OS MOVIMENTOS POLÍTICO-PEDAGÓGICOS E A VOLTA DO ENSINO DE FILOSOFIA:
CONQUISTAS, DESAFIOS E INQUIETUDES
Silenciadas e relegadas à parte optativa durante anos, a
Filosofia e Sociologia tiveram seu retorno ao currículo do Ensino médio por
meio de lutas históricas vinculadas ao esforço e mobilização dos profissionais
da área, envolvendo mecanismos políticos e movimentos sociais desde década de
70. Garantidas nos dias atuais por força da Lei, são conteúdos integralizados a
parte obrigatória do currículo nacional. O
contexto desta mobilização nacional nos situa no período da redemocratização do
país, passados os algozes da ditadura, tempo de silêncio obsequioso e de
clandestinidade intelectual à medida que se estruturavam os movimentos
democráticos que impunham suas bandeiras de luta atingindo os âmbitos político
e cultural.
De posse deste direito cumpre-nos como professores e
sociedade cobrar politicas educacionais para que o sucesso da reinclusão dos
componentes curriculares no escopo dos conteúdos da parte obrigatória da
proposta educativa realize sua missão, tarefa que só se corroborará se houver professores
que tenham formação específica, didática e cultural para o exercício do
magistério.
Com a proposta
atual de formação o foco é que os currículos sejam mediatizados pela
caracterização do ensino por competências; nos alerta Perrenoud apud COSTA (2005,
p.3) que o ensino (...) deve construir uma relação com o saber menos pautada em
uma hierarquia baseada no saber erudito descontextualizado, visto que os
conhecimentos sempre se ancoram, em última análise, na ação.
Segundo
Machado, apud COSTA 2005:
(....) no
currículo voltado para a construção de competências, o que importa não é a
transmissão do conhecimento acumulado, mas sim a virtualização de uma ação, a
capacidade de recorrer ao que se sabe para realizar o que se deseja, o que se projeta
(COSTA, 2005 p. 3).
Esta compreensão
vem ao encontro de uma critica a proposta educativa da filosofia feita por Maria
Célia Simon:
Ensinou-se quase sempre no Brasil, nas
escolas de nível médio, uma filosofia marcada pela ausência de raízes culturais,
alheia às condições sociais e ao contexto histórico da realidade do país.
Aliás, esse ensino nada mais era do que um reflexo do que se fazia no Brasil em
termos de filosofia (mas não só em filosofia!). Uma produção que se limitava a
explicitar e a contar a história da filosofia produzida na Europa ou que, otimisticamente,
chegava a uma reflexão sobre as grandes questões colocadas pelos filósofos
europeus, sem, entretanto, confrontá-las com o contexto histórico brasileiro (SIMON
,1986, p. 14):.
Nos tempos
atuais os desafios se avolumam quando deparamos com a realidade das escolas com
professores não habilitados em filosofia que assumem o trabalho para completar
sua carga horária, sem falar que a pouca valorização do professor educador tem
levado muitos a buscarem alternativas profissionais fora do magistério. Com
esperança vemos a perspectiva de Gadotti, 2002 “a educação escolar nos tempos
atuais deve incluir os aspectos da multiculturalidade em vista de buscar a
igualdade sem eliminar as diferenças” (p.13), de modo que, “a educação enquanto
prática fundamental da existência histórico-cultural dos homens possa ser pensada
continuamente” (p.12).
Precisamos
passar da prédica para a práxis, há muito que se fazer, mas sem condições de
trabalho e valorização profissional o fosso entre a realidade da educação sem
professores habilitados aliadas a disposição profissional para atuar na escola
pública será intransponível. É preciso que haja maior zelo político para a contratação
dos professores em todas as áreas educativas.
Bibliografia
consultada
SIMON, Maria
Célia. In.: HÜHNE, Leda Miranda (org). Política da Filosofia no
2º
grau.
São
Paulo: SEAF/Ed. Sofia, 1986.
Almeida Costa, Thais. A noção de competência
enquanto princípio de organização curricularRevista Brasileira de Educação
[On-line] 2005, (maio-ago;) : [Data de consulta: 2 / febrero / 2014] Disponível
em:<http://estudiosterritoriales.org/articulo.oa?id=27502905> ISSN
1413-2478
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo:
Ática,2002.
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