domingo, 19 de abril de 2009

Filosofia: diaconia educacional



José Igídio dos Santos [1]

Quantos de nós já nos inquietamos com a questão: Por que estudar filosofia?! Buscar uma resposta satisfatória a esta indagação é um desafio para a uma sociedade imediatista e consumista como a nossa, pois existe um descaso pelo pensar filosófico, mas, via de regra a filosofia serve-se aos mais conscientes como mecanismo de enfrentamento em vista de encarar a realidade com inquietude e insatisfação, face aos desvios éticos, políticos, culturais a que estamos submetidos. No contexto hodierno é temerário atuar no mundo da sabedoria questionando proposituras e posturas que expulsem o imediatismo e instaurem a civilidade e a capacidade de conviver entre os saberes que questiona “o saber instituído”.
O filósofo, conforme já anunciava Pitágoras, não é um “atleta intelectual”, o seu compromisso é com o desenvolvimento do pensamento reflexivo em vista dos diversos contextos para nos ajudar a compreender os múltiplos aspectos da realidade da vida humana, social, política, econômica, cultural, icônica, tecnológica e antropológica, só para citar alguns nichos...
Ser filósofo profissional na atual sociedade é uma diaconia instauradora do pensamento sistemático. Verdadeiramente, no Brasil todos os profissionais em educação que se dedicam ao ensino-aprendizagem são pouco reconhecidos e valorizados, o que não ocorre entre os “políticos profissionais” e diversos profissionais liberais que são ovacionados, além de muito bem remunerados. Mas, aqui queremos enfatisar que “ninguém” existe profissionalmente sem o prévio auxílio e intervenção de educadores, profissionais da área pedagógica.
Vemos por conta disso, a mudança de foco de muitas Instituições de Ensino Particulares e algumas Estaduais, que no Ensino Médio impõem uma metodologia bancária focada no vestibular e não nas habilidades e competências, proposta que possibilitaria aos educandos enfrentar as (in)certezas do momento presente. Concorre com isso, com raras exceções, o fator familiar, no qual desde muito tempo a maioria das famílias vem “desistindo dos filhos”, pois ao matriculá-los numa escola pública ou particular, muitas vezes, se esquecem de educá-los para os princípios fundamentais da convivência humana e isto é detectado no dia-a-dia escolar e social, vemos a incapacidade dos alunos em dialogar com respeito a si e aos outros; intolerância ao silêncio, inquietude eletrônica, uso do celular, mesmo que proibido, para enviar torpedos dentro da sala de aula e ainda audição de músicas com ou sem fones de ouvido.
Por estes fatos, constatamos a falência da educação de base, muitos pais desistiram de seus filhos e os entregaram às instituições escolares se eximindo da cotidianidade, do acompanhamento formativo de princípios e valores.
Realmente, o que existe na sociedade brasileira é ainda uma educação que reforça as desigualdades sociais, classificando e excluindo.
Existem muitas mudanças em processo na área educacional, mas, não é possível vermos resultados imediatos, pois o professor vive parte de sua vida em ambiente de trabalho estressante, competitivo e muitas vezes a sua função primordial é desviada para os cuidados aos princípios educacionais que os pais ou responsáveis deixam de cumprir pela incapacidade de impor limites aos seus rebentos e de educá-los para os princípios básicos da convivência entre os humanos: respeito, compreensão, polidez, doação, partilha e gentileza.
Fazendo um adendo nesta reflexão: o que podemos constatar é que nossa atual ação educativa é colocada em xeque mediante a impossibilidade de uma prática pedagógica contextualizada aos paradigmas atuais. Como educadores concorremos com a emergência das novas tecnologias e constatamos que há uma inadequação de nossas práticas metodológicas, o que abre um fosso entre a teoria e a prática. Cada Instituição Educacional precisaria se adequar face aos recursos possíveis e os disponíveis, para tanto, é preciso investir em tecnologia educacional nas escolas, instalando, por exemplo: lousa eletrônica, retroprojetores, além de facultar o acesso à internet à todos alunos, que deveriam ter um computador de uso educacional na escola, conectados a sitios educacionais. Além disso, oportunizar aos profissionais em educação formação e atualização tecnológica . Sabemos que para recuperar esse fosso entre a teoria e a prática é necessário mais que boa vontade, são imprescindíveis ações políticas conscientes e urgentes.
Mesmo com a impossibilidade de vislumbrar de imediato esses quesitos prenunciados para a qualidade educacional temos a tarefa de ajudar os educandos a serem capazes de adquirir formação humana, ética e moral que os façam cidadãos do mundo.
Vemos que está em curso uma nova perspectiva no Ensino Brasileiro ao investir mais em Ensino Público de qualidade para todas as classes sociais, oportunizando espaço adquirido por meio de lutas históricas para disciplinas humanista tais quais: Filosofia, Sociologia e Psicologia. Os profissionais da educação formados nas áreas humanistas devem ser valorizados na especificidade de sua formação e para tanto, é importante que a Escola Pública e as Escolas Particulares valorizem tais profissionais posto que sua capacitação profissional pode colaborar indubitável e imensuravelmente com a educação e com o desevolvimento humano.
Sabemos que uma ação não exclui a outra. É preciso buscar excelência educacional, inclusão tecnológica e consciência social, para que tenhamos um País isento de desigualdade social e rico em oportunidades para todos.
Infelizmente, existe uma acomodação intelectual e deixamos de pensar de forma múltipla o contexto vital de nossa existência, e é justamente neste âmbito que se faz necessária a emergência do filosofar, pois a vida humana pede socorro e nós estamos insensíveis ao eco da vida que emana das diversas faces da realidade. Como sabemos pela história: é a filosofia a mãe de todas as ciências e percebemos que muitas ciências parecem dela prescindir, e por conta desta postura instauraram novas ditaduras no conhecimento, supervalorizando mais exatas e biológicas à letras, pensamento sistemático e raciocínio filosófico. Na vida real é assim: toda mãe aguarda a volta do rebento de seu ventre e para isso dá lugar à sua sapiência em busca de uma nova relação de amor pela sabedoria questionadora do real. Este processo poderá ampliar a capacidade do sujeito cognoscente que busca o desenvolvimento do espírito crítico em face da realidade, superando a forma pacata de aceitação do real, buscando assim, o exercício da autonomia por meio da consciência de que muitas situações reais podem ser diferentes se não houver conivência humana e que podemos agir de forma diversa da costumeira. É hora de instaurar a realidade do pensamento filosófico como diaconia a serviço da sabedoria, para isso, deixemos os humanistas (filósofos, sociólogos e psicólogos) trabalhar na mensuração da realidade social e humana. Notaremos que todas as disciplinas ganharão mais eficácia na realidade concreta e principalmente no aspecto humano e social.
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[1] Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Psicopedagogo, Professor Universitário na FAECA de Monte Aprazível e no Ensino Médio na Rede Estadual de São Paulo.

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