Kepel, Gilles. A Revanche de Deus: Cristãos, judeus e muçulmanos
na reconquista do mundo; trad. J.E. Smith Caldas, São Paulo, Ed. Siciliano,
1991, 243p.
Por: José Igídio dos Santos
Constata o A. que “a década de 70 foi o
auge do processo de mutação nas relações entre religião e política desse último
quarto século... a década de 60 parece ter havido uma distensão do elo que
ligava a religião à ordem da cidade, de um modo que deixou os clérigos muito
preocupados... (p.11)”. “O propósito do livro limita-se aos domínios de três
religiões “abrâamicas”, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, embora o
hinduísmo e o xintoísmo apresentem no seu desenvolvimento recente alguns traços
comparáveis ao que se produz nas três “religiões do Livro” ... trata-se
simplesmente de propor marcos de referência para tentar uma reflexão
transversal sobre o fenômeno como um todo” (p.12-13).
“A crise da década de 70 bloqueou os
mecanismos de solidariedade gerados pelo Estado de Providência e pôs a nu
angústias e misérias inéditas.... nem todos os movimentos religiosos de hoje,
mesmo quando querem ultrapassar a modernidade por objetivo a curto prazo a
tomada do poder e a transformação revolucionária da sociedade ... apresentam
certo número de diferenças em si. (p.15-16)”.
“O judaísmo rejeita uma definição
em termos de simples filiação, na década de 70 emergiram ... no cenário
político” ... no catolicismo (religião cristã) após conclave e escolha
do Cardeal Karol Wojtyla para o pontificado ... enfatiza o princípio de “testemunhar pela experiência
comunitária a necessidade de reencontrar Deus e salvar os homens e indicar o
caminho da reconstrução da sociedade com
base nos preceitos cristãos” (p.18), o Islamismo com a volta de aiotolá
Khomeini a Teerã, ... o ataque da Grande Mesquita de Meca ... são
acontecimentos que manifestam aos olhos do mundo inteiro o potencial político
encoberto nessa religião ... que “reivindica um rompimento cultural com a
lógica da modernidade secular... é necessário “dissociar as técnicas dos
valores da secularização, a fim de promover uma ética de vida dominada pela
submissão da razão a Deus”(p. 17).
Esses movimentos começam a se fazer notar
a partir de meados da década de 70... “a
construção do socialismo no Oriente e o nascimento da sociedade de consumo no
Ocidente deixam muito pouco espaço à expressão de ideologias que recorrem ao
divino para explicar as lógicas de ordem social... os fiéis têm de se engajar
em defender o mundo livre ou o socialismo, o que leva lentamente a
subordinar a fé à realização dos ideais terrenos subordinar o além com as coisas daqui” (p.20-21).
Note-se que a hipótese deste trabalho
mostra que: “.... o discurso e prática desses movimentos são portadores de um
sentido; não são produto de um desregramento da razão nem de uma manipulação
por forças obscuras, são o testemunho insubstituível de um mal social profundo
que as nossas categorias tradicionais de pensamento não permitem decifrar. ...
são ... filhos indesejados, bastardos da informática e da falta de emprego ou
da exploração demográfica e da alfabetização, com as suas crises e queixas a nos
incitar a procurar em nosso fim de século a sua paternidade, a sua genealogia
inconfessada” (p.22-23).
No capítulo 1: “O Gládio e o Corão”, dos países muçulmanos da bacia do Mediterrâneo e arredores, os
movimentos de reislamização seguem a sequência cronológica dos grupos marxizantes na constestação de valores
básicos da ordem social” (p.25). Há a contestação marxista para a “ruptura”
islamita, ... “pois as leis de mercado encontram seus limites na persistência
de mecanismos de feudalidades e no desenvolvimento da corrupção em grande
escala... (p.27). Pois “a Palestina se transforma em símbolo da resistência a
Israel e ao Imperalismo ocidental’ ... para tanto emerge os “movimentos de
reislamização contemporâneos” sustentada por Sayyid Qutb após a guerra árabe-israelense em 73,
“desorganizando o equilíbrio da economia internacional, alicerçou as aspirais
da inflação e do desemprego que desestabilizaram os sistemas sócio-políticos,
especialmente no ocidente, e levou a um esboroamento da sociedade e a um
afrouxamento dos elos de solidariedade e proteção social” (p.36).
