Restrição do Uso de
Celulares na Sala de Aula na Rede Estadual de São Paulo: Impactos,
Controvérsias e Desafios Pedagógicos
Prof. José Igídio dos
Santos[1]
1.
Introdução
A proibição do uso de celulares na sala de
aula na rede estadual de ensino de São Paulo reacendeu debates sobre os
impactos da tecnologia na educação. Enquanto alguns defendem a medida como
essencial para melhorar a concentração e o desempenho dos estudantes, outros
argumentam que a restrição fere o direito de acesso à informação.
Esse cenário se torna ainda mais complexo
quando consideramos que a própria Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
(Seduc-SP) investe em plataformas digitais como parte do processo de ensino.
Recursos como Khan Academy, Plataforma de Leitura, Redação e Inglês,
além do Centro de Mídias SP, foram implementados para potencializar a
aprendizagem. No entanto, a falta de dispositivos suficientes, como tablets e Chromebook,
gera um dilema: como restringir o uso do celular sem comprometer o acesso a
essas ferramentas educacionais?
A restrição ao uso de celulares na sala de
aula não é um tema recente. Em 2007, São Paulo foi pioneiro ao sancionar a Lei
nº 12.730, que proibia o uso de celulares para fins não pedagógicos. No
entanto, sua aplicação foi limitada.
No cenário global, a França implementou, em
2018, uma proibição nacional do uso de celulares em escolas públicas,
influenciando debates em outros países, incluindo o Brasil. Durante a pandemia
de COVID-19, a digitalização da educação levou ao aumento do uso de
dispositivos móveis no ensino brasileiro. Com o retorno às aulas presenciais,
autoridades educacionais passaram a buscar um equilíbrio entre a tecnologia e a
necessidade de foco e concentração dos estudantes, resultando em novas legislações
e diretrizes.
Evolução da Regulamentação no Brasil
- 2007:
São Paulo sanciona a Lei nº 12.730, proibindo o uso de celulares durante
as aulas na rede estadual de ensino.
- 2017:
A Lei nº 16.567 modifica a norma anterior, permitindo o uso de celulares
para atividades pedagógicas.
- 2023:
A Secretaria da Educação de São Paulo reforça a restrição com a Resolução
Seduc-27/2023, baseada em estudos que apontam impactos negativos dos
celulares na aprendizagem e na atenção dos estudantes.
- 2024:
O governador Tarcísio de Freitas sanciona a Lei nº 18.058, proibindo o uso
de celulares e outros dispositivos eletrônicos em escolas públicas e
privadas do estado.
- 2025:
A Secretaria da Educação de São Paulo (Seduc-SP) estabelece diretrizes
para a aplicação da Lei Estadual nº 18.058/2024 e da Lei Federal nº
15.100/2025, que entra em vigor neste ano letivo, visando aprimorar a
concentração dos estudantes e proteger sua saúde mental.
Essa evolução reflete um movimento
crescente de regulamentação do uso de dispositivos móveis no ambiente escolar,
com o objetivo de minimizar distrações e melhorar o aprendizado.
Diversos estudos apontam que a restrição do
uso do celular na sala de aula pode trazer benefícios, tais como:
· Melhora
na concentração: Pesquisas da Universidade de Londres
indicam que escolas que restringem o uso do celular tiveram aumento de até 6%
no desempenho acadêmico.
· Redução
da indisciplina: Relatórios da OCDE mostram que ambientes
escolares sem distrações digitais promovem melhor comportamento e maior
interação entre estudantes e professores.
· Menos
ansiedade e cyberbullying: Estudantes que passam menos tempo
conectados durante a aula relatam menor pressão social e menor incidência de
conflitos gerados pelas redes sociais.
A restrição do uso do celular tem
apoiadores e críticos, refletindo a complexidade da questão.
Prós:
· Maior
foco no aprendizado.
· Melhoria
na socialização entre os estudantes.
· Redução
de plágio e uso indevido de inteligência artificial em avaliações.
· Prevenção
da dependência digital.
Contras:
· Cerceamento
da autonomia dos estudantes.
· Inconsistência
pedagógica, já que o próprio governo incentiva plataformas digitais.
· Falta
de alternativas tecnológicas, pois muitas escolas não possuem dispositivos
suficientes para suprir a demanda dos estudantes.
A legislação federal não estabelece uma
proibição específica para o uso de celulares nas escolas, mas orienta
diretrizes para o uso pedagógico da tecnologia. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9.394/1996 prevê a autonomia dos estados e
municípios na definição de normas para a gestão escolar, o que permite que São
Paulo regulamente o uso dos celulares em sua rede estadual.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
reforça a importância do uso crítico e responsável da tecnologia na educação, o
que justifica que a proibição não seja absoluta, mas permita exceções para uso
pedagógico.
O grande desafio pedagógico da medida é
garantir que a restrição ao celular não prejudique o acesso à tecnologia para
fins educacionais. Algumas soluções possíveis incluem:
· Fornecimento
adequado de dispositivos: O governo deve ampliar a distribuição
de tablets e Chromebooks para garantir equidade digital.
· Criação
de espaços tecnológicos: Laboratórios de informática
acessíveis poderiam ser uma alternativa para permitir o uso da tecnologia sem
comprometer a disciplina em sala de aula.
· Capacitação
docente: Os professores precisam ser treinados para integrar
metodologias ativas com tecnologia, sem depender exclusivamente do celular dos
estudantes.
· Flexibilização da regra: Algumas escolas poderiam adotar um modelo híbrido, permitindo o uso do celular em momentos específicos para atividades pedagógicas supervisionadas.
7. Desafios na Implementação da Medida
Apesar dos potenciais benefícios, a
implementação da restrição enfrenta desafios práticos e pedagógicos, como:
· Falta
de fiscalização: Professores e gestores encontram
dificuldades para controlar o uso de celulares sem gerar conflitos com os
estudantes.
· Adaptação
dos estudantes: Muitos jovens estão habituados a utilizar
o celular como ferramenta principal de estudo, o que torna a transição para
outras tecnologias desafiadora.
· Integração
curricular: É necessário que os currículos escolares
sejam ajustados para incluir estratégias eficazes de ensino sem depender
exclusivamente do celular.
8. Considerações Finais
O uso de celulares na educação deve ser
analisado sob diferentes perspectivas. Enquanto a restrição pode garantir maior
concentração dos estudantes e reduzir problemas como distração e cyberbullying,
o uso pedagógico dos dispositivos móveis pode enriquecer a aprendizagem e
aproximar a escola das novas tecnologias.
A restrição do uso de celulares na sala de
aula na rede estadual de São Paulo levanta questões importantes sobre
disciplina, aprendizagem e acesso à tecnologia. Embora a medida tenha
fundamentos sólidos, sua implementação precisa considerar as realidades da
escola pública e o papel crescente da tecnologia na educação. Sem investimentos
em infraestrutura digital, a restrição pode ampliar desigualdades e comprometer
a inovação pedagógica.
O verdadeiro desafio não é simplesmente
proibir ou liberar os celulares, mas encontrar um equilíbrio que permita o uso
consciente da tecnologia, garantindo que todos os estudantes tenham acesso ao
aprendizado digital de forma estruturada e inclusiva.
[1]
Filósofo, Assessor Pedagógico no Município de Fernandópolis, Psicopedagogo,
Superior em Gestão Pública, Professor na Rede Pública Estadual e no Nível
Superior.
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