CONSCIENCIA POLÍTICA: O CRIVO PELO VOTO
José
Igídio dos Santos [i]
“O preço a pagar pela tua não
participação na política é seres governado por quem é inferior”. Platão. (c.
428-347 a.C).
A compreensão sobre a política, remete à sua
etimologia que é haurida do grego antigo e faz referência às práticas e ações vinculadas
à pólis, ou à cidade-estado, em
sentido amplo, pode referir-se tanto
a Estado, quanto à sociedade; e em sentido estrito à comunidade e procedimento
de definições do que se refere à vida humana.
Contemporaneamente
Hannah Arendt, filósofa alemã (1906-1975), caracterizava a política como
"convivência entre diferentes", pois baseava-se "na pluralidade
dos homens", fundamentando o entendimento de que é necessário respeito à alteridade em relação a pluralidade e tal propósito implica aceitar
a coexistência de diferenças, pois a igualdade a ser alcançada através do exercício de interesses,
quase sempre conflitantes, é a liberdade e não a justiça, pois a liberdade
distingue "o convívio dos homens na pólis
de todas as outras formas de convívio humano bem conhecidas pelos gregos"
( ARENDT, p.12, 2002)
Na
percepção de Nicolau Maquiavel (1469-1527) historiador, filósofo e político
italiano, em sua obra "O Príncipe" que se tornou
um manual sobre a arte de governar, apresenta o caminho para a manutenção no
poder com máxima de que “os fins justificam os meios” , tal compreensão ressalta,
entre outros aspectos, que a política fundamenta-se em desenvolver estratégias
para o exercício do poder, ser aceito pelos súditos e ainda conquistar o amor
dos concidadãos pelos quais o príncipe deve ser amado e temido simultaneamente,
dessa forma conquistaria a arte da governabilidade.
Na
epígrafe deste ensaio, retomo a concepção de Platão (427 a.C. - 347 a.C.) filósofo do período
clássico da história da filosofia, discípulo de Sócrates,
exímio escritor de diálogos que deu voz a seu mestre Sócrates, que nada
escreveu, é construtor de um pensamento próprio, desde a “República”,
considerada a primeira Utopia da história. Era visionário de
uma proposta de sociedade fundamentada no modelo organicista, em que cada qual
deve exercer a função a que é destinado, a partir dos estamentos, mas com
possibilidade de ascensão social por meio da educação.
No
Brasil, a atual situação política, parece impor aos cidadãos a necessidade de
adotar propósitos para uma ação democrática que inclui não exclusivamente, mas
essencialmente a sua participação nas decisões dos rumos do País, do Estado membro
e a seu tempo também dos Municípios. Essa tomada de decisão se insere num
contexto de desilusão com a política. É notório ao acompanharmos os noticiários
midiáticos os fatos e atos políticos que são escandalosamente apresentados, nos
deixando indignados, pois a maioria dos políticos fizeram da missão de servir na
“administração pública” uma empresa pessoal, na qual seu interesse e interesse de
seus aliados se sobrepõem ao ideário da política concreta – servir a todos os
cidadãos.
A sociedade atual é como um barco à deriva,
lhe falta engajamento, o país está vivenciando um momento de apatia social, em que a população assume posturas tais como:
“não vi”, “não ouvi”, “não sei dizer” e devido aos muitos escândalos e
impunidade presentes nos três poderes, favorecendo sobretudo aos políticos
corruptos e os corruptores dos mais diversos nichos sociais, de empresários à
instituições públicas, vê-se posturas de apatia política, e tais posturas
têm se tornado prejudiciais ao desenvolvimento da cidadania plena, que
requer nossa participação na política, tanto afetiva como efetivamente,
pautando nossa prática cidadã em critérios éticos e morais, em vista de uma sociedade
justa e equânime.
Contemporaneizando
Platão, nossa omissão em participar da política traz um prejuízo social que é
pago com mal serviço prestado à população. E, sabemos muito bem que é por meio
do voto de assinamos uma procuração com amplos poderes para proporcionar a
todos uma vida cidadã implementada pelas ações dos políticos no Legislativo que
criarão as leis e do Executivo colocarão em prática as ações sociais e
políticas públicas que devem tornar a vida dos brasileiros mais agradável.
Nossa
escolha é para o mínimo de quatro anos com consequências mais duradouras que
este período, daí a necessidade de levar a sério o voto, para tanto, é imprescindível
que nos preocupemos em analisar a vida pregressa dos candidatos que se dispuseram a concorrer para assumir a função
pública, com o nosso voto delegamos à alguns a missão de nos representar e dessa forma devemos nos comprometer a não escolher
pessoas inexperientes, inescrupulosas, ignorantes e incompetentes para dirigir os rumos da sociedade e de nossas
vidas, pois sabemos que “o voto não tem
preço, tem consequências”.
Uma
preocupação que deve nos acometer sempre é que vivemos em uma sociedade do
espetáculo, do voyeurismo, na qual grande
parte da população adota uma postura de distanciamento da política, deixando de
lado a oportunidade de auxiliar na escolha dos rumos do nosso país. O processo
de alienação se instaura quando por exemplo, um número considerável de
brasileiros vê passivamente programas de reality
show, tal como BBB, analisando a vida dos participantes do programa e
votando os destinos dos mesmos. Esses mesmos adeptos do voyeurismo não
conseguem, em momento de campanha eleitoral, ver e ouvir quais são as propostas
dos candidatos que venham ao encontro dos anseios da população, para então
analisar se há correspondência entre a sua candidatura e os anseios do povo
independentemente da sigla partidária.
Obviamente
que não é só o horário eleitoral um balizador de nossas escolhas , alia-se a este
uma pesquisa sobre o candidato, suas atitudes sociais, seus planos e propostas
de gestão da coisa pública, e mesmo assim procedendo não há certeza de que faremos
a escolha correta, portanto, torna-se imprescindível que acompanhemos aqueles aos
quais elegemos durante o seu mandato,
cobrando a execução das proposições feitas durante o período de campanha, mas
infelizmente muitos eleitores, escolhem em quem
votar no dia da eleição por meio de
escolhas aleatoriamente e votam em qualquer “ santinho” abandonados próximos aos locais de votação.
A
conscientização acerca da importância e valor do voto é uma bandeira que a
sociedade precisa abraçar, demonstrando o seu caráter inviolável,
incorruptível, promotor da justiça social, superando o modelo clientelista que
faz de muitos “eleitores” vendedores de suas consciências. É chegado o momento
de fazer das eleições a elevação do nível de conscientização social e política
para que as elites oligárquicas que fizeram da política um “emprego certo’
possam ser desbancadas pela arma mais poderosa que nós temos. É o voto
consciente, refletido que nos auxiliará a melhor selecionar nossos
representantes na esfera política que, acompanhado pelos cidadãos serão fiscalizadores
dos resultados de seus feitos.
Bibliografia consultada
ARENDT, Hannah. O que é política? / Hannah Arendt; Ed; Ursula Ludz, trad. Reinaldo Guarany. - 3'
ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 240 p.
PLATÃO. A República. Col. Os pensadores, Trad.
Maria Helena da Rocha pereira. 9° edição. 2005
MAQUIAVEL. N. O
Príncipe . Col. Os pensadores, ed.
Nova Cultural, 1999.
[i] Licenciado em Filosofia (UNICLAR),
Especialista no ensino de Filosofia
(UFSCar-SP) , Especialista
em PIGEAD - Planerjamento e Implementação da EAD (UFF),
Bacharel em Teologia, Psicopedagogo, Tecnólogo Superior em Gestão Pública.
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