Filosofar-te:
o (des)encantamento do mundo
“A
educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das
sensibilidades... Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são
tolas e sem sentido” (RUBEM ALVES).
Um
dos educadores brasileiros nos convida a “educar as sensibilidades”. Penso que
a filosofia da arte contribui com isso particularmente, nós fazemos escolhas
teórica e buscamos referenciais que nos permite dizer a realidade. No campo estético
associa-se a percepção de mundo e esta não é igual para todos. O que mais toca
o ser humano é a realidade, “nua e crua”, tal como se apresenta, de posse disso,
penso que se nos deixarmos envolver pelos fenômenos que nos apresentam, veremo-nos
diante de um dilema: como encontrar beleza face a tantos horrores? E, nesta
dimensão a obra de arte sempre acompanha os momentos da história. Como não se
impressionar diante do expressionismo da obra de arte “O grito” (Edvard Munch)
que expressa os dramas existentes na humanidade, quando não é capaz de “amar o
próximo” e se deixa guiar pela ganância, usura e todos os desejos de
possessões, volúpia e escárnio da pessoa humana. Quando refere-se aos princípios e aos valores,
impõe-se a necessidade de dimensioná-la a partir da afetividade, tal como
afirma a professora, Maria Helena:
Os valores só
existem na área da afetividade, daquilo que nos afeta positiva ou
negativamente. A beleza, a feiura, a graça, a delicadeza, a força, o horror, a
sutileza, a crueza, a simetria são todos valores que podem estar presentes em
uma obra de arte, afetando-nos de maneira positiva ou negativa. (MARTINS, 2015, p. 8)
Ressaltar
a importância da arte é essencial para o desenvolvimento do ensino e
aprendizagem em filosofia da arte e estética, permitindo assim ao professor contextualizar
e considerar os conceitos artísticos ao longo da história, para melhor
entendimento do estudante de que “cada
obra de arte estabelece seu próprio tipo de beleza”, culturalmente.
Na antiguidade Grega a beleza conectava-se
com a natureza de onde emanava a ideia de mimese, que
para além do tosco significado de imitação, para Platão, era uma representação
e, para Aristóteles, poiésis, cuja ideia emanava da noção prática de
criatividade imitativa, inventividade a partir do nada. Na arte
medieval a perspectiva adotada é figurativismo de onde emana a ideia de estilização
devido a sobreposição das dimensões espirituais e religiosas, para Agostinho a
beleza era expressa pela “regularidade geométrica” e Tomas de Aquino diz que “a
essência da beleza constitui na resplandecência da forma sobre partes da
matéria proporcionalmente ordenadas”, ficando evidente a dimensão da
proporcionalidade. No Renascimento, valorizou-se
o naturalismo com a contribuição das ciências, adotando a perspectiva como
“simulacro da realidade”, visando representar com profundidade via terceira
dimensão, além da altura e largura. O Academicismo
do sec. XVII, na França, permitiu a “artistas e críticos” associar o seguir
a natureza com o seguir a razão, enfatizando a racionalidade, o que levou Kant,
no século seguinte a afirmar que “o belo é o que agrada universalmente, ainda
que não se possa justificá-lo intelectualmente” (MARTINS, 2015, p. 10). Kant descreveu
a estética romântica a partir dos valores da: genialidade como a capacidade criadora; imaginação captadora da realidade capaz de expressar com emoção e a
compreender o sentimento alheio e o
seu próprio.
Para além da dimensão subjetiva,
impõe-se a percepção de que o ter gosto visa e requer do sujeito “capacidade de julgamento sem preconceito” buscando
conhecer abrindo-se para o objeto estético, por meio da observação
entender “sua proposta, seus detalhes”, inebriando-se pelos sentidos e dar liberdade
à imaginação para vislumbrar as particularidades do que está sendo observado na
obra de arte.
A experiência
estética é, acima de tudo, a experiência da presença: de um lado o objeto de
arte que se oferece à nossa sensibilidade; de outro, o sujeito que se abre para
recebê-lo, a partir, sim, de seu contexto, mas sem impor-lhe normas ou
preconceitos (MARTINS, 2015, p. 15).
Fazer este percurso para a
aprendizagem estética permite ao professor e ao estudante um reencontro com a
filosofia da arte como questionadora do real e incitadora de transformações
sobre o “sentido do belo” e ainda, a compreensão de que a história dos homens é
acompanhada por meio das formas estéticas da “compreensão pelos sentidos”, da “faculdade de sentir” e da “percepção
totalizante” cujo padrões de beleza se vê o real na história que a humanidade
foi esculpindo ao longo de sua existência, sem deixar de demonstrar o
desencantamento da realidade mediante atrocidades sociais presentes neste seu caminhar
claudicante, pois “a arte trabalha a partir do pensamento divergente que
considera várias hipóteses para cada situação” (MARTINS, 2015, p.17).
Questões para aprofundamento
1 – Qual é a sua percepção sobre a
arte na história?
2 - Ao longo da história podemos ressaltar a singularidade da arte. Como podemos atualizá-la a partir de cada momento histórico? Quais elementos são necessários para compreender a história a partir da arte?
Bibliografia consultada:
MARTINS, M.H.P, O ensino de Filosofia da Arte ou
Estética, I, 18 p.2015.