quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

REDES SOCIAIS: O VOO DA CONECTIVIDADE E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE

 

REDES SOCIAIS: O VOO DA CONECTIVIDADE E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE

                                                                                          Prof. José Igídio dos Santos[1]

1. Decolagem: As Redes Sociais Como Fatos Sociais e Hábitos Estruturados

 

As redes sociais são frequentemente vistas como um hábito pessoal, uma escolha individual de cada usuário sobre como interagir, se informar e se expressar. No entanto, a sociologia nos ensina que esse comportamento não ocorre de forma isolada, mas sim dentro de um contexto social estruturado por normas, valores e mecanismos de controle.

Durkheim, ao conceituar os fatos sociais, descreve-os como formas de agir, pensar e sentir que transcendem o indivíduo, exercendo um poder coercitivo sobre ele. Assim, o uso das redes sociais se insere nesse contexto, pois a necessidade de estar conectado, de interagir digitalmente e de expor aspectos da vida pessoal é, em grande parte, uma imposição da própria sociedade contemporânea.

"Os fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo pelo qual se impõem." (Durkheim, 1895)

Por outro lado, Bourdieu, com sua teoria do habitus, nos mostra que nossas práticas cotidianas são moldadas por estruturas sociais específicas, tornando o uso das redes uma disposição durável e transponível. O hábito de checar constantemente o celular, de compartilhar momentos e de buscar validação digital não surge do nada, mas sim de uma estrutura social que naturaliza essas práticas e as insere como parte da identidade dos indivíduos.

 

2. Reunindo a Tripulação: Construção da Identidade e Gestão da Imagem Online

 

Se, na realidade, desempenhamos papéis sociais de acordo com o contexto, nas redes sociais essa performance se intensifica. O interacionismo simbólico de Mead nos ensina que a identidade se constrói a partir da interação com os outros, e Goffman, com sua teoria da representação do eu, argumenta que a vida social pode ser comparada a um teatro, onde os indivíduos ajustam suas expressões para manter uma determinada imagem diante dos outros.

"A vida cotidiana é um palco, e todos somos atores desempenhando papéis sociais." (Goffman, 1959)

 

Nas redes sociais, essa lógica se intensifica. Os usuários selecionam cuidadosamente o que postam, como interagem e quais aspectos de suas vidas expõem, moldando uma versão pública de si mesmos. Isso reforça a necessidade de gerenciar a própria imagem, muitas vezes levando a um comportamento estratégico para obter aceitação social. Os filtros, as edições de fotos e as postagens planejadas são exemplos claros de como as redes sociais funcionam como um palco digital onde cada um busca desempenhar o papel mais adequado às expectativas sociais.

 

3. Levantando Voo: A Influência das Redes na Experiência Cotidiana

 

A fenomenologia social de Schutz nos ajuda a entender como a realidade social é construída por meio das experiências individuais dentro de um contexto intersubjetivo. Isso significa que a forma como percebemos o mundo e interagimos com ele é profundamente influenciada pelas redes sociais.

"O mundo da vida é um espaço intersubjetivo compartilhado, onde os indivíduos constroem significados." (Schutz, 1967)

O uso constante da tecnologia modifica as interações cotidianas e cria novos padrões de sociabilidade. Relações interpessoais que antes se davam majoritariamente no espaço físico agora são mediadas por telas, emojis e curtidas. Além disso, a forma como as informações são consumidas e compartilhadas muda a percepção da realidade, pois os algoritmos influenciam quais conteúdos chegam até os usuários, criando bolhas informacionais e reforçando determinados padrões de pensamento e comportamento.

 

4. Voo Panorâmico: Estatísticas e o Poder dos Algoritmos

 

A sociedade digital contemporânea é fortemente moldada por algoritmos que direcionam os conteúdos consumidos. Como argumenta Castells, a sociedade em rede cria novos modos de sociabilidade e também de controle, onde os dados dos usuários são utilizados para direcionar publicidade, comportamento e até mesmo opiniões políticas.

"O poder na era digital é exercido por meio do controle da informação." (Castells, 1996)

 

5. Voo Rasante: Impactos Emocionais e Sociais do Uso Excessivo das Redes

 

Baumann, por sua vez, com sua teoria da modernidade líquida, argumenta que vivemos em uma sociedade marcada pela fluidez das relações e pela busca incessante por novas conexões. Isso se reflete no uso das redes sociais, onde a necessidade de manter-se conectado e visível pode gerar ansiedade e insegurança.

"Vivemos tempos líquidos. Nada é feito para durar." (Baumann, 2000)

 

Conclusão: O Pouso e a Reflexão Sobre o Uso Consciente das Redes

 

Compreender como as redes sociais moldam a percepção da realidade e influenciam comportamentos é essencial para um uso mais consciente e crítico dessas ferramentas, garantindo que a tecnologia seja um recurso de conexão, e não um fator de alienação.

 

Bibliografia Consultada

 

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 1996.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1959.

SCHUTZ, Alfred. Fenomenologia e relações sociais. São Paulo: Edusp, 1967.

 [1] Filósofo, Assessor Pedagógico no Município de Fernandópolis, Psicopedagogo, Superior em Gestão Pública, Professor na Rede Pública Estadual e Nível Superior.