O processo revolucionário de tomada do
poder ( reislamização “pelo alto”) no Islamismo com o intuito de reislamização
se dá entre a década 70 e meados de 80, e corroborada em 1979. “A reislamização
“pelo alto” tem por finalidade reislamizar a sociedade como um todo e reislamização “por baixo” consiste
no esquadrinhamento espacial e temporal de fragmentos da sociedade” (p.49). É
uma maneira de reconstruir uma
identidade num mundo que ficou indecifrável, desestruturado e alienado.
“No fim da década de 80 os movimentos de reislamização “por baixo” estavam à
testa de várias redes comunitárias poderosas que chegavam a controlar bairros
inteiros... intermediárias entre os poderes públicos e os grupos sociais
marginalizados” (p.52). Em 1990 este
movimento de reislamização arrasta a maioria num país muçulmano onde há
eleições livres. Concluo que no
Islamismo “pelo alto” é enfatizado a
dimensão política, com enfretamento da repressão dos Estados, mas o Islamismo
“por baixo”, investem seu ativismo na vida cotidiana... procurando garantir a
paz social.
No cap. II - “ Europa, terra de missão”
Constata o A. que neste último quarto do séc. XX “parece que a sociedade jamais
foi tão maciçamente secularizada e descristianizada, e no entanto nascem
movimentos de recristianização por todos os cantos” . Ao passo que o Concílio
Ecumênico Vaticano II quis esforça-se por formular a mensagem católica na
linguagem da sociedade secular com a qual compartilha vários ideais... com o
cuidado de situar-lhes a origem na doutrina cristã...”o pontificado de João
Paulo II, ... é marcado por uma reafirmação da identidade e dos valores
católicos” (p.65) Existe aí uma ruptura inaugural de uma mentalidade
pós-moderna... cheia de incertezas motivadas por alguns acontecimentos no mundo
ocidental ( crise do petróleo, revolução eletrônica, hermeticidade do meio
familiar) e no oriente ( demolição do muro de Berlim, novos espaços
ideológicos). “No interior da Igreja há correntes que veem nestes
acontecimentos o fim do ciclo histórico da modernidade, ciclo este inaugurado
pelo Iluminismo do século XVIII e
caracterizado pela emancipação de uma razão segura de si no que diz respeito a
fé” (p.66) e surgem nas sociedade que viveram mais de cem anos num processo de
secularização “os movimentos de recristianização” e contraposição à “ao
concílio Vaticano II” que propõe o “aggiornamento da Igreja católica” condensado
em 16 documentos conciliares ... “fruto de concessões feitas pacientemente
entre as forças presentes no Concílio.... e domina um espaço de interpretação ”
divergentes e nalguns setores chegam a ‘desconfiar da Teologia da Libertação’
reagindo ao possível perigo “marxista”
deste movimento de libertação que arrisca instrumentalizar a Igreja e
esquerdizar a sua mensagem”... em seu conteúdo contém dois temas
fundamentais: “a recusa de uma ordem
social injusta insuportável para os pobres, .... e a aspiração a uma nova
ordem, a uma sociedade socialista que há de encarnar a justiça” .... Esta
ideologia de ruptura de uma ordem reinante, .... encontraria sua realização no
apostolado dos cristãos... pois a “instauração do socialismo faz as vezes do
advento de Cristo”. Mas “nos dissabores da Teologia da Libertação vimos muitas
vezes um conflito entre os “progressistas” e os “conservadores”
No fim da década de 80 emerge o movimentos de “Recristianização na Europa Ocidental” -
Comunhão e Libertação e Juventude Estudantil. Este último segue a três
princípios: cultura, caridade e missão -
pois “reconstruir uma sociedade sobre alicerces cristãos é militar pela
presença visível da Igreja num mundo onde os homens se afastaram de Deus, é
lançar as bases de uma socialidade exemplar guiada pelos preceitos do Evangelho
que, no fim, implicará a adesão de todos” (p. 81), ... enfatizando estes
movimentos uma “teologia intransigente”.
Estes movimentos numa primeira fase
“privilegia a recristianização “por baixo” a partir de uma obra social, mas
ambiciona intervir diante do Estado para fazer recuar influência do “laicismo” (p.91)... ”responsável pela adulteração da consciência
da identidade católica, além da matriz
do marxismo ateu. (p.82). No projeto
de recristianização do “catolicismo europeu contemporâneo” as origens da
renovação carismática” são americanas ... o movimento está ligado ao processo
de “recristianização “por baixo”... no qual “as comunidades prepararam uma
forma de vida que rompe tolamente com as lógicas da laicidade e reconstrói pela
base uma socialidade cristã” (p.100).
