domingo, 17 de janeiro de 2016

OS MOVIMENTOS POLÍTICO-PEDAGÓGICOS E A VOLTA DO ENSINO DE FILOSOFIA: CONQUISTAS, DESAFIOS E INQUIETUDES


OS MOVIMENTOS POLÍTICO-PEDAGÓGICOS E A VOLTA DO ENSINO DE FILOSOFIA: CONQUISTAS, DESAFIOS E INQUIETUDES

Silenciadas e relegadas à parte optativa durante anos, a Filosofia e Sociologia tiveram seu retorno ao currículo do Ensino médio por meio de lutas históricas vinculadas ao esforço e mobilização dos profissionais da área, envolvendo mecanismos políticos e movimentos sociais desde década de 70. Garantidas nos dias atuais por força da Lei, são conteúdos integralizados a parte obrigatória do currículo nacional. O contexto desta mobilização nacional nos situa no período da redemocratização do país, passados os algozes da ditadura, tempo de silêncio obsequioso e de clandestinidade intelectual à medida que se estruturavam os movimentos democráticos que impunham suas bandeiras de luta atingindo os âmbitos político e cultural.  
De posse deste direito cumpre-nos como professores e sociedade cobrar politicas educacionais para que o sucesso da reinclusão dos componentes curriculares no escopo dos conteúdos da parte obrigatória da proposta educativa realize sua missão, tarefa que só se corroborará se houver professores que tenham formação específica, didática e cultural para o exercício do magistério. 
Com a proposta atual de formação o foco é que os currículos sejam mediatizados pela caracterização do ensino por competências; nos alerta Perrenoud apud COSTA (2005, p.3) que o ensino (...) deve construir uma relação com o saber menos pautada em uma hierarquia baseada no saber erudito descontextualizado, visto que os conhecimentos sempre se ancoram, em última análise, na ação.
Segundo Machado,  apud COSTA 2005:
 (....)  no currículo voltado para a construção de competências, o que importa não é a transmissão do conhecimento acumulado, mas sim a virtualização de uma ação, a capacidade de recorrer ao que se sabe para realizar o que se deseja, o que se projeta (COSTA, 2005 p. 3).
Esta compreensão vem ao encontro de uma critica a proposta educativa da filosofia feita por Maria Célia Simon:
Ensinou-se quase sempre no Brasil, nas escolas de nível médio, uma filosofia marcada pela ausência de raízes culturais, alheia às condições sociais e ao contexto histórico da realidade do país. Aliás, esse ensino nada mais era do que um reflexo do que se fazia no Brasil em termos de filosofia (mas não só em filosofia!). Uma produção que se limitava a explicitar e a contar a história da filosofia produzida na Europa ou que, otimisticamente, chegava a uma reflexão sobre as grandes questões colocadas pelos filósofos europeus, sem, entretanto, confrontá-las com o contexto histórico brasileiro (SIMON ,1986, p. 14):.

Nos tempos atuais os desafios se avolumam quando deparamos com a realidade das escolas com professores não habilitados em filosofia que assumem o trabalho para completar sua carga horária, sem falar que a pouca valorização do professor educador tem levado muitos a buscarem alternativas profissionais fora do magistério. Com esperança vemos a perspectiva de Gadotti, 2002 “a educação escolar nos tempos atuais deve incluir os aspectos da multiculturalidade em vista de buscar a igualdade sem eliminar as diferenças” (p.13), de modo que, “a educação enquanto prática fundamental da existência histórico-cultural dos homens possa ser pensada continuamente” (p.12).
Precisamos passar da prédica para a práxis, há muito que se fazer, mas sem condições de trabalho e valorização profissional o fosso entre a realidade da educação sem professores habilitados aliadas a disposição profissional para atuar na escola pública será intransponível. É preciso que haja maior zelo político para a contratação dos professores em todas as áreas educativas.

Bibliografia consultada

SIMON, Maria Célia. In.: HÜHNE, Leda Miranda (org). Política da Filosofia no
2º grau. São Paulo: SEAF/Ed. Sofia, 1986.
Almeida Costa, Thais. A noção de competência enquanto princípio de organização curricularRevista Brasileira de Educação [On-line] 2005, (maio-ago;) : [Data de consulta: 2 / febrero / 2014] Disponível em:<http://estudiosterritoriales.org/articulo.oa?id=27502905> ISSN 1413-2478

GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Ática,2002.