REDES SOCIAIS: O VOO DA CONECTIVIDADE E SEUS
IMPACTOS NA SOCIEDADE
1.
Decolagem: As Redes Sociais Como Fatos Sociais e Hábitos Estruturados
As redes
sociais são frequentemente vistas como um hábito pessoal, uma escolha
individual de cada usuário sobre como interagir, se informar e se expressar. No
entanto, a sociologia nos ensina que esse comportamento não ocorre de forma
isolada, mas sim dentro de um contexto social estruturado por normas, valores e
mecanismos de controle.
Durkheim,
ao conceituar os fatos sociais, descreve-os como formas de agir, pensar e
sentir que transcendem o indivíduo, exercendo um poder coercitivo sobre ele.
Assim, o uso das redes sociais se insere nesse contexto, pois a necessidade de
estar conectado, de interagir digitalmente e de expor aspectos da vida pessoal
é, em grande parte, uma imposição da própria sociedade contemporânea.
"Os
fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e
dotadas de um poder coercitivo pelo qual se impõem." (Durkheim, 1895)
Por outro
lado, Bourdieu, com sua teoria do habitus, nos mostra que nossas práticas
cotidianas são moldadas por estruturas sociais específicas, tornando o uso das
redes uma disposição durável e transponível. O hábito de checar constantemente
o celular, de compartilhar momentos e de buscar validação digital não surge do
nada, mas sim de uma estrutura social que naturaliza essas práticas e as insere
como parte da identidade dos indivíduos.
2.
Reunindo a Tripulação: Construção da Identidade e Gestão da Imagem Online
Se, na
realidade, desempenhamos papéis sociais de acordo com o contexto, nas redes
sociais essa performance se intensifica. O interacionismo simbólico de Mead nos
ensina que a identidade se constrói a partir da interação com os outros, e
Goffman, com sua teoria da representação do eu, argumenta que a vida social
pode ser comparada a um teatro, onde os indivíduos ajustam suas expressões para
manter uma determinada imagem diante dos outros.
"A
vida cotidiana é um palco, e todos somos atores desempenhando papéis
sociais." (Goffman, 1959)
Nas redes
sociais, essa lógica se intensifica. Os usuários selecionam cuidadosamente o
que postam, como interagem e quais aspectos de suas vidas expõem, moldando uma
versão pública de si mesmos. Isso reforça a necessidade de gerenciar a própria
imagem, muitas vezes levando a um comportamento estratégico para obter
aceitação social. Os filtros, as edições de fotos e as postagens planejadas são
exemplos claros de como as redes sociais funcionam como um palco digital onde
cada um busca desempenhar o papel mais adequado às expectativas sociais.
3.
Levantando Voo: A Influência das Redes na Experiência Cotidiana
A
fenomenologia social de Schutz nos ajuda a entender como a realidade social é
construída por meio das experiências individuais dentro de um contexto
intersubjetivo. Isso significa que a forma como percebemos o mundo e
interagimos com ele é profundamente influenciada pelas redes sociais.
"O
mundo da vida é um espaço intersubjetivo compartilhado, onde os indivíduos
constroem significados." (Schutz, 1967)
O uso
constante da tecnologia modifica as interações cotidianas e cria novos padrões
de sociabilidade. Relações interpessoais que antes se davam majoritariamente no
espaço físico agora são mediadas por telas, emojis e curtidas. Além disso, a
forma como as informações são consumidas e compartilhadas muda a percepção da
realidade, pois os algoritmos influenciam quais conteúdos chegam até os
usuários, criando bolhas informacionais e reforçando determinados padrões de
pensamento e comportamento.
4. Voo
Panorâmico: Estatísticas e o Poder dos Algoritmos
A
sociedade digital contemporânea é fortemente moldada por algoritmos que
direcionam os conteúdos consumidos. Como argumenta Castells, a sociedade em
rede cria novos modos de sociabilidade e também de controle, onde os dados dos
usuários são utilizados para direcionar publicidade, comportamento e até mesmo
opiniões políticas.
"O
poder na era digital é exercido por meio do controle da informação."
(Castells, 1996)
5. Voo
Rasante: Impactos Emocionais e Sociais do Uso Excessivo das Redes
Baumann,
por sua vez, com sua teoria da modernidade líquida, argumenta que vivemos em
uma sociedade marcada pela fluidez das relações e pela busca incessante por
novas conexões. Isso se reflete no uso das redes sociais, onde a necessidade de
manter-se conectado e visível pode gerar ansiedade e insegurança.
"Vivemos
tempos líquidos. Nada é feito para durar." (Baumann, 2000)
Conclusão:
O Pouso e a Reflexão Sobre o Uso Consciente das Redes
Compreender
como as redes sociais moldam a percepção da realidade e influenciam
comportamentos é essencial para um uso mais consciente e crítico dessas
ferramentas, garantindo que a tecnologia seja um recurso de conexão, e não um
fator de alienação.
Bibliografia Consultada
BAUMAN,
Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
BOURDIEU,
Pierre. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 1996.
CASTELLS,
Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
DURKHEIM,
Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
GOFFMAN,
Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1959.
SCHUTZ,
Alfred. Fenomenologia e relações sociais. São Paulo: Edusp, 1967.