“Nos países da Europa ocidental, a
recristianização estendeu-se primeiro como resposta à crise social de meados da
década de 70, assumindo o papel das redes de mobilização e solidariedade que as
utopias seculares da era industrial não conseguiram mais motivar. Na Europa
oriental, após a derrocada do comunismo em 1989, a Igreja polonesa conseguiu
reorganizar diante do Estado uma sociedade civil que havia sido esmagada e
surgiram algumas formas de recristianização “por baixo” em terras tchecas,
sobretudo na Eslováquia ....com o estabelecimento das eleições livres e
instauração progressiva da economia de mercado, a aspiração democrática fez
predominar sobre a sede de transcendência o desejo de manifestar uma
pluralidade de opiniões individuais quanto a adesão às verdades reveladas ...
(p.103).
A difusão da “recristianização “por
baixo” não encontra realmente o obstáculo da repressão ... mas os vários
movimentos de recristianização “por baixo” mobilizam suas redes para que votem
nos democratas cristãos, até mesmo os grupos que haviam recusado a manter
compromissos políticos contra o regime comunista... (p. 119).
De um lado, o episcopado é favorável a
essa transição “pelo alto” e numa carta pastoral pede que os fiéis deem seu
voto para a democracia cristã.... Do outro lado, alguns católicos, padres ou
leigos, que haviam militado na oposição ao comunismo como os não-fiéis ....não
escondem a recusa em se em empenhar numa estratégia de recristianização “pelo
alto”..
Portanto, recristianizar “pelo alto”
ou “por baixo”, se dá dentro de um
processo de conquista de presença social da Igreja. Neste ínterim, os
defensores do cristianismo esperavam ver “a sociedade cristã” tornar-se
realidade, essa estratégia se coloca com a aspiração democrática de alguns
católicos, pois “nenhum partido cristão tem vocação de iniciar uma organização social regulada por uma
verdade da qual ele próprio se considera detentor”.
No cap. III: Para “Salvar a América” o A.
constata que a partir da década de 70, milhões de americanos sentiram necessidade
de aderir às formas de religiosidade oferecidas por Jim Robinson, Jerry
Falwell, Oral Roberts, Pat Robertson, Jimmy Swaggart, Robert Schuller ...
através das ondas, surge o “teleevangelismo como fenômeno de sociedade”
(p.127)... dessa mutação cultural.. o investimento maciço em televisão feito
pela pregação evangélica nos últimos 25 anos.... levou algumas camadas da
sociedade americana a formular categorias do discurso evangélico ou do
fundamentalismo a sua rejeição dos “valores seculares”, que consideravam
dominantes e nefastos, assim como a sua aspiração de transformar em
profundidade a ética social” (p.129).
O movimento (Maioria Moral de Jerry
Falwell), entre outros “entre meados da década de 70 e o fim da década de 80,
no quadro mais vasto do que nos Estados Unidos se denomina “fundamentalismo”,
“evangelismo” ou “nova direita cristã”. Estas expressões estão enraizada na
passagem “da América rural à alta tecnologia” (p.131), “o fundamentalismo
definiu-se em primeiro lugar pela crença na inerrância absoluta da Bíblia. O
texto sagrado do Antigo e do Novo Testamento é tido como a expressão literal da
verdade divina”. E mais, “os
fundamentalistas acreditam na divindade de Cristo e na salvação da alma pela
ação efetiva da vida, morte e ressurreição física de Cristo”.
Vejamos que há duas “Américas
antagônicas”, .... norte industrializado, modernizado e em plena expansão,
opõe-se o sul agrícola, com uma organização social obsoleta....”(p.132).
Tornou-se
objeto de interpretação milenarista dos fundamentalistas. “a crise econômica de
1929 e suas consequências” mostrando que a crença na modernidade e no progresso
que a civilização industrializada do norte havia elaborado não se
efetivou, e faz necessário uma “terapia
da redenção”. Foi a partir da década de 60,
o protestantismo liberal ( religião de opulência que justifica o gozo da
prosperidade americana) passa da autossatisfação à preocupação com a “outra
américa” .
No
processo de recristianização feita pelo protestantismo liberal é enfatizado a
busca “pelo alto”, com grande visibilidade, mas mobiliza pouco a massa da
população; em compensação, a recristianização “por baixo” dos pentecostais pode
ter efeito de massa, mas é geralmente considerada um fenômeno que depende da
piedade e da emoção, ao passo que sua dimensão sócio-política continua
geralmente oculta”(p.138).
