seja engraçado) e só choramos quando for conveniente.
Deveríamos lembrar mais vezes que “é errando que se aprende” e assim aprendermos a adotar uma postura diversa da que ora temos, orientando sempre os jovens para a vida, contudo, sem impedi-los de viver.
O “livre arbítrio”, é dom de Deus e foi dado a todos como a capacidade de escolher, os jovens também estão aí inclusos. Assim, não cabe aos mais velhos escolher por eles, mas, através de atitudes (mais do que palavras) ajudá-los a escolher, a decidir - fundado no respeito e na responsabilidade, sem nunca perder seu jeito “jovialmente faceiro” de viver.
Mas se nós (adultos) estamos contribuindo através do pensamento filosófico no meio juvenil, vejo como um momento de oportunidade única para a juventude – que tem muita dificuldade para pensar antes de agir”.
Se os jovens justificam que “é errando que se aprende” digo que necessariamente não é preciso errar para aprender
Se os jovens fazem aquilo que lhes vem à mente, digo que o agir impulsivo freia a capacidade de racionalidade.
É preciso ter os pés no chão buscando sempre distanciar das aventuras que nos tiram da realidade e não nos aterriza na realidade da vida.
Se a racionalidade é o dom mais precioso do ser humano, que nos distingue do animal, é agora a hora de agirmos racionalmente medindo sempre as conseqüências de nossas ações.
Acredito que em um ambiente filosófico, todos poderão ter voz e vez e os jovens encontrarão respostas aos diversos problemas que precisam de uma mediação. Creio que os professores de filosofia (não excluindo os demais, é claro) poderão ser os interlocutores de diversos problemas no meio juvenil. É por isso que os jovens precisam aprender a agora de falar e de calar, pedindo sempre a palavra e respeitando a vez do outro, não podemos, em grupo, salas superlotadas, falar todos ao mesmo tempo, mas se organizarmos todos poderão ter seu espaço de expressão do pensamento colaborando assim com a construção de sujeitos capazes de tomar decisões e não apenas de apertar botões.
A juventude é uma fase – talvez a inesquecível para muitos, mas também amarguradas para tantos outros, a vida é sempre uma oportunidade e o que nos espera é sempre uma surpresa, a próxima estação é a maturidade, mas suas raízes são fortalecidas na juventude, pois o mundo adulto nos espera. Não dá para ter certeza do futuro, o que existe é o presente – é agora a hora de optar e assumir a caminhada com maior convicção, sem vergonha de olhar para o passado. Como falara um poeta anônimo que “a vida nos é dada para  grandes feitos”.