É a partir da segunda metade da década de
70 que se dá o fenômeno do renascimento político do evangelismo americano e
nele incide uma reviravolta teológica.
Neste fato está imbutido fatores socioculturais que traduzem este novo
tipo de inserção dos evangélicos na sociedade global.
“O acesso à universidade” da geração
jovem vai representar um papel importante na “passagem para a política” dos
evangélicos neste último quarto de século:
“por ter acesso ao saber, abandona a marginalidade a qual a maior parte
dos seus pais estava confinada e agrega-se ao universo urbano da sociedade pós-industrial”
(p.152-153).
Nos Estados Unidos, a recristianização
“por baixo” toma forma de uma terapia social em grande escala, do mesmo modo
que uma reinvindicação cultural. ... a rejeição de uma modernidade cuja lógica
é sentida como estrangeira e alienante, destruidora da identidade individual e
familiar... Daí a insistência em impor normas éticas estritas.
A originalidade do processo de
recristianização americana para a política seguiu um caminho original: a
dissociação que houve depois da guerra entre os evangélicos que trabalham “por
baixo”, e os “fundamentalistas, que investem “pelo alto” favorecendo opções políticas ... envestindo
numa pastoral que visa a constituição de espaços de recristianização dos quais
a escola é o mais significativo.
No Cap IV : “A redenção de
Israel”... Gush Emunim (bloco de fiéis),
movimento político-religioso nascido logo depois da guerra árabe-israelense
(p.171), substitui o conceito Jurídico de Estado de Israel pelo conceito
bíblico de Terra de Israel (eretz Yirael). O Gush representou o pólo mais
explicitamente político; e , como tinha ambição de agir sobre o Estado, ....
atraiu atenção da mídia, dos governos israelense e americano... fizeram do Gush
um “fundamentalismo judeu”(p.172) .
A década de 70 viu em todo o mundo um
“retorno ao judaísmo” e o “arrependimento”, isto é, “retorno à observância
integral da lei judaíca. Os arrependidos rompem com as seduções da sociedade
secular e reorganizam a própria vida baseando-se unicamente nos mandamentos e
proibiçòes elaboradas a partir de textos sagrados judaícos..... techuvah
significa uma “redefinição da identidade judaica”. (p.173).
A
“pós-modernidade é caracterizada por uma crise de valores que sanciona o
impasse da secularização” (p.174)... só
a “redescoberta da Torá e a observ6ancia dois mandamentos permitem dar de
novo um sentido a sua vida... pois a
época moderna é uma “era de anomia” (p.175) .. , nos Estados unidos, duas
encarnações da identidade judia compartilhavam as preferências da maioria: o
judaísmo “reformado” e o “judaísmo conservador” (p.180). Em Israel na década 60
presencia igualmente mutações estruturais que preparam o desabrochar dos
movimentos religiosos da década seguinte....(p.185) .. os sionistas... eram
portadores de um messianismo de redenção, emora não soubesse disso: O Estado de
Israel era instrumento inconsciente da vontade divina” (p.188) .
No mundo judeu, ... a década de 60 foi o
período da gênese ideológica dos movimentos de reafirmação do religioso que
viram a ter uma tradução organizacional na década seguinte. Gush Emunim se opõe a qualquer veleidade de
trocar alguma parcela inalienável dessa terra,,,, e se empenha numa política de
implantação de colônias em lugares ocupados....Gush surge no espaço num momento
em que a sociedade israelense conhece um malogro profundo... “desordem criam um terreno favorável à
expressão de alternativas aos projetos de um governo que parece haver perdido a
capacidade de iniciativa e está submetido a fortes pressões internacionais para
constrangê-lo a fazer concessões territoriais... para defesa, “os fundadores do
Gush adotam uma atitude deliberadamente ofensiva” (p. 194). Auxiliados pela impunidade e o êxito da
operação, sem represália chega ao terrorismo.
“No nível da Ideologia e filiação
sociocultural... o processo de rejudaização ou “reislamização “pelo alto”
levado ao extremo: a passagem para a violência contra um objetivo simbólico, a
fim de precipitar a transformação do Estado. Do lado Judeu, trata-se de
encontrar o caminho da Redenção e do advento do reino de Israel” (p.204).
O “Judaísmo ortodoxo” ... adota primeiro
uma estratégia de rejudaização “por baixo” que leva seus discípulos a romper
com a sociedade local na vida diária e morar em guetos comunitários, tanto em Israel
como na diáspora” (p. 206) ... .
A partir de meados da década de 80, o
mundo haredi fez uma entrada triunfal no cenário político israelense (p.214)
... pois o mundo haredi era um universo
compexo minado por divisões internas. A rivalidade dos rabinos entre si os impediam
de formar frente unida diante de diversas expressões secularizadas do judaísmo
contemporâneo .. estes propõe que os mandamentos sagrados sejam observados
pelos judeus, mostrando a diferença daqueles em relação aos membros da sociedade que não observam os mandamentos.
Em Jerusalém, o Judaísmo “negro” aumenta
incessantemente sua influência, tantos nos bairros antigos como nas novas
cidades-dormitórios da periferia urbana.
Portanto, “no mundo Judeu, o acesso
político dos movimentos de afirmação religiosa “por baixo” ficou mais aberto a
partir de 1980....mas para além do Estado Judeu, esse modelo de acesso à
política apresentado pelos movimentos de rejudaização “por baixo” adquiriu
amplitude considerável na diáspora nos Estados Unidos, mais recentemente, na
França.... No mundo judeu, os bons resultados conseguidos pelo comunitarismo
contemporâneo devem muito ao fato de este haver recorrido a uma tradição que
culminou na vida autônoma do gueto, ampliada hoje pelos mais ortodoxos adeptos
da rejudaização” (p.227).
Conclusão
O aparecimento desses movimentos deu-se
num contexto de enfraquecimento das certezas nascidas dos progressos atingidos
pelas ciências e pelas técnicas desde a década de 50. Ao mesmo tempo, o grande
messianismo ateu do século XX, isto é, o comunismo, que exercera influência na
maior parte das utopias sociais, entrava em agonia e viria a sucumbir no outono
de 1989 com a destruição do muro de Berlim, seu símbolo por excelência.
Os movimentos cristãos, judeus e mulçumanos
que observamos se inscrevem nesta perspectiva dupla: no começo, dedicam-se a
dar nome à confusão e à desordem do mundo .... depois elaboram projetos de
transformação de ordem social, para deixá-la de acordo com as injunções ou os
valores da Bíblia, do Corão ou dos Evangelhos.
Interessa nos aqui “o ecumenismo para na
desqualificação da laicidade; além disso, os projetos de sociedade divergem,
depois tornam-se profundamente antagônicos, carregando em potencial lutas sem
misericórdia nas quais nenhuma doutrina de verdades pode dispensar os
compromissos, salvo perdendo o controle dos adeptos” (p.230-1).
Opinião final, os movimentos que vimos
possuíam projetos concretos de reconstrução do mundo. buscavam embasamento para
o projeto de sociedade nos textos sagrados. Contando com uma militância ativa,
a juventude, os educadores, leigos, cristãos, judeus e muçulmanos, se valendo
de uma proposta de retomada do poder “pelo alto” através de cúpulas ou ainda
“por baixo” com o apoio das comunidades.
É comum aos movimentos a crítica
contundente à época moderna, racionalismo, compondo os caminhos de cada
movimento traça não esconde a crítica dentro de sí mesmo e a outros
movimentos..
Esta obra, além de ser de agradável
leitura é didática, proporciona a compreensão da volta à disciplina de cada um
dos movimentos, o projeto e reestruturação de cada um deles a partir daquilo
que é mais importante: a tradição, o Livro sagrado, volta às fontes.
O momento não é de grande empreendimento
na reconquista do mundo, mas o conflitividade do relacionamento com o diferente
poderá acirrar-se numa guerra entre “crentes” que fazem da afirmação da
identidade religiosa o critério de Verdades tão exclusivas quanto
particulares... e sem dúvida alguma faz o caminho para totalitarismos hegemônicos
que não é aspiração da humanidade na atualidade, nem caminho ecumênico.
José
Igídio dos Santos - Av: Luiz Bácaro, 391 - 15.600-000 - Fernandópolis – SP - E-mail:
j.igidio@gmail.com
Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia, Psicopedagogo. Docente na Rede Estadual de São Paulo (SEESP) e na Faculdade de Educação, Ciências e Artes
Dom Bosco (FAECA), Monte Aprazível-SP, Especialista em PIGEAD – Planejamento, Implementação e Gestão
da Educação a Distância – pela Universidade Federal Fluminense – UFF-.RJ e
Tecnólogo Superior em Gestão Pública pela IFSC – SC – polo Jales-SP
O Autor é pesquisador do CNRS (Centre National de
Recherches Scientifiques) e professor do Instituto de Estudos Políticos de
Paris